Proibido não ler
Se existe alguma serventia em fumar é a exigência atual de que se trague longe de todos, segregado, de preferência ao ar livre, de cara para o léu. Coitado, um viciado, precisa de seus minutos fora das quatro paredes corporativas para dar baforadas brancas como as nuvens, porém fedidas como... escapamentos?
Vá eu dizer que sou viciada em conferir o céu da hora para ver se tenho chancela de sair duas, três, quatro vezes da sala para apreciar o horizonte? Nananinanão... Mas não me importo. Vagueio entre os parcos fumantes escorados nas pilastras, sentados nos cantinhos à sombra e tiro minhas fotos. Porque vício, mania, comichão, paúra, larica, TOC só a bailarina que não tem (eis a razão porque voltei às aulas de balé).
Mas não deixa de ser um pouco
solitário e triste (perceba que não acho que ser solitário é ser triste), a
vida de fumante. Antes, ninguém fumava só. Hoje, é de lei. É legal ver que as
campanhas de conscientização têm feito um trabalho de persuasão eficiente. Menos
pessoas ainda não abrem mão do cigarro. A pressão em cima dos resistentes é grande.
Eles devem se sentir uma minoria incômoda, penso eu. Talvez nem liguem e sou eu quem fico com pena deles, incompreendidos na busca de doses homeopáticas de
prazer diário.
Fumar deve ser tão bom quanto
tocar um instrumento. Mas tocar um instrumento é infinitamente mais divino,
além de fazer muito bem para os ouvidos alheios. Se bem que não para as outras partes
do corpo do instrumentista, que dói de calos e repetições. O organismo de quem fuma
também sofre, mas de forma discreta até explodir num câncer de laringe, boca
ou pulmão (sem falar no enfisema e na trombose).
Todavia, conheço pessoas que
fumaram copiosamente até a velhice e morreram de senilidade. Ou seja: tem gente que tem uma sorte genética
danada! Tipo assim o Keith Richards, sabe? Tantos ingeriram as mesmas merdas
viciantes que ele e morreram jovens. Ele segue firme e doidão na terceira
encarnação de si mesmo.
Eita! A ideia era falar do cosmo; de como o ventinho nas folhas produz um som inebriante enquanto você chupa um picolé
sentada na escada coberta de musgos por falta de uso. Escada como ponte feita
de dinheiro público: do nada para lugar nenhum. O que existe de sobra no
Brasil, ao contrário de fumantes, é obra sem sentido algum.
Daí a gente aproveita e dá uma
serventia. Não fumando, tá me estranhando? Meu vício é chocolate, apenas para confessar o que todo munda já sabe.
Não sei mais como elogiar!!!!! Suas palavras levam-me , SEMPRE, a vaguear pelas paisagens que descreve!!! Sinto-me sentada com vc na escada mas não gosto de picolé! Poderia dar-me um chocolate enquanto conversamos e apreciamos o lindo jardim do STJ???? Saudade que até dói!!!!!
ResponderExcluirE eu tentando parar de fumar .... diminui bem, mas parar? Aí que dó! Mas um dia eu chego lá.
ResponderExcluirÂngela Sollberger
Algumas idéias: me voltou o tempo de fumante (fui muito viciado), os tempos, na minha primeira vez na Europa em que via os fumantes, assim, nos cantos, ou no frio, fumando. E eram muitos...
ResponderExcluirPor fim, me vem a palavra "ode", que me remete ao Asterix.
Lembra do Chatotorix dizendo: "Vou cantar uma ode para vocês"?
Obs: você não tem nada a ver com o Chatotorix, ok?
Um beijo,
Paulo Magno