Que graça!
Ela vem, ela passa com seu vestido florido, que graça! Barroca, se expõe ao sol concreto de Niemeyer. Uma longa vastidão de brancos e cinzas marcada por um pontinho azul e vermelho que se move.
Ela vem, ela passa pensando na vida e no torcicolo que se anuncia, que graça! O dia brilha implacável e diante de tamanha insolência, as janelas e portas ao redor lhe fecham a cara. Ao contrário dela que vem e que passa a caminho do mar imaginário e abraça a inclemência solar com volúpia, ar-condicionando seus passos com suspiros...
Ela vem, ela passa segurando a barra, as ondas e as marolas que lhe arrebentam nos ombros, na face, nos joelhos, que graça! Olha para cima e vê a sinuosa geometria do cosmo. Olha para o lado, mas o torcicolo não deixa. Olha para frente e divisa duas mulheres em conversa animada.
Ela vem, ela passa e de repente a mulher do bate-papo lhe dirige a palavra:
- Sabia que você é muito bonita?!
O pensar incessante cessa com os passos:
-Obrigada!
Que bom ouvir isso assim, como quem não quer nada numa quarta-feira pela manhã, asfixiada entre a pirâmide e o círculo frios, estanques e megalômanos de Niemeyer. O mágico da gentileza é a sua natureza fortuita, livre de ônus, pro bono.
-Obrigada!
Que bom ouvir isso assim, como quem não quer nada numa quarta-feira pela manhã, asfixiada entre a pirâmide e o círculo frios, estanques e megalômanos de Niemeyer. O mágico da gentileza é a sua natureza fortuita, livre de ônus, pro bono.
Ela vai, ela passa, sorrindo amanteigada, confiante e despudorada. Até se esquece do tal torcicolo, que graça!
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