Epístola de Santa Luciana aos afetos

O primo cinéfilo me deu um toque: "veja, porque você vai gostar!" E ontem, sem esperar, como uma surpresa boa ou talvez por estar pensando tanto nele, no meu primo, que é meu irmão a me cativar desde que nos permitimos ser amigos - numa idade em que parentes de primeiro grau já se desconhecem, se a amizade não foi cultivada na infância - eu apertei o botão e estava lá: "Mary e Max", no Telecine Premium.

Um poema visceral em stopmotion falando do sempre fervilhante mundo da amizade entre opostos, entre desiguais, entre diferentes, entre novos e velhos, velhos e novos. Entre gente que "nunca se viu, mas sempre vai se amar". Ideia nada original, mas que rende filmes belos, tocantes, filosóficos.

Desconfio que diretores que contam marcantes histórias de afeto têm, na vida real, guardada nos bolsos dos jeans surrados, a pedra preciosa dos relacionamentos eternos. Espero que eu esteja certa e que esses caras sejam abençoados como eu sou por ter esse primo, essas amigas que abraçam meus textos e longas metragens fantásticos para ver. Imagens e palavras que reafirmam: cultivar o outro, com dor e com alegria, é o que de fato conta nessa vida.

Pois então não percam: "Mary e Max", nas talentosas vozes de Toni Collette e Philip Seymour Hoffman . (Dupla brilhante que, longe dos estereótipos hollywoodianos, deve ter experimentado em suas andanças, as agruras de preservar a integridade da diferença em meio a pasteurização da aparência). Eles legitimaram as existências de Max e Mary como quem sabe, de pertinho, o que as personagens vivem.

E fica aqui mais uma dica: escrevam cartas, meus caros! Quem nunca escreveu uma carta-de-veia-aberta pode estar perdendo a essência da felicidade. Vale ser digitada, tudo bem. Mas que seja no papel, com selo e envelope lacrado com saliva de amor. Enviar uma carta é libertador. Receber: um sinal de humanidade.

Um final de semana epistolar para todos!












Comentários

  1. Ô, prima... Tem muita fofura nas suas palavras. Só me resta agradecer e dizer que o sentimento é mútuo. E que tô curioso pra saber mais detalhadamente suas impressões sobre o filme.

    Beijos.

    Valdeir Jr.

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  2. Querida eterna amiga Luzinha (minha amiga da infância com proximidade física, da adolescência na distância, mas através de muuuuitas cartas trocadas e guardadas até hoje aqui comigo e da maturidade, através da modernidade dos e-mails),

    Peguei "Mary & Max" para ver com a Bruna, por se tratar de um filme lúdico, com massinha, em stopmotion, etc... mas desconfiava que não seria um filme exatamente para crianças, elas o aproveitam sim, mas falo no sentido da complexidade, da crítica político-social e intensidade dramática que o envolvem. Amei o filme!
    Obs: Opiniao da Bruna, ao final: "Esse filme é muito louco!" rs!

    Beijos,

    Patty

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