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Mostrando postagens de março, 2025

Intercursos

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  Cansada das minhas limitações. Você também, eu sei. Na caminhada de ontem, a música que abria a playlist Release Radar , do Spotify se chamava “Demoro a dormir”, do rapper Djonga, com participação especial do Milton Nascimento. Nunca ouvira antes. O legal destas listas aleatórias - pero no mucho - do aplicativo é justamente lhe obrigar a escutar algo que de outro modo você jamais selecionaria. Não curto muito rap e afins, apesar de alguns serem ótimos como este. Mas a voz do Bituca, a princípio, é quase irreconhecível. É um esgar, um fiapo. Comoveu por tudo o que ele representa para a minha vida e para a MPB. Abaixo de um sol impertinente, quis chorar. Aliás, voltei aos níveis de choro de uma boa pisciana descompensada. Tudo me leva às lágrimas ultimamente. Porém, segui firme nas passadas e resolvi prestar atenção na letra, poderosa, idealista, fodida mesmo. O choro virou revolução mental. Digo tudo isso porque na noite anterior, sábado, tinha conferido um pocket show com um...

Overdose

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One of these mornings You're gonna rise, rise up singing You're gonna spread your wings Child, and take, take to the sky Lord, the sky... (Summertime/Janis Joplin)  Acordei entre "Nostradamus", de Dusek e "O Tempo não para", de Cazuza. Abri os olhos e minha cama estava cheia de gatos e minhas ideias não correspondiam aos fatos. Me senti no fim do mundo como antes fora. O sonho misturou Índia com Harry Potter. Nem sequer os cogumelos do amigo, que mastiguei macerados ao mel num longínquo domingo, me deram delírio igual. Penso que talvez tenha tido uma overdose emocional. Até que foi divertido participar daquela alucinação onírica. Fazia parte de uma família com chapéus incríveis que pegava elevadores que iam do nada para lugar algum. O trânsito caótico da cidade repleto de tuk-tuks. Clã de bruxas com roupas vitorianas. Surrealismo espanhol e expressionismo alemão totais. Resultado final de um ontem caótico. Não almocei, já na ansiedade do voo do primogênito...

Kintsugi(s)

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Os livros têm uma história além da história que contém. Objetos detentores de sua própria narrativa. Personagens que descrevem caminhos percorridos alhures, de mãos em mãos (afetuosas?); de olhar em olhar. Trajetos que às vezes perdem o registro do princípio. Qual primeiro contato terão estabelecido? De que cidade empreenderam suas jornadas pelo mundo? Por que partiram? Como chegaram até aqui? As folhas amareladas se desprendem. Lombadas carcomidas pelo cansaço dos anos, pelo esforço de abrirem-se ao escrutínio alheio, pedem gentileza. Já passaram da casa dos 50 e a existência deixou marcas indeléveis do percurso. Certamente não foi suave. Os livros podem sofrer de maus-tratos, de indiferença, de solidão. Buscam uma estante segura para manter a dignidade e a memória imortalizadas. Eles não diferem de nós. Baça, a lua me saúda enfadada da obsessão humana por sua figura. A aparição se deu na noite do meu aniversário. Sedento e faminto, um tanto esquálido, um fantasma com chiado dramáti...