"Se você disser que eu desafino, amor..."
Enfim o ontem chegou, recheado de coisas especiais, como o aniversário de 4.0 do meu sobrinho primogênito e também a primeira aula no "Women's Vocal Ensemble" do Conservatório de Música de Westchester.
Eu e minha boca grande ou cara de pau, no que fui me meter? Entro no Conservatório, que fica pertinho de casa, alguns quarteirões na noite densa (apesar de ainda não ter dado sete e meia). O rapaz da recepção me explica que devo subir a escada e entrar na sala 200. No caminho, vou passando por maravilhosos instrumentos sendo executados por alunos aplicados em salas de ensino individual. Uma atmosfera que já dava uma pista de que ali ninguém brinca em serviço.
Alcanço a porta da sala de ensaios e vislumbro cinco mulheres aguardando sentadas debatendo a atuação de Tom Hanks no filme Sully. Entender inglês eu entendo perfeitamente. Meu ouvido já é capaz de acompanhar todo o debate HillaryXTrump sem necessidade de legendas.
Era a primeira vez que eu estava num ambiente de sala de aula totalmente norte-americano. A única forasteira ali era eu. Em todos os sentidos, para o meu pânico.
De repente, surge a professora. Uma diva! Puta experiência em ópera, em montagem de musicais, em lecionar... Todas as outras alunas, três senhoras na casa dos 60 e as outras duas mais ou menos da minha idade também tinham passagens prévias em corais, em aulas de canto enquanto eu, a sem noção, venho de participações no "Corte em Canto" do STJ e na Sereneta de Natal da UnB (Ok, rolou um curso de canto-coral na Escola de Música de Brasília, but...).
Tratei logo de dizer que era completamente amadora e que só gostava de cantar, apenas isso. Esclareço para vocês que quando me inscrevi, li na proposta do curso que se tratavam de aulas abertas a qualquer pessoa, não era preciso ter experiência.
Mary Elizabeth (as conexões telúricas de sempre, né, Maria Elisabeth Ratz?) pergunta se todo mundo sabe ler música. Hahahaha! I don't!, responde a impostora.
Tô quase para sair de fininho da sala, mas há outra aluna que também não lê, ufa! A regente distribui uma peça em latim, senta ao piano e faz todo mundo cantar. Depois, lasca um "spiritual" bem igreja batista do Harlem e pede pra gente bater palmas e dançar. Ok, me safo, ela percebe: "você sabe dançar!" Bem, sou brasileira, respondo. "Sim, não esperava menos de você", ela afirma de forma assertiva (característica mais americana, impossível), tocando furtivamente seus cabelos esvoaçantes. E fomos nessa toada até o fim, quando ela concluiu: "You have a lovely voice". Quase derreti, virei suquinho de caju...
Não sei se vou conseguir acompanhar o ritmo das aulas nada iniciantes, mas vou tentar. Espero, com ansiedade, que outra zezinha como eu se junte ao coro. Ou que uma das velhinhas, a mais simpática, me adote. "É fácil aprender a ler música, você tem um piano em casa?" Ó, quanta delicadeza e inocência dessas americanas classe média-alta de Westchester... Depois me disse que adora Astrid Gilberto e fica feliz por eu saber quem ela é. (Só não confesso que não gosto dela, nem do pai dela e nem da irmã dela). Pra quê discutir com madame, né?
PS: a foto que ilustra este post é um detalhe do carpete que decora todo o Music Conservatory of Westchester
Espiem o currículo resumido da teacher:
MARY ELIZABETH POORE
Classical Division: Voice
Degrees and Studies
B.M. and M.M., Indiana University
Music Conservatory of Westchester
Faculty since 1993
Born in: Mt. Pleasant, Michigan
Performances and Distinctions: Ms. Poore has performed throughout the United States at venues including Carnegie Hall’s Weill Recital Hall, the Brooklyn Academy of Music, Merkin Concert Hall, and the Detroit Opera House, and has performed with groups including Michigan Opera Theater, Orlando Opera, Virginia Opera, Mobile Opera, Des Moines Metro Opera, Sarasota Opera, Glimmerglass Opera, and Lyric Opera of Cleveland. She has recorded for labels including Capstone Records, Living Artist Recordings and Newport Classic Records. She was a national winner of the National Federation of Music’s Young Artist of the Year, a first prize winner of the Oratorio Society of New York, a winner of the Distinguished Performance Award of the Minna Kaufman Ruud Fund and a finalist in the Bayrische Rundfunk Munich International Vocal Competition. A devoted music educator, Ms. Poore has taught at the Turtle Bay Music School and is currently on the faculty of the Bel Canto Institute in Florence, Italy.
Que máximo sua descrição, me senti aí na aula!!
ResponderExcluirElisabeth Ratz
Não desista! �� Solta o gogó aí!
ResponderExcluirGeysa Bigonha
Luciana de Deus!! Vc é uma escitora nata...parecia que eu estava lendo um livro daqueles que a gente não quer parar até ver o final....narrou com esmero total ! Parabéns! ! Tenho mt orgulho de ser sua tia...
ResponderExcluirAmbrosina
Ui, gelei aqui. kkkk
ResponderExcluirAna Claudia
Experiências intensas, relatos envolventes, fotografias belas... que momento bom esse, Luzinha. Viva, viva, cante.
ResponderExcluirIsa Frantz
Mais uma história MARAVILHOSA!!! Adorei! Força e em frente! Estamos te acompanhando daqui!!!!
ResponderExcluirAnna Gabriella
Porque Cantar
ResponderExcluirParece com não sofrer
É igual a não se esquecer
Que a vida é que tem razão...
Mônica Ramos Emery
Odeio carpete, mas este está lindo!!! E mande ver na aula de "zumba cantante" by Mary Poore!
ResponderExcluirAna Cristina
You have a lovely soul, Lu!
ResponderExcluirAnd lovely voice!
✨��
Juliana Tavares
Adorei tudo ...audácia....o texto fiel..viver sem medo. É isto.
ResponderExcluirSocorro Melo