Coisas da vida
Acabei de ler a coluna da Bia Braune, na Folha de SP, e fiquei morrendo de inveja dela porque, além de escrever colunas para a Folha, ainda encontrou um caderno mágico de 1922, com memórias de uma tal Glorinha, na caçamba de entulhos na sua rua.
Na caçamba da reforma da minha futura casa só encontro entulho mesmo. Sacos de cimento vazios, pedaços de tubulações, plásticos vários e galhos podados de um jardim confuso. A maioria destes resíduos são jogados ali pela pessoa aqui, inclusive, uma vez que os pedreiros parecem não ligar para a bagunça ao redor. Vão deixando o rastro de destruição se acumular, o que para mim, detentora de um certo TOC, causa agonia exasperante.
Mas, deixemos os pedregulhos e falemos de fatos intrigantes. Eis que estou voltando da comercial meio na pressa quando, ao atravessar a rua, ouço um grito. O grito não era específico, era um grito tipo Ei, você! Ei! Vinha de um carro que parava logo à frente, na entrada da minha superquadra. Estava atrasadíssima para o velório do meu cunhado. A vida é isso: velórios, nascimentos e pessoas gritando ei no meio do caminho (sem falar das pedras e dos entulhos).
Quis ignorar, mas a mulher já abria a porta do veículo e acenava para mim. De longe eu não reconheci, não enxergo nada direito àquela distância, mesmo com os óculos. Estava apressada, entristecida e chateada por não ter conseguido encontrar o saco de bombons para levar doçura aos presentes na capela do cemitério, diante da secura de uma despedida final.
Ela meio que correu ao meu encalço, olha, desculpa, esqueci seu nome. Era uma das moradoras do bloco D, o bloco vizinho. Também não me lembrava do nome dela, mas sabia que era mãe da Laura, a garota loira que costumava brincar com o meu filho mais velho quando eram pequenos.
Sabe o que é, virei síndica do meu bloco e, numa vistoria no quarto onde ficam várias coisas do condomínio, encontrei um álbum de fotografias que está lá faz tempo. Os porteiros disseram que tentaram descobrir de quem era e já haviam perguntado para todo mundo e tal. Tudo em vão. Quando eu vi as fotos percebi que eram suas. Posso deixar na portaria do seu prédio mais tarde?
Gente, como é que um álbum de fotos minhas foi parar no quarto da bagunça de outro bloco? Que fotos seriam estas? Meu Deus, que tipo de fotos seriam essas? Bizarro. Assustador. Maluco.
O sábado transcorreu pesaroso e apenas no domingo ouvi o interfone: olá, dona Luciana, a senhora Cláudia do bloco D deixou um álbum de fotos para a senhora aqui na portaria. Desci correndo.
Eram fotos de 2004, estava grávida do Tomás, o amigo da Laura na infância. Barrigão de terceiro trimestre sob um vestido que eu gostava bastante. Os cliques mostravam o casal de amigos Evelyn, Rob e a pequena Evelina (moradores de Nova Iorque) na chácara de uma de minhas irmãs. Era a primeira vez deles em Brasília. Mamãe vivia e sorria com todos os seus dentões parecidos com os meus. Neste dia, ela preparou uma rabada inesquecível. Rob não conhecia a iguaria e quase passou mal de tanto comer o “oxtail? Unbelievable!”.
Havia, também, registros da minha barriga na cachoeira da fazenda dos meus pais, um pouco antes do Lago Corumbá IV encobri-la de nossa convivência para sempre. Uma tragédia.
Como este álbum foi parar lá embaixo? Como ficou esquecido por tanto tempo? E se fossem nudes? Hahaha. A história teve um final feliz, mas permanece o mistério de seu início.
Estas coisas acontecem com vocês?
Loucuras do universo, brincando de esconde com a gente. Foto linda, com sorrisos magicos.
ResponderExcluirQue legal as surpresas agradáveis da vida.
ExcluirLuciana, que fantástico!!
ResponderExcluirO "re-aparecimento" do seu álbum de fotos!!
Como pode?
Esse episódio merece uma investigação histórica!!
Paulo Magno
Lu, amei a foto e o sorrisos.
ResponderExcluirA Tia sempre com essa luz a sair da boca, né?
Beijos
Menina, cara de moleca.
Fabíola Taveira
Maravilhoso recuperar uma preciosidade dessas 😍
ResponderExcluirMônica Ramos Emery
Que "doidera", tudo isso!!
