Namastê




O curry, as cascatas de tecidos ocres, laranjas, vermelhos, amarelos... Sáris e a essência da feminilidade. Rituais, a cítara, ah, a cítara!!! O mango lassi, as reverências, a fé que gostaria de vivenciar. Olhos negros, corpos esbeltos. Sofrimento misturado aos cheiros, às danças, aos dons. Devo ter sido indiana em outra vida porque tudo me parece tão amável e íntimo naquela imensidão de culturas e povos. 

Os chás, o arroz, o frango masala e Gandhi. As monções: chuvas e mais chuvas, minhas queridas corredeiras do céu. O budismo, os templos e o yoga com sua sabedoria irretocável. Os gestos delicados, submissos e comedidos que requerem uma personalidade que não tenho. A contemplação, o pôr-do-sol açafrão. 

Onde eu me sinto em paz é no meio dos mantras. Onde me sinto gente é depois de tentar fazer um asana que meu corpo não compreende. Os deuses dos meus sonhos entrecortados são cheios de braços e pernas. Antropomórficas miragens. Ganesha, Brahma, Shiva, Vishnu... Tantas opções à disposição - para quem o tédio é uma ameaça constante - tem ares de salvação. 

Tenho alma velha e caudalosa como o Ganges. A melancolia do meu coração vem daquelas ruas apinhadas de gente e sujeira de Nova Déli. O amor pelas tatuagens nasceu com o Mehendi (henna) que embeleza as noivas nas cerimônias de casamento. Símbolo de transformação e transcendência. 

Claro que falo de uma Índia idílica, de cinema. A Índia que me toca é a liberal do Kamasutra e não a abjeta dos estupros coletivos. Minha conexão é com o Taj Mahal, não com as favelas faraônicas. Reservo-me o direito de ter vindo ao mundo indiano numa casta privilegiada do hinduísmo: Brâmanes (sacerdotes) ou Xátrias (reis e guerreiros). 

O que me soa familiar é o sincretismo, as cores vivas, os temperos ácidos. O que me seduz é a Bharathanatyam e seus movimentos esculturais graciosos. A antiguidade da Índia, suas raízes profundas com o nascimento da humanidade como a conhecemos (ou desconhecemos). 

É o sem fim de misticismos, cacarecos e jeitinhos pra fazer as coisas do dia a dia, sempre repleto de significados ocultos. Os entalhes das joias, o lápis preto sobre a pálpebra. Uma sensualidade disfarçada de recato. Lugar esquisito e excitante, no qual o odor do incenso se mescla ao fedor da pobreza. 

Uma Índia pra chamar de minha que espero percorrer ainda nessa encarnação. 

Tema do post:

https://www.youtube.com/watch?v=H2UI25sayXk


Comentários

  1. adorei lu, já leu a viagem de Theo??? muito bom, acho que você iria gostar, tbm amo a India de Sai Baba, todo o oriente.bjcas

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  2. Grata por trazer esta viagem à minha memória, lembrança de uma India que amo.
    Namastê!
    Cynthia

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  3. Boa tarde Lu! Legal o texto!

    Leila Brandão

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  4. Eu li o texto, viu? Não vou comentar nada porque... bem... a Índia não é muito a minha praia.

    Lara

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