De tudo um pouco


"Vivo no passado e no presente. Na minha cabeça e na rua. Às vezes, olhar para trás é doloroso. Perdi tanta gente. Mas outras vezes uma fotografia ou um livro te permitem trazê-los até o presente e te devolvem essa pessoa por um momento. A imaginação serve para viajar para o desconhecido ou para o conhecido. Tem essa força. Seria um erro não aproveitar esse potencial."

  (Patti Smith)

 

Ideograma

Asas são riscos, palavras no céu.
Cruzam as folhas sem pauta das nuvens gradativamente mais pesadas.
O preto do voo então se funde à página-chumbo e desaparece.
O corpo cá no chão plana no azul da piscina
a despeito das pedras.
Ao fim das tardes, a leveza toma o coração
na esquadra de biguás,
na arruaça das araras ou
na elegância das garças helvéticas
a formar ideogramas suaves.
Caligrafia imaculada.



Na era do cancelamento, até os pães clássicos mudam de nome.
- Esta aqui é a língua de sogra?
- É sim.
- Mas eu gostava muito da minha sogra, comento.
- Eu também, diz a atendente da padaria.
O tamanho também diminuiu. 
É o fim das linguarudas! 😃



Chapeuzinho Contemporânea:
- Vovó, vamos errar o caminho?


Cartográfico

Incomoda-me pensar que não mais terei você
ao alcance da cidade.
Mudou, mudamos.
Atingi a maioridade e saí de casa.
Troquei de paredes, vizinhos;
de silêncios e de ruídos.
Renovei a crença em anjos.



Pesponto

Coração miúdo 
moído 
estrangulado
no aperto do laço.
Vivo esgarçada, não nego.
Suturo quando puder.



Comentários

  1. Muito bacana!!👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

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  2. Sempre tão bOOOMMM , te ler…💞🌷
    Cynthia

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  3. Esses 2 últimos poemas são a respeito do seu caçula vestibulando, né! Difícil fase de desapego para nós mães… Quase impossível. Mas estamos na mesma fase, conte comigo! Acabei de ler o Badenheim1939 que vc me presenteou; assim como o cessar-fogo e o acordo de troca dos reféns neste dia de hj, é muito bem-vinda essa profusão de histórias dos terrores da 2a Guerra, já que os sobreviventes do Holocausto - apesar de terem dado milhares de palestras pelo mundo afora - já estão morrendo. “Lembrar para não esquecer”… Pleonasmo? Necessário.
    Obrigada, amiga, pela poesia pulsante em tudo que vc faz!

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  4. Li tudo.
    Maravilha!

    Jandira Costa

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