ResponderExcluirMas resgatar ou melhor, receber, de bandeja, esse álbum do "além", realmente um acontecimento raro e gratificante...
A foto é de fato, linda, especial!!
ResponderExcluirEu sou a Evelyn, a amiga nas fotos do álbum encontrado. Luciana! Que loucura boa! Que será que o universo está tentando dizer para a gente?
ResponderExcluirQue história Lu! Adorei!😘
ResponderExcluirMaria de Fátima Venceslau
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito boa história.
ResponderExcluirAlgumas coisas só acontecem com a gente mesmo. Cada um com as histórias peculiares que lhes cabem.
Priscila Mattos
Luciana prima querida. Jesus é maravilhoso o tempo todo. Memórias para serem guardadas para serem revistas com amor e alegrias…
ExcluirVamilda.😘😘😘
Oi Vizinha!
ResponderExcluirAcabei de ler o seu texto e queria compartilhar como ele me tocou. Ri muito com suas histórias e a maneira engraçada como você descreveu essas situações únicas (ou nem tão únicas assim, haha!). Me trouxe uma alegria gostosa, mas também uma sensação saudosista de tempos passados, especialmente ao falar das lembranças esquecidas.
Senti uma espécie de nostalgia ao ler sobre o álbum de fotos perdido e encontrado, como se ele guardasse não apenas memórias suas, mas também de momentos que eu vivi de forma parecida. Talvez seja o clima friozinho de Brasília hoje que temperou esse mix de sentimentos em mim, mas só sei que sua escrita tem essa magia de resgatar emoções adormecidas.
Obrigada por compartilhar algo tão pessoal e divertido. Adorei!
Mds, realmente um mistério de como essas fotos foram parar no bloco vizinho kkkkk!
ResponderExcluirO seu sorriso parece muito com o da vovó mesmo! ❤️
Renata Assunção
Adorei a história, hahah e se fosse nudes🫣🤭😂, mas a pergunta que não quer calar… como esse álbum foi parar lá? E vc que ama fotos, não sentiu falta dele?🤔
ResponderExcluirMistério…
Hahaha e se fosse nudes?!🤭
ResponderExcluirAdorei, mas a pergunta que não quer calar… como esse álbum foi parar lá? E vc que ama fotos, não sentiu falta dele?🤔
Mistério…
Djelaine Castro
Massa, gostei da história!
ResponderExcluirAndré Torres
Apesar de misterioso, muito legal, Lu!
ResponderExcluirQue coisas da vida, hein, Lú! Que a surpresa boa do reencontro das fotos. Que ele acalente o dia triste da despedida. Que sua irmã e sobrinhos sejam aparados por Deus. Texto leve, delicioso de ler.
ResponderExcluirRenata Assumpção
Amei!!!🥰
ResponderExcluirCyva
Ameeeeiii 🤩🤩🤩🤩
ResponderExcluirFiquei chateada com o afogamento da fazenda. Já escreveu sobre isso? A casa onde passei a infância virou uma Droga Raia. Ou seja , a antiga só existe nas fotos e na minha cabeça. Que louco isso... Só existe enquanto eu me lembrar dela 🤨
Beijinhos e aguardo mais textos 🥰🥰´
Karla Liparizzi
Uauuu Lu que louco…mistério!!!isso dá até um filme O álbum perdido ou esquecido 😂😂😂
ResponderExcluirCynthia
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirAdorei essa história! Deve ter sido uma mistura de sentimentos esse reencontro com um pedaço do passado...
ResponderExcluirMárcia Renault
Oi Lu agira tô vendo realmente os misterios fazem isso mesmo com as pessoas?!obrigada irmã
ResponderExcluirQue história linda, Lu! Lembrei e senti saudade de sua mãe.
ResponderExcluirVirgínia
Que delícia de história!
ResponderExcluirE quem não tem uma para contar?
Tania Benn
Lu, que história, hein? Deliciosa!
ResponderExcluirComigo aconteceu algo do gênero. Quando eu era criança, minha mãe numa daquelas limpas que fazia na casa, doou meu livro "O Pequeno Príncipe" com linda dedicatória da minha tia e tudo. Sem dó. Fiquei magoadíssima. Eis que, quase 20 anos depois, estava eu trabalhando em uma biblioteca quando recebo uma caixa de doações. E quem estava lá? Meu livro de infância, são e salvo. Desde então, ele pertence ao acervo daquela biblioteca cheia de recordações e simbologia pra mim.