Balançando...





Jornalistas gostam de escrever balanços. Eu gosto é de balançar... Deve ter sido por isso que primeiro fiz Publicidade, era mais lúdico. De qualquer modo, vamos lá soltar o meu verbo. Sim, meu. Teve gente aqui no FB que disse que eu não estava no meu “normal” quando critiquei veementemente os que iriam torcer para a Argentina na final. Quando tive vergonha dessa seleção brasileira pífia, a pior que já tivemos em todos os tempos. 

Sim, era o meu normal. Eu sou passional, visceral e na lata. E não gosto de futebol de quatro em quatro anos. Eu gosto de futebol desde que me entendo por gente. Frequento estádios há anos e já tive, inclusive, a prazerosa chance de ver a seleção brasileira disputando uma vaga nas eliminatórias contra o Equador num Morumbi lotado (80 mil pagantes)! O esporte é parte da minha vida e quase me formei em Educação Física de tanto que sou apaixonada por quase todos eles. Todavia, futebol e dança são Arte! Recebem maior carinho do meu coração... 

Por isso, essa Copa foi tudo de bom! Na minha casa! Curti desde o primeiro momento. Não fiquei nesse mimimi de que a Copa seria a nossa ruína. Não foi. Não acredito que o futebol seja o ópio do povo. Se bem que nesses 32 dias eu tenha me esquecido do lenga, lenga do inventário que praticamente destruiu a minha família; da quase morte do meu sobrinho-neto; da minha insônia crônica e da minha falta de dinheiro (também crônica). 



Nesses 32 dias, vibrei em cada jogo (O.K., na partida Irã X Nigéria não dava pra fazer milagres). Mas no resto? O resto foi bola rolando na rede e no peito. Não sou brasileira de quatro em quatro anos. Eu sou sempre. E por isso sofri, chorei e me deprimi com aquela derrota pornográfica. E por ser brasileira sempre, não podia admitir que a Argentina levasse a taça pra esfregar na nossa cara. 

Recebemos, nesse mês, várias nacionalidades dentro de casa. Não pelo dinheiro, mas pela vontade de confraternizar, de globalizar, de sorrir e sentir a emoção de um evento galáctico mais de perto ainda. Foram brasileiros, hermanos, colombianos, americanos e australianos. Tudo na maior alegria, comunhão e respeito, que é o que deve imperar numa competição desportiva. 

Compramos nossos ingressos pelo sorteio assim que a Fifa abriu as comportas. Queríamos ver os sete jogos daqui de Brasília, conseguimos três. Mas nos demais estávamos lá, na beira do Mané Garrincha para sentir a vibração. E vou dizer, tenho pena de quem abriu mão deliberadamente desses momentos históricos. Essa oportunidade de ser mais vivo, mais global, mais infantil! Tanta gente desprezou a Copa, deu de ombros, viajou para o meio do mato... Só tenho a ratificar: Perdeu, irmão, perdeu! 

Parabéns para os brasileiros, que demonstraram o que eu já sabia: somos bons anfitriões! Hospitaleiros e batuqueiros, sem “tempo ruim”. Parabéns, Alemanha, a melhor seleção desde sempre! O que foi aquela pajelança ao redor da taça no Maraca, hein?? Lindeza!!! Nossos ancestrais, deuses e guerreiros indígenas fecharam com os germânicos naquele feliz encontro entre os jogadores e os pataxós. Ninguém deu muita bola e veja no que deu... 

E ainda tem antropólogo, sociólogo e historiador com esse papo de “copa sul-americana”, unidade da América Latina, quando foram justamente os alemães os mais latinos dos latinos. Como bem ressaltou Trajano, craque do jornalismo esportivo: “A seleção alemã entendeu o Brasil muito mais do que a própria seleção brasileira”. Eles não se esconderam; não se encastelaram, não deram uma de gostosos (ficamos mais de três horas na frente do hotel em Brasília esperando um alô dos nossos atletas e eles desprezaram a presença da torcida, repleta de crianças esperançosas e febris). 



Mereceram muito! Totalmente! O primeiro título da Alemanha unificada. Quanto simbolismo! E quem era mais unido do que eles em campo? Venceu o conjunto, o coletivo e não o individualismo que impera nas relações mundanas atuais. Não havia estrela solitária, havia time! A vitória do profissionalismo em cima do jeitinho; do trabalho duro em cima da falta de comprometimento. Se a Argentina vencesse, seria injusto. Seria continuar mostrando ao mundo que é possível ter um futebol corrupto e ser campeão. Como eu sou careta, prefiro a ética, ainda que utópica. 

Estou esgotada mental, física e emocionalmente, mas estou besta de contente. Vou sentir falta dessa adrenalina, pois vicia fácil. Vou sentir falta de ver o Linha de Passe e os debates futebolísticos do canal SportTV (coisa que jamais fiz na vida, apesar de gostar tanto da paixão nacional). Guardarei para sempre a emoção genuína de cantar o hino a capela com 67 mil pessoas. A voz embargada, as lágrimas na face. E pra quem conferiu - ao vivo - Robben aos 30 correr como se tivesse 18 numa disputa inglória de terceiro lugar, fica clara a sacanagem de não lhe terem coroado com a bola de ouro.

