A culpa é do mapa astral
Passei o fim de semana a-r-ra-sa-da. O adjetivo venerado pelos piscianos (ou seria pelos leoninos?). Whatever, pois para uma pisciana de juba e para as formigas, “a rosa é um lindo palácio e o espinho uma espada fina”.
O motivo de tamanha tristeza adveio de haver procurado minha piranha (acessório capilar, gente. Não tenho peixes de estimação). Tinha certeza de que ela jazia dentro da grande bolsa, todavia - barbaridade! - estava enganada.
Ó céus, a temida situação se confirmava: perdera a minha piranhinha amada. A melhor que tive em décadas de piranhagem. Preta, fosca, firme. Capaz de segurar o volume de cabelos que ameaçou rarear com a menopausa, mas segue caudaloso como as cataratas do Iguaçu (exagerada também é um adjetivo que se aplica aos piscianos de juba).
Desolada quedei-me. Nunca mais encontraria outra igual. Talvez fosse um sinal para cortar a cabeleira que já passa dos ombros. Ocorre que eu gostei tanto da trança da Diane Lane no filme “Let him go”... Tipo assim: até quando você vai aguentar esse cabelo “pagadora de promessa”? Até conseguir fazer uma trança lateral caindo pelas escápulas aos moldes da que apresenta a personagem Margareth, vivida pela sósia do cinema - opinião de uma amiga que muito me envaidece (preciso honrar a ascendência leonina).
Assim atravessei o domingo, num certo luto, fazendo uso da piranha vermelha e cometendo destroçadas comparações: jamais existirá algo como ela, a pretinha básica.
Veio a atarantada segunda com as suas urgências. O implacável patrão nosso de cada dia, dia após dia. Eis que à minha espera sobre a bancada da estação de trabalho jazia a pretinha, ao lado do teclado, num flerte daqueles. Danada, tirou um fim de semana de folga!
Alegria genuína é não precisar do São Longuinho. Aliás, ele agradeceu por não ter sido solicitado dessa vez, vez que é o santo mais importunado por quem só não esquece a cabeça porque está pregada ao pescoço.
As aparições de objetos amados dados como abduzidos fazem parte da existência de toda Dori. Colares, brincos, anéis, carteira, celulares, sombrinhas, agendas, relógios, travesseiros, livros, mandalas, camafeus…
De muitas bugigangas queridas me extraviei e tornei a encontrar, nessa longa estrada da vida. Infelizmente, há os que se foram para sempre no buraco negro da distração. Acho que vivo nesse jogo de perdidos e achados para me regozijar com a surpresa do reencontro (viciada em emoções fortes, admito).
Enquanto matava a saudade da piranha com um bat coque espanador, recebi a divulgação de um curso pelo zap: “Teoria da Contemplação”, cuja proposta da mediadora e filósofa é resgatar “o mundo da alma” que vem sendo sutilmente afanado de nós em face do racionalismo e da realidade digital.
Imaginei o marido no sarcasmo que lhe é peculiar: “você precisa exatamente de uma formação inversa, uma Teoria do Pragmatismo”.
Respondi à gentil amiga que me enviou a mensagem: Se me tornar mais contemplativa do que sou, desorbitarei a Terra para encontrar Hans Solo.
Peixinha, afinal.
* trabalho da artista Luci Mendes, da Pousada Paralelo 14/Alto Paraíso-GO
Ameeei o texto e me fez rir... precisava rsrsrs. E amei minha mandala no seu blog. Muito grata!!
ResponderExcluirVocê fez meu dia melhor!
Grata, de coração.
Beijocas,
Luci Mendes
Hehehe, muito bom, Lu!
ResponderExcluirClarice Veras
Gente, como consegue fazer de uma piranha perdida em um texto maravilhoso desses? Por aqui o meu pretinho é a liguinha (amarrador, putinha) que já fica no braço aguardando o coque de mãe de gêmeos e adolescente trabalhadora do Brasil ser ativado.
ResponderExcluirOi, amiga. Até travesseiro?! Tantas passagens legais! Adorei o "buraco negro da distração" e o "bat coque espanador", além da "piranhagem". Identifiquei-me com o jogo. Muito obrigada! Beijocas. 😄
ResponderExcluirNossa, maravilhoso o texto e mandala lindíssima!
ResponderExcluirInês
Que mandala mais linda e especial, essa!!
ResponderExcluirO texto está ótimo, como sempre!
E você, mais tresloucada do que nunca, kkk
É preciso rir, é preciso se perder nos deslizes...
Nos cobramos demais e rimos de menos...
Temos que aprender a ser leves, realmente "diáfanas", pra sobreviver ao pragmatismo superlativo do mundo atual e mais ainda, a esse enorme vazio do essencial humano...
Marilena Holanda
Mesmo no serviço público (cálculos e serviços de rotina) é possível criar. Vc é a melhor prova. Te amo, poeta linda!
ResponderExcluirJandira Costa
Oi Peixinha! !
ResponderExcluirPassando pra te deixar um hi!
Abraços,
Evelyn
Gostei da reflexão! KKK!
ResponderExcluirBeijos,
Fabiana
Amei o texto!
ResponderExcluirMe identifiquei bastante, mas sou ariana! KKKK!
Verônica
Adorei o texto! Muito a sua cara (e habilidade poética).
ResponderExcluirKarol Simões
ma-ra-vi-lho-so! Es-plên-di-do! Muito. hahaha
ResponderExcluirCynthia Chayb
Amei! Pequenos momentos de felicidade: objeto querido encontrado hahahaha Eu tenho até vontade de ajoelhar de tanta gratidão e depois penso que jamais perderia algo que amo (pura prepotência) Gostei mesmo é do curso da contemplação...rs talvez tenha sido por causa de um momento contemplativo que a tua piranha tenha ficado na sala hahaha
ResponderExcluirLuana
Texto excelente. Parabéns.
ResponderExcluirAndré Luiz Alvez
Seus contos são extraordinários. Não gosto de romance porque tenho que reiniciar sempre... rsss. E ontem já é antigamente.
ResponderExcluirQuando vai concorrer ao Prêmio Jabuti?
Jandira Costa
Gostei do texto, Lu! As suas palavras sempre estão no lugar certo. Pois acredita que São Longuinho sempre funcionou pra mim? Em várias situações e com vários pulinhos no decorrer dos meus 66 anos. Não deixe de pedir pra ele.
ResponderExcluirLeila Cruz
Muito bom!
ResponderExcluirPaula Mello
Me manda o convite do curso. Tenho a quem recomendar. hehe
ResponderExcluirO melhor conselho sobre quando cortar cabelo é: Vá adiando. Um dia, grande que estará, não deixará dúvida sobre a decisão. Você até caminha de passo apressado pro salão.
Linda mandala! Combina demais com a piscina nova. hihi
ResponderExcluirSensacional!!! 😂😂😂
ResponderExcluirLu, outro dia eu perdi a escada!
E meu apartamento é bem pequenininho.
Achei horas depois de ter resolvido tudo perigosamente com a ajuda de um banquinho…
Beijos!!!
Adriana Tullio
Lulu, li apenas agora! E gargalhei! Da minha parte, estou em débito impagável com São Longuinho. Nem os meus pulos e pulinhos o santo aceita mais...rsrs
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