Mimeógrafos
“Escurece, e não me seduz tatear sequer uma lâmpada. Pois que aprouve ao dia findar, aceito a noite. E com ela aceito que brote uma ordem outra de seres e coisas não figuradas. Braços cruzados.” (Carlos Drummond de Andrade) Quando chego ao trabalho ela já está lá. Trocamos o automático bom-dia diariamente. Ela está sempre de cabelo preso, severo rabo de cavalo. Quase uma Marina Silva: entre a humildade e a altivez. Magra também é. Agora me ocorre que as existências exíguas demandam um corpo frágil. É mais difícil ser invisível aos gordos. Queria entender dessas sombras. O que se passa na cabeça de quem faz todo dia tudo sempre igual. Como é que é permanecer horas em silêncio todas as manhãs, cumprindo a cota individual de fardo e obrigações em total anonimato. A impressão é que ela nem respira: vivência em suspenso ou em suspense. Essas personagens de “O Turista Acidental” são fascinantes para mim. Atração mórbida pela dissolução, giz que ...