Vou sentir falta dessa convivência multifacetada com gentes de todas as partes. Mas vou continuar torcendo para que nosso país tenha aprendido um pouquinho. Que tenha se civilizado mais um bocadinho. Que o futebol brasileiro seja uma fênix para que meus filhos se esqueçam do vexame de agora e possam chorar de alegria - como eu já chorei - em copas futuras! 





Comentários

  1. Nossa!!! É isso Lu!!! Parabéns pelo texto!!! Disse tudo!!! Peço permissão pra compartilhar ;))

    Pedro Caldas

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  2. É isso aí, Lu! Festa maravilhosa, curtida desde o primeiro instante. Vai ficar o gostinho de "quero mais"!

    Beijos,

    Claudinha Morum

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  3. Te reconheço em cada palavra! Daquela que vive o que fala e fala o que vive! (Tem sentido essa frase? kkk!) Continue balançando! (Sei que não preciso dizer isso)!

    Patty

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  4. Muito bom o seu discurso,ou melhor,o seu apaixonado desabafo... Pura Lu!
    Bjs,

    Cynthia.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. linda foto, lindo texto, linda alma. beijinhos!!

    Renata Gonzaga

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  7. Tem razão. Perdeu quem não foi. Já sinto saudade do clima de alegria e festa que tomou conta do pais inteiro. aqui, em frente de casa, a fan fest era uma alegria geral, uma babel, tantos gringos por la apareciam e curtiam tudo que podiam. comprei os ingressos que consegui e fui, e foi ótimo. afinal,. participar da historia não é todo dia que temos esssa oportunidade. copa no Brasil de novo, quando? mesmo com a decepção completa do nosso time, tudo foi ótimo. também recebi canadenses e colombianos em minha casa, e sempre se mostraram surpresos com o que é o brasil e seu povo. o mundo esta dizendo isso, que a nossa mídia não mostrou. ganhou o brasil e nosso povo. tenho um filho que mora em Toronto e ontem , ao me ligar, me disse. Pai, estou em alta aqui. brasileiro esta com todo cartaz do mundo. belo texto. bom dia!

    Severino.

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  8. Nossa, que lindura de texto...escreve mais LUCIANA!

    Socorro Melo

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  9. Amei!!!! Parabéns por escrever tão lindamente.....concordo com tudo....apesar de não curtir muito futebol, só na copa assisto, mesmo tendo 2 fanáticos por futebol em casa...

    Bjs,

    Marina Caldana.

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  10. Lindo demais!!!

    Fabíola Rech

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  11. Querida Xará! Tive uma inveja boa por 5 minutos (queria ter escrito esse texto seu, que graças a Deus, alguém disse que depois de escritos os textos são do mundo!) Muito bom, muito lindo, espontâneo e formado nas entranhas, regados com felicidade! Eu a invejei tbm pq não vivi a Copa assim... preferi ficar de olho no camarote dos Villaba. no meu velho pai, brasiguayo. Ele torceu como nunca para a seleção brasileira! Eu tinha que estar ali, ao lado dele, quando ele se engasgava com o hino cantado à capela, quando perdia a voz quando o meio-campo (nem sei se era meio campo) perdi a bola e entregava o ouro... A Alemanha foi demais mesmo... ou melhor, foi a conta certinha! Inclusive, quando meteu aqueles cinco no primeiro tempo, por incresça que parível, acalmou muitos corações brasileiros. Belo, texto, querida Xará! Um forte abraço pra vc, pro físico e pros moleques!

    Luciano Villalba

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  12. Lindo texto, Lu!
    Reflete muito do que, na lista TOP 10 do sedentarismo, penso e pensei sobre e durante a Copa. Ontem à noite estava tentando roubar o controle da televisão da mão do Geraldo para ver SporTv rsrsrs. Nunca dantes!!!!! Extra ordinários, então, um barato, tirando aquele gauchês forçadíssimo do EGOcêntrico Peninha e a Maitê, muito linda, mas muito flutuante nos comentários, ora bem bons, ora dispensáveis.
    Assisti a quase todos os jogos - nunca dantes II - e me envolvi demais com aquelas seleções guerreiras, que não têm suas estrelas de red carpet, mas que suavam a camisa até o final do final do final. Maravilhoso. Sangue nas veias, adorei!
    E a Alemanha realmente merece a taça. Embora eu tenha achado meio folclóricas algumas coisas, acredito que a visão de coletivo transmitida por eles foi algo ímpar. A feição de êxtase daquele garoto que fez o gol no finalzinho é linda, tão genuína.
    E a seleção do Brasil que encontre seu rumo. E o Messi que melhore aquela cara!!!

    Beijão,
    Ana Cristina

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  13. muito bom!!
    como será a Copa na Rússia, hein?!
    beijo,

    Giovana.

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  14. É isso aí: curtir o esporte de forma bem alegre e saudável. Parabéns, família!

    Márcia Romão

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