I love NY! Quem não?
Americanos são especialistas em "small talk", ou,
em bom Português, jogar conversa fora. Impressiona-me a habilidade cordial do
típico norte-americano em puxar papo dentro das lojas, nos metrôs, ônibus... Em
matéria de conversas despretensiosas, são quase imbatíveis. Já vivenciei
diversos diálogos nonsenses na rotina de dona-de-casa americana entre um supermercado
e outro. Desconfio que os ianques, uns solitários de primeira, desenvolveram
esse traço de comportamento para que pudessem sobreviver ao isolamento que se
auto-impõem atrás de suas portas e janelas bem adornadas. São capazes de papear
com a caixa da farmácia por cinco minutos sem se importarem com a fila que se
forma atrás. E os que esperam não reclamam, pois estão loucos para chegar a vez
deles de interagir.
Se você conhece bem os cariocas, vai argumentar: ah, a gente
sabe bem do que você está falando. Mas não se enganem: os cariocas criam
intimidade na fila da padaria e, ao final de dez minutos, passam o endereço da
próxima festa na casa deles; algo impensável para os estados-unidenses. Eles
são corteses, gentis e polidos num nível no qual a privacidade não seja ferida
de modo algum. Ser convidado para fazer parte do círculo invisível que todo
cidadão americano tem ao redor de si é tarefa complicada. Eles se preservam com
unhas e dentes. São pessoas indoor, reservadas e intimistas. Preferem o inverno
ao verão, na maior parte das vezes.
Entretanto, não esperem small talks na cidade de Nova
Iorque. Os americanos são mais americanos nos subúrbios. A Big Apple é a
capital do mundo; babel de culturas e comportamentos diversos. Como toda
megalópole, é bastante estressada e, consequentemente, apressadinha. Não deixe
para escolher o tipo de café que quer tomar quando estiver na boca do caixa.
Ensaie o seu pedido uns minutos antes; tenha-o decorado na ponta da língua,
caso contrário, tudo o que vai receber do atendente é: "next one,
please".
Os new yorkers não têm tempo a perder, não têm paciência,
não querem nem saber. E você ficar lá, com jeito de idiota, em meio a tantas
opções: regular, small, tall, large, decaf, machiatto, moccha, expresso etc,
etc, etc. Resumidamente, mais do mesmo. Seis por meia dúzia. Café americano é
ralo e sem graça, mas é imperativo sair com um daqueles copos fumegantes nas
mãos (ou se for no verão, bem geladinhos) a caminhar pelas calçadas apinhadas
de gente de Manhattan.
Você se sente num filme e é óbvio que sim, pois já
assistiu à dezenas de cenas como essa nas telas dos cinemas. O fato é que a
cultura ocidental moderna e contemporânea é imensamente influenciada pela
sétima arte hollywoodiana. E outro fato incontestável é que Hollywood, assim
como boa parte da humanidade, caem de amores por New York City.
É fácil entender as razões. A metrópole tem de tudo para
todos. Você pode ser pop, erudito, hip-hop, funkeiro, fashionista, clássico,
heavy-metal, bluesman, rock and roll, brega, palhaço ou sisudo. Ou seja: who
cares? Em NYC você cria o seu próprio espetáculo. O seu passeio exclusivo, que
pode incluir visitas às locações de filmes badalados rodados na cidade, por
exemplo. Ou o circuito de ópera no complexo do Lincoln Center + musicais da
Broadway na alucinógena Times Square + jam session no clube de jazz Village
Vanguard, onde ótimos músicos embalam todas noites da semana com improvisações
geniais.
Se você gosta de namorar vitrines de luxo, subir a Quinta
Avenida até encontrar o Central Park é a sua pedida. Ou se prefere experimentar
a galera mais underground, passear no East Village é essencial. Da minha parte,
curto um pouco de tudo, pois o melhor dos cinco distritos que formam a grande
Nova Iorque (Manhattan, Brooklyn, Staten Island, Queens e The Bronx) é bater
perna o dia inteiro. Por isso, um pouco de condicionamento físico e um bom par
de tênis são itens fundamentais na bagagem.
E se vamos caminhar pra caramba, é importante que forremos o
estômago. Comer bem em Manhattan pode sair muito caro. O melhor
custo-benefício, sem dúvida, são os restaurantes indianos e tailandeses.
Autênticos, deliciosos e espalhados pelas várias vizinhanças. Mas também não
tenha medo de provar o indefectível hot-dog de qualquer carrocinha do Central
Park. E na terra do hambúrguer, esqueça McDonald's. Wendy's, Smashburguer,
Shake Shack ou Five Guys fazem mais bonito e saboroso.
Barriga cheia, siga o fluxo. Quando a gente menos espera, dá
de cara com a cena de um filme, como outro dia aconteceu comigo. Descia a East
42 street para chegar até o edifício-sede das Nações Unidas (ONU) - taí, se
você é do tipo engajado em política e outras questões sociais, pode ter o
prazer de fazer uma visita guiada à ONU, baseada em prédio desenhado por nosso
arquiteto-mor: Oscar Niemeyer. Recomendo. Mas, como ia escrevendo, descia a 42
quando, de repente, vislumbrei o The Daily News Building, no qual o saguão
serviu como locação para o fictício 'The Daily Planet', jornal do primeiro
blockbuster de super-heróis da história das telonas: Superman! Aquele com o
Christopher Reeve no papel de Clark Kent.
É divertido ir descobrindo a cidade assim, sem aviso-prévio.
