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Deliberare

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Passava em frente ao Mercado das Flores no ápice da tarde seca quando uma coroa moribunda cruzou o meu caminho... Nasce-se e morre-se nos dias quentes. Ambas as urgências independem da temperatura lá fora. Ambos os movimentos vêm de dentro.  Penso que a morte no dia quente torna a vida de quem fica ainda mais dilacerante. As flores murcham no velório escaldante. Camisas se mancham de suor. Lágrimas mornas chamuscam as faces. É desconfortável abraçar demoradamente num dia quente e tudo o que necessitamos na partida de quem amamos é um gesto de carinho autêntico, desbragado.  Um cemitério árido, implacável, mata um pouco os que seguem na vida. Nascer num dia quente, por sua vez, é duplamente alvissareiro. Tudo o que se quer é um lugar fresquinho para se aconchegar. O hospital, de repente, torna-se este espaço de acolhimento de alegrias, com suas salas frias. Ninguém se importa com a impessoalidade das paredes brancas, com os longos corredores de portas para o abismo, pois os ...