Xô, neura!






Quem é mãe que já não acordou no meio da madrugada para dar um beijo no filho? A exata mãe que carrega a culpa pela incompreensão, pela impaciência. As mães e o poço sem fundo das angústias de se crer infalíveis. Sabendo ser impossível ela foi lá e fez. Que frase de tamanha crueldade, oras! 

A mãe não pode fazer nada além do que já faz: parir, nutrir, amar, pentear os cabelos, escovar os dentes, dizer que ama, dar beijo, dar colo, dar bronca. O impossível é pra quem vive de filosofia. E filosofia não cria filhos. 

Quando confirmo o brilho nos olhos dos meus filhos, acredito que eles estão tranquilos e seguirão bem resolvidos pela vida. É dilacerante reconhecer numa criança a esperança destruída. Já detectei em muitas. Infelizmente, não apenas nas obviamente maltratadas pelas vilezas de uma existência miserável. 

Mas pinta a insegurança de que é imperativo fazer ainda mais e melhor. É uma pressão às vezes desumana. Parece que o comportamento da mãe ao lado é sempre mais legal do que o seu. Piração! E lá se vão eles barulhentos e bagunceiros para a escola e você fica com sua cabeça fabricando pensamentos-pedras-sombrios. 

Será que tem mãe que consegue conviver com esse bloco de concreto mental todo o tempo? O meu surge do nada e do nada se vai, ufa! Rogo para o que de todas as outras mães também sejam eventuais. Apesar de ter a certeza de que é inevitável confrontar essa neura que pinta na alma de quem tem a obrigação de abrir os caminhos para outro ser humano. 

Deixemos de encucação! O dia está cinza, lindo, grávido de ventos; humildade é úmida delicadeza. Alegremo-nos! Despeço-me compartilhando o cheiro morno de sonhos saídos do forno que exalava meu filho na manhã de hoje! 

P.S: acaba de chegar uma colega sem filhos dizendo: “como vocês aguentam ser mães? Vocês vão para o céu direto, sem purgatório!”

 E não é que é? :) 



Comentários

  1. Bem... vou deixar, a título de contribuição, o pensamento de Emmanuel sobre este tema:

    189 –Que deve fazer a mãe terrestre para cumprir evangelicamente os seus deveres, conduzindo os filhos para o bem e para a verdade?
    - No ambiente doméstico, o coração maternal deve ser o expoente divino de toda a compreensão espiritual e de todos os sacrifícios pela paz da família.
    Dentro dessa esfera de trabalho, na mais santificada tarefa de renúncia pessoal, a mulher cristã acende a verdadeira luz para o caminho dos filhos através da vida.
    A missão materna resume-se em dar sempre o amor de Deus, o Pai de Infinita Bondade, que pôs no coração das mães a sagrada essência da vida. Nos labores do mundo, existem aquelas que se deixam levar pelo egoísmo do ambiente particularista; contudo, é preciso acordar a tempo, de modo a não viciar a fonte da ternura.
    A mãe terrestre deve compreender antes de tudo, que seus filhos, primeiramente, são filhos de Deus.
    Desde a infância, deve prepara-los para o trabalho e para a luta que os esperam.
    Desde os primeiros anos, deve ensinar a criança a fugir do abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e concentrando-lhe as posições mentais, pois que essa é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma vida.
    Deve sentir os filhos de outras mães como se fossem os seus próprios, sem guardar, de modo algum, a falsa compreensão de que os seus são melhores e mais altamente aquinhoados que os das outras.
    Ensinará a tolerância mais pura, mas não desdenhará a energia quando seja necessária no processo da educação, reconhecida a heterogeneidade das tendências e a diversidade dos temperamentos.
    Sacrificar-se de todos os modos ao seu alcance, sem quebrar o padrão de grandeza espiritual de sua tarefa, pela paz dos filhos, ensinando-lhes que toda dor é respeitável, que todo trabalho edificante é divino, e que todo desperdício é falta grave.
    Ensinar-lhes-á o respeito pelo infortúnio alheio, para que sejam igualmente amparados no mundo, na hora de amargura que os espera, comum a todos os espíritos encarnados.
    Nos problemas da dor e do trabalho, da provação e da experiência, não deve dar razão a qualquer queixa dos filhos, sem exame desapaixonado e meticuloso das questões, levantando-lhes os sentimentos para Deus, sem permitir que estacionem na futilidade ou nos prejuízos morais das situações transitórias do mundo.
    Será ele no lar o bom conselho sem parcialidade, o estímulo do trabalho e a fonte de harmonia para todos.
    Buscará na piedosa Mãe de Jesus o símbolo das virtudes cristãs, transmitindo aos que a cercam os dons sublimes da humildade e da perseverança, sem qualquer preocupação pelas gloriosas efêmeras da vida material.
    Cumprindo esse programa de esforço evangélico, na hipótese de fracassarem todas as suas dedicações e renúncias, compete às mães incompreendidas entregar o fruto de seu labores a Deus, prescindindo de qualquer julgamento do mundo, pois que o Pai de Misericórdia saberá apreciar os seus sacrifícios e abençoarão as suas penas, no instituto sagrado da vida familiar.


    Autor: Emmanuel

    Fonte: O Consolador

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    1. É, Larinha, acho que serei uma das mães incompreendidas a entregar o fruto dos meus labores a Deus! :) Que missão hercúlea, não? Bacana o texto, gostei! Mas sempre fica a sensação de que todos esperam TUDO da mãe. E somos apenas humanas. Complexo.

      Abreijos,

      Lulupisces.

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  2. Sábias Palavras Luciana, as vezes me pego dessa forma! em pensamentos distantes.

    Patrícia Ayres

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  3. Adorei! Parabéns! Poucos, como você, têm a capacidade de compartilhar experiências com os demais, por incrível que pareça. Obrigada por me dar essa oportunidade enriquecedora! Sinto que assim, a vida fica mais fácil de ser vivida!
    Beijinhos!
    Letícia

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  4. Menina-Mãe, apesar de nunca conseguir postar alguma ideia no seu blog, acompanho-o (assim se escreve?), rio-me, identificou-me, algumas vezes até xingo-o.
    Adorei saber de sua experiência Emília sem registro! Acontece muitas vezes comigo!

    Ontem, deixei a Tarsila descer a brincar na vereda/calçada para andar de bicicleta, aqui em Montevideo, foi um desafio grande para mim, e para ela… mas acredito que dando autonomia se estimula a ter responsabilidade!!! Fiquei feliz quando descobri que tinha voltado sozinha, sem que tivesse que descer para buscar ela.

    Beijos Lu… Obrigada por contagiar de seus pensamentos a outras aquáticas!!!!

    Mariana Mataluna

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