Pandemônio
Para as Macabéas que há em nós A tarde ainda minava, não do centro da terra, mas da abóbada celeste. Um pingo caiu na testa da moça, contudo ela não interrompeu o fluxo da gota, que atravessou os cílios e desaguou no olho direito. Transformou-se numa "furtiva lágrima", belo título da obra de Nélida Piñon. E, antes dela, o nome da última ária de uma ópera de Donizetti. Sombrio entardecer. O sol se esquivou das responsabilidades de verão. Anda fazendo pouco caso: aparece e se manda, exausto do posto de astro-rei. Se ao menos pudesse abdicar da monarquia tal qual o tal Harry... Deu um perdido e as nuvens tomaram a cena. Dramáticas e sensíveis, não se importam em chorar como carpideiras. Aliás, nada mais apropriado para o momento do que o lamento copioso e ininterrupto dos céus diante de um país de mortos e de moribundos, constatou a donzela enquanto pulava uma poça, tentando não molhar o sapato que comprara não havia dois meses. Maldita lama nas calçadas e na política!, bufou,...