Salve a criação!


Gavião Sovi


Primeiro eu escrevi plúmbia e aí o corretor me disse que não existia. Então, chequei no Google, que diz que existe, mas sem acento. Parece ser uma insígnia lá na Itália. O oráculo também me fez descobrir que plumbea é o nome científico de um gavião.

Percebam como é útil um erro de Português de vez em quando. Mas se existe plúmbeo, por que não posso escrever semana plúmbea? Foi então que percebi que estava digitando errado a minha ideia de cinza (sem conotação sexual, por favor, muito pelo contrário). 

Quão entediantes e desesperançosos foram esses dias... Com todos que se conversa é um pigarro, um olhar cabisbaixo, uma história de falta de dinheiro e de perspectiva. Na quarta, paralisei. Não conseguia nem colocar a mão no teclado diante do vazio. Foi pane total na aeronave (olha, só de estar escrevendo aeronave junto da palavra pane dá para se ter ideia do meu desalento). Toc-toc-toc, quem bate? É o frio!! Não, não, é a recessão!! Uns perdem o emprego; outros, as ideias. 

E elas ainda não voltaram. Escrevo apenas pela força do hábito, pela compulsão. Não tenho nada a acrescentar à atmosfera sombria do país. “Não tá fácil pra ninguém” é o coro geral. Concluí que venho assistindo a um monte de séries porque elas anestesiam você de qualquer emoção realmente humana. 

A lista de filmes para conferir no Netflix só aumenta. Passo por ela e desisto. Volto aos episódios entorpecedores, ao ópio. Incorporo o alter ego de falsa vietnamita deitada num antro escuro soltando uma fumacinha. Apocalipse Now Brasil! O mais grave é que não dá nem para se alienar com o futebol, pois a seleção tá que nem o país que representa: descendo a ladeira. 

Mas adianta querer proteger o coração do sentimento de júbilo ou luto? Adianta ficar no meio da estrada? Então decidi dar uma chance para "Lunchbox", delicado longa indiano que começava a passar naquele momento. Vi, chorei, senti. Foi bom. "Eu não posso criar outra alma, mas posso acordar a alma que está dormindo". (Janusz Korczak). A minha já estava quase partindo, mas acaba de ganhar sobrevida! 

Ouvi umas músicas inspiradas da linda Roberta Sá; li uns posts de luz no fim do túnel no facebook. Parece que é possível, pelo menos hoje, acreditar no Paulo Coelho; naqueles lances de “universo conspirando ao meu favor”. Portanto, aqui estou tec-tec-tec no teclado, produzindo esse texto idiota, é verdade. Mas é criação. Que é diferente de tédio, de negrume, de azedume; de tudo o que pesa e mata.


Comentários

  1. Transpiração. Escreve, escrivinhadôra! :)

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  2. Olha a coincidência de temas com essa crítica que acabei de ler sobre o filme da pixar que está chegando nos cinemas:
    “Inside Out” is an absolute delight — funny and charming, fast-moving and full of surprises. It is also a defense of sorrow, an argument for the necessity of melancholy dressed in the bright colors of entertainment. The youngest viewers will have a blast, while those older than Riley are likely to find themselves in tears. Not of grief, but of gratitude and recognition. Sadness, it turns out, is not Joy’s rival but her partner. Our ability to feel sad is what stirs compassion in others and empathy in ourselves. There is no growth without loss, and no art without longing.

    http://www.nytimes.com/2015/06/19/movies/review-pixars-inside-out-finds-the-joy-in-sadness-and-vice-versa.html?hp&action=click&pgtype=Homepage&module=second-column-region&region=top-news&WT.nav=top-news&_r=0

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  3. Essa conversa e esse review me fizeram lembrar da reflexão sobre "o lugar da melancolia no mundo de hoje" presente neste texto: http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-musicais/geral/los-hermanos-e-a-geracao-y

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  4. Eu também tenho os meus dias.

    Evelyn

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