Frida, mas poderia ser Clarice
Fui imune ao amor canino pela metade da vida (se levarmos em consideração que a vida começa aos 40). Talvez por ter crescido numa fazenda rodeada de animais de grande porte: vacas, touros, cavalos, mulas, onças pintadas das quais só vi pegadas; lobo-guarás aguardados, em vão, todas as noites... Os cachorros, galinhas, gatos, patos, pintinhos e porcos eram triviais demais para mim. Eu queria os tatus furtivos; as cobras enigmáticas; as mariposas funestas e as corujas, ah, as corujas soberanas. Quem sabe também os cães tenham sido associados à onipresença da irmã que sempre me rejeitou. Provavelmente projetei nos bichinhos a recusa daquela moça ciumenta e imatura que não soube se desapegar do posto de caçula. Seja como for, passei décadas convivendo lado a lado com cadelas e cachorrinhos de vários tamanhos, raças e vira-latices sem lhes dar a menor pelota. Refratária aos seus olhinhos lânguidos e sorrisos, cheguei à maturidade. E na maturidade, vence...