Tal qual criança

...Eu teria um desgosto profundo,
Se faltasse o flamengo no mundo...

trecho do hino do Flamengo

Não. De jeito nenhum. Nunquinha. Imagina...Nem em sonho. Tá louco? Jamais. Nem de brincadeira. Pirou? Impossível. Que ideia é essa? No, no, no, no, no. Never in my life eu vou ser flamenguista. Totalmente contra os meus princípios. Mas, admito, fiquei por um triz nesse último domingo.

Tinha de ser o destino para me colocar ali no Maracanã pela primeira vez. Ele e eu; eu, o estádio e o Flamengo. Nada mais icônico. Assim é covardia. Por pouco não virei rubro-negra desde quando encarnei na Pérsia, lá pelos idos dos anos 700dC (quem me garantiu essa história foi o pai de uma amiga entendido no assunto. Flamenguista, por sinal).


No ano de Copa do Mundo não poderia me dar presente mais glorioso: assistir a uma partida de futebol no Maraca. Calhou de ser Flamengo x São Paulo pelo campeonato brasileiro. Fazer o quê? Não é sempre que se pode estar na cidade maravilhosa desfrutando da oportunidade de atacar de impostora. Então ficamos sentados na arquibancada verde, bem no meio da torcida de urubus.

Sem piedade, tentei urubuzar o Fla. Mas logo depois, arrependida, me deixei contagiar pela força e alegria daquela galera incansável, cantando aos berros o hino do time, sem contar os UUUUU! Õ,Ô,Ô,Ôs e AI, AI, AIs!!!, entremeado de palavrões contra a pobre mãe do juiz. Tudo para não perder o encanto pueril de viver o momento.

Pois é, mãe de árbitro não tem folga nem no Dia das Mães. E um rapaz levou a mãe e a irmã para conhecer o maior templo do futebol nacional:

- Mas o Maraca cheio é outra coisa.
- Mas mesmo assim vazio é bonito, filho, muito bonito! Precisa mesmo reformar?

Precisa? Eu também babei. Comovida, não sabia se torcia ou tirava fotos das imensas bandeiras agitadas. A torcida não para. Assiste a tudo de pé: 90 minutos de batucada, gritaria, cantoria e indignação.


-Burro, burro! Expulsa ele!
-Filho da p..., p.! Por cima, filho da p...!
-Tá impedido, imbecil!

Os homens se irmanam nos abraços e nos xingamentos. Todos voltam a ser crianças dividindo o mesmo pacotinho de biscoitos Globo...

-Toca a bola, seu merda!
-Vai tomar no seu c..., p... que o pariu!
-Aí não ganha a porra da Libertadores e se ferra no Brasileirão...

Existe diversão mais divertida? Ir ao estádio é morrer de rir. A mulherada vai, desconfio, para apreciar seus homens em harmonia tribal. Um dos espetáculos de comédia mais genuinamente engraçados que eu conheço.

-Esse veado dá 30 faltas para o São Paulo e nenhuma pro Flamengo!
-Não foi nada, seu juizinho de m...!!!
-Vai pra cima dele, Mengo!

Como poderia torcer para o adversário se estava imersa nessa efusiva demonstração de amor e dedicação? Na verdade, ficou fácil me passar por rubro-negra porque não tenho time oficial. Gosto de futebol. Gosto do esporte que pulsa, vibra e rebola. Em São Paulo, sou mais o Timão. No Rio, tenho um certo apreço pelo Fluminense, tricolor do coração do meu irmão.

Red Bull Air Race

Mas o futebol é isso: quase uma viagem de avião, ou seja, uma caixinha de surpresas. Ou será o contrário? Pegar avião é que se tornou uma partida de futebol: você nunca sabe o resultado. Meu voo da Ocean Air do Rio pra Brasília foi cancelado sem nenhuma explicação. A Vanessa da Mata reclamou, em público, que a TAM foi responsável pelo pior voo da vida dela. Ou seja: pagando muito ou pouco, querendo bater no juiz ou no funcionário da empresa aérea, a emoção está em campo. Aguenta, músculo cardíaco!

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