Coração na boca

  

Assim se passaram dez anos
Sem eu ver teu rosto
Sem olhar teus olhos
Sem beijar teus lábios assim
Foi tão grande a pena
Que sentiu a minha alma
Ao recordar que tu
Foste meu primeiro amor
Recordo junto a uma fonte
Nos encontramos
E alegre foi aquela tarde para nós dois
Recordo quando a noite abriu seu manto
E o canto daquela fonte nos envolveu
O sono fechou meus olhos, me adormecendo
Senti tua boca linda a murmurar
Abraça-me por favor minha vida
E o resto desse romance só sabe Deus

(Rafael Hernandez)

Tá, tá bom, não precisa empurrar! Ei, beliscar não vale, né? Tá, tá, eu conto! Eu conto! Comprei o guia Minha Nova York daquela debiloira da TV (redundância?) Didi Wagner. Pronto. Contei. Me entenda, gente: eu não gosto de dar dinheiro para quem acho que não vale a pena. Entretanto eu precisava me atualizar sobre a Big Apple e talvez ela, a debiloira, tivesse algo minimamente diferente para dizer. Afinal, a menina morou anos na cidade e de lá apresentava o programa Lugar Incomum, no canal Multishow.

Eu tentava assistir Lugar Incomum de vez em quando, mas era sofrível, pois Didi, assim como a maior parte das apresentadoras de programas com bons argumentos, não tinha nada mais tocante para acrescentar. Más nós duas temos algo em comum: fizemos Comunicação Social. Uma faculdade que aprendi, dolorosamente, estar mais para as debiloiras do que para as pretensas intelectuais. Taí porque a menina lança guia de NY e apresenta programas maneiros enquanto eu estou aqui, “nessa de horror”.

Devia ter seguido a sugestão da minha madrinha e ter me tornado uma advogada. Ou mesmo antropóloga, para abrir a boca e despejar tese em cima dos amigos. Háháhá, essa é boa!!! Tô ficando totalmente maluca, só pode! Deve ser TPMVNY (errou quem pensou em nome de rádio americana. É tensão pré-viagem para NY). Até ontem não tinha caído a ficha. Eu tava de boa, ar blasé, assim, OK, vou para Nueva Iorque, e daí? Nada demais. Eu até já morei lá, essas coisas.

Só que não é nada disso. NY é o umbigo da civilização ocidental. É a cidade sem para-raios da humanidade (definição que roubei do livro que estou lendo, muito bom, chamado “Uma crença silenciosa em anjos”. Não, não é autoajuda e esoterismo. É um policial bacanérrimo). E só ontem eu me dei conta de que eu vou mesmo. É na sexta. Meu coração se aperta há 48 horas. Uma emoção angustiante e vibrante ao mesmo tempo.

Então fui até a Livraria Cultura atrás do guia da Didi. Achei. Pequeno, de bolso, prático e descolado para carregar na bolsa. Ponto para ela ou para editora, ou para as duas. Entrando no clima cosmopolita, sentei na sorveteria-café Freddo e comecei a folhear o livrinho com sofreguidão... A primeira coisa que procurei, claro, foram as dicas de “onde comer”. Eu tenho mente gorda, confesso. É um mistério eu ainda não ter sucumbido de vez à obesidade...

Ej’s Luncheonette chamou logo a minha atenção. De acordo com a debiDidi, é um legítimo diner americano com um dos melhores waffles e “flapjack pancakes” de NY. Tô dentro! Aos poucos, saboreando meu freddo duplo de Tramontana e Frutti di Bosco, eu fui entrando naquele universo tão familiar, resgatando os sons e a fúria da metrópole do mundo...

Lá estava, nas dicas de compras, a loja Anthropologie. Achei fofo a debiDidi falar da minha loja de estimação em NY... Acreditava que só eu notava a existência dela. Eu costumava babar em frente à vitrine dessa loja. Mas era jeca2, mais dura do que poste. Nunca comprei nada daquelas peças “brechó de mentira”... Só entrava e namorava. Agora minha vingança será maligna! Vou curar a dor de cotovelo!

E debiDidi também conta do teto da Grand Central Station e eu também amo o teto da Grand Central Station, com sua constelação zodiacal... E dá o bizu da CVS Pharmacy, o paraíso para quem quer comprar quinquilharias e papelaria, como os cartões Hallmark mais cutecutes do planeta. E das bargains de livros na deleitável Barnes and Noble.

Didi também revela o segredo maravilhoso que é