Contudo, a maioria dos turistas não dispõe de tempo suficiente para curtir
todos os cantinhos interessantes de Manhattan. Então menciono dicas muito
pessoais de uma pessoa que não faz o estilo turistona. Não gosto dos pontos
mais badalados, sem contar que Manhattan está cada dia mais lotada de
visitantes. A impressão que dá é que a cidade vai supitar a qualquer momento.
Portanto, se for possível, marque a sua viagem para meados de setembro/outubro
(início do outono, fim das férias de verão no hemisfério norte, meio do semestre
escolar no hemisfério sul). Além de apreciar a cidade menos engarrafada, ainda
curte a estação do ano mais linda que existe, na minha modesta opinião nada
isenta. Tá duvidando? Assista "Outono em NY" e vai concordar comigo.
A segunda época menos entupida de turistas é na primavera daqui (entre março,
abril e maio). É bonito também, porém chove com mais frequência.
Sabe aquelas listas de os/as dez mais-mais que impregnam as
redes sociais? Duas das consideradas mais bonitas bibliotecas do mundo estão em
NYC: A Public Library of NY, encravada com toda imponência na já imponente
Quinta Avenida, e a J.P.Morgan Library (na Madison Ave.), menos visitada, mais
discreta, porém igualmente bela. São dois lugares imperdíveis na Big Apple. Na
biblioteca pública você entende bastante do espírito americano: grandioso,
tradicional, reverente ao mundo do conhecimento. Você também pode se lembrar de
uma das famosas cenas do clássico dos anos 80: Ghostbusters.
Na Morgan, você se sente na Idade Média. Dá pra imaginar um encontro com Sean Connery vestido de monge em "O Nome da Rosa" entre as estantes magníficas. O banqueiro que dá nome ao lugar era um colecionador requintado: uma das preciosidades do acervo da Morgan Library é o único livro escrito pela então escrava norte-americana Phillis Wheatley.
Na Morgan, você se sente na Idade Média. Dá pra imaginar um encontro com Sean Connery vestido de monge em "O Nome da Rosa" entre as estantes magníficas. O banqueiro que dá nome ao lugar era um colecionador requintado: uma das preciosidades do acervo da Morgan Library é o único livro escrito pela então escrava norte-americana Phillis Wheatley.
Falando em Idade Média, não deixe de visitar o "The
Cloisters", museu em forma de claustro europeu montado com partes inteiras vindas de mosteiros da Espanha e Portugal. As obras de arte também são do período
medieval, todas trazidas da Europa pelo visionário e colecionador John D.
Rockefeller (sim, um dos filhos do magnata das ferrovias americanas). É um
lugar mágico e não abarrotado de turistas. Além disso, conta com uma vista
maravilhosa do Hudson River, que banha o lado oeste de Manhattan.
Já citado aqui, o complexo cultural Lincoln Center é
fenomenal! Reúne três casas: Metropolitan Opera House, NY City Ballet House e
NY Philarmonic Orchestra House. Você pode comprar ingressos para qualquer uma
delas pelos respectivos sites, e é melhor fazer assim, uma vez que se esgotam
com rapidez. Assistir à super produção de uma ópera, num dos templos sagrados
mundiais e a preços módicos para NY (35 dólares o mais em conta): não tem
preço. Os ingressos para a temporada de balé e para a orquestra costumam ser
mais salgados, porém valem o investimento.
Aprecio muito atravessar a Brooklyn Bridge a pé na direção do Brooklyn. Infelizmente, milhões de turistas já descobriram o meu segredo. De
qualquer modo, é uma caminhada magnífica, na qual você vê todo o famoso skyline
de Manhattan, incluindo a Estátua da Liberdade, o Empire State Building, a
Tower One (construída para honrar as Torres Gêmeas). Chegue ao outro lado sem
pressa, enfrente a fila para o sorvete na Brooklyn Ice Cream Factory e se jogue
num dos muitos bancos ao redor do calçadão para esperar o sol se pôr detrás dos
arranhas-céus da ilha. É o espetáculo gratuito mais grandioso de
Manhattan.
Sobre NYC já se escreveu e ainda se escreverão muitos
livros, filmes, manuais, guias turísticos, teses, poesias ou letras de música.
A cidade mais celebrada do planeta é fonte eterna de elegias. Por isso, digamos
que esse texto apresenta apenas um certo olhar de quem viveu na cidade por dois
anos e meio. Faltaram muitos outros pedacinhos especiais da Grande Maçã, mas
paremos por aqui. Lembre-se que NYC espera que você escreva a sua própria love
story com ela. Vamos lá, trace o seu roteiro original e enjoy!
Obrigada Lu! Adoro sua (inteligente) forma de ajudar as pessoas com seu dom de misturar as letrinhas e montar frases que nos levam além!
ResponderExcluirDani Maia
Esse texto é show, devia estar numa revista tipo Elle!!!!
ResponderExcluirBeijos afobados,
Ana Cris
Adorei, my friend!
ResponderExcluirMarisa Reis
Adorei!!!
ResponderExcluirAmei,Lu!Excelentes observações sobre a Big Apple!
ResponderExcluirSimone Aragão
Uau, Lu! Muito bom!!! Já copiado e anotado para quando der certo de eu ir! Você é top!!!
ResponderExcluirÔba, estava, ansiosamente, aguardando o roteiro de sua temporada novaiorquina. Amei.
ResponderExcluirBeijos!
Marcita
Luciana, gostei demais ! É o documentário mais colorido, mais convidativo, mais convincente que já encontrei. E mais sonoro: dá para "ouvir" o barulho do trânsito, o som de sotaques internacionais ...,"ver" a cor do outono... Você, realmente, nasceu expert em trilhas sonoras... e visuais. Obrigada pela reportagem. Enquanto minha passagem não chega, vou me consolando, muito, ao assistir seu documentário !
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