O breu do céu
O urubu caminha sobre a laje do edifício de apartamentos. Seus passos reflexivos percorrem sempre o mesmo trajeto de ida e volta. Parece preocupado. Ou seria eu, projetando minhas angústias?
O solitário urubu anda entre as antenas parabólicas. Estamos frente a frente. Ele para por breves momentos e logo retoma a caminhada.
Do lado oposto, na varanda, reconheço nos passos do urubu uns trejeitos de barata.
Nunca tive nada contra abutres, mas a semelhança me provocou arrepios de asco. Seria eu projetando um desconforto existencial?
A ave segue em seu posto de vigília. Do lado de cá também não arredo o pé. Logo, logo o urubu vai se confundir com o breu do céu.
Mas antes da noite, ele estanca e mira na minha direção. Será que descobriu estar sendo observado?
Não, não. Ele se coça, espreguiça as asas...
Apenas abraça a solidão dos incompreendidos, como a sua espiã.
Uai, prima! Joga na vaca. É batata. Joga na milhar.
ResponderExcluirEssa sua história me lembrou outras duas. Tem um conto/texto daquele Edgar Allan Poe com um corvo, não tem? Tem. Um corvo que trazia maus presságios. A outra história eu presenciei. Um dia, voltando pra casa do trabalho de carona que meu chefe, passamos em frente à sede falecida e malfadada Avestruz Master. A sede ostentava um totem de mau gosto: um ovo gigante, só um pouquinho menor que uma Kombi, no alto do prédio. Naquele dia, havia um solitário urubu pousado sobre o ovo. Rápido no gatilho e bem informado sobre o mercado financeiro, meu chefe antecipou o estouro da bolha Avestruz Master. Ele disse que aquele urubu era um sinal de que algo iria acontecer. Te juro: no dia seguinte, a falência da Avestruz Master estava em todos os noticiários.
Primo Valdeir Jr.
muito bom, parabéns!
ResponderExcluirPaula Mello
Que legal! Muito bom!!
ResponderExcluirRômulo