Seleção Natural





Toda família é mais crood do que pensa. A sacada do nome do filme já dá uma ótima pista: croods, na verdade, pode ser definido como “crude”. E crude é rude, selvagem, rústico e natural. Roots. Raízes. Fazia tempo que uma animação não me fisgava desse jeito. É inteligente, divertida e bem bolada. 

- Esse é meu bicho de estimação! 

- Bicho de estimação? O que é isso? 

- É um animal que não se come! 

- Ah, eu pensei que o nome disso fosse criança... 

Hahaha!! Nada mais verdadeiramente cruel. Vontade de comer eu nunca tive, essas taras eu deixo para o Hannibal, mas de esganar, às vezes. E lá se fomos nós, os croods brasiliensis ao Cine Drive-In. A última vez que estive naquele lugar sinistro havia sido com o Bernardo em tempos de namoro. 

Os meninos ficaram apreensivos na chegada. O cenário espanta mesmo. É escuro, desolado, decadente. Todavia, superado o impacto inicial, percebemos que mais croods fizeram a mesma opção para o fim de domingo: cineminha familiar com os pentelhinhos, pestinhas, selvagenzinhos... 

Senti-me a própria família Flintstones na abertura do meu desenho animado favorito da infância. Vocês se lembram de que eles vão a um drive-in e o Dino fura a “capota” do carro para enxergar a tela? Acredito que os idealizadores do “The Croods” também devem ter amado “Ô Villmaaa”. Encontrei algumas similaridades entre as duas propostas, além do óbvio pano de fundo da pedra lascada. 

Era a primeira vez dos meninos num drive-in. A gente prometia fazia tempo, mas nunca rolava a oportunidade. Como toda espécie croods que se preza, a farofada não podia ficar de fora. Compramos duas pizzas (calabresa e portuguesa) para uma frugal refeição familiar motorizada. Nada mais american way of life. Não foi à toa que eles inventaram um cinema para se ir de carro, né? Porque, se há algo que esses ianques gostam tanto ou mais do que a Sétima Arte, é comer porcaria! 

Só que nem precisava, pois o Cine Drive-In de Brasília tem lanchonete. É só acender o farolete (jamais o farol, seu croods!) que o atendente traz as trash foods que você desejar. Se a gente pensar bem, é muito esquisito ficar olhando para uma tela gigante de concreto de dentro do carro, ao mesmo tempo em que se empanturra de colesterol do mal. 

Mas eu te digo: já vi coisa pior nos Estados Unidos. Clãs croods ruminando McDonald’s no café da manhã sentados dentro de seus carros, é claro. Ou ainda mais bizarro: uma sala de projeção que, na verdade, sofria de crise de identidade, sem saber se era um diner ou um cinema, coitada! Mesas enormes, cadeiras megaconfortáveis e garçons para lá e para cá atendendo aos desejos lascivos dos telespectadores enquanto a projeção rolava. Huuuuuge espécimes de croods barulhentos devorando panquecas, batatas fritas e litros de coke. Cinema como desculpa para a gula. Coisa de americano. Ponto. 

Meus croodszinhos decidiram assistir ao filme no teto do carro. Ideia do papai troglodita. Desconfio que a sugestão só foi levantada porque se tratava do carro da mamãe sapiens. Para tanto, eles foram bem munidos com cobertores, tocas, meias e casacos. Família, família... Paga mico todo dia, nunca perde essa mania... 

Os trailers começam e os exemplares das cavernas, ops, meus filhos, já estão amassando o teto do meu combalido Honda Fit 2004. A cena parecia bastante surreal, tipo coisa de cinema, saca? Mas não é que estavam bonitinhos? Vontade de fotografar, mas naquele breu o celular não daria conta. Família, família, corujice todo dia, nunca perde essa mania... 

Não havia nem passado a metade do filme, que estava me matando de rir, apesar de ter perdido algumas das partes cavernosas - a projeção é meio furreca, quando um objeto bem identificado escorreu malemolentemente pelo para-brisa frontal: um pedaço de pizza de calabresa que o wild Rômulus deixou cair, como não? Família, família, faz bagunça todo dia, nunca perde essa mania... 

Os croods brasiliensis voltaram para casa com a sensação de dever cumprido. Espero que os meninos guardem em seus cérebros (e não no estômago) essa ideia bacana: família e cine drive-in é tudo de bom!


Comentários

  1. Hahaha, só você pra me levar a doces lembranças e me matar de rir em frente ao computador como se fosse uma doida...
    Fiquei imaginando a família Croods brasiliense nessa aventura... Acho que vou fazer uma igual por aqui. Será que tem drive-in com cinema 3D???

    BJS,

    Renata.

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  2. Oi Lu faz muitos anos e põe anos nisso que fui ao Drive in, nem sabia que existia ainda...bacana teu programa.
    Namastê!
    Cynthia

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  3. Lu, NUNCA fui a um cine drive-in na minha vida! Gostei de ideia! Vou levar os meninos.
    Obrigada pelo texto!
    Beijos,
    Ceci

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  4. KKKKKKKKKK....muito bom! =]

    bjs!
    Fabs

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  5. Leeloo,

    fiquei admirada com a coragem de deixá-los no teto do carro rss. Nós já vimos alguns filmes no Drive-in, desde que Vítor era pequeno. Uns 3 ou 4, acho. O último foi da tinker bell, se não me engano, só estava passando lá.

    Beijim,
    Má.

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