Diorama
O quarto imaculado instiga. Não está trancado, mas a porta sempre cerrada pressupõe privacidade. Ela segura a maçaneta e entra de mansinho, como se penetrasse um morango com o garfo. Havia quebrado o código tácito de se manter distante. Banhado pela luz da noite, que trespassa as persianas verticais, o quarto repousa. Austeridade nas paredes quase completamente despidas. Estoico e casto, o quarto exala um perfume protetor contra os maus cheiros do mundo. Invólucro pálido azulado para a alma se depurar dos excessos. Ela se deita sobre o leito feito. Lençóis brancos, singela alcova. Branca de Neve no féretro, acolhida pelo silêncio. Ao mesmo tempo, experimenta o calor uterino. Nada se ouve além das batidas do coração de Gaia. As retinas se adaptam à penumbra. Ela fita o teto onde a sombra do ventilador forma uma pintura realista: quarto de hotel anônimo. A clausura lhe reconforta. É um cenário de casa de boneca puritana. Ela, agora diminuta, respira serenamente. Tudo está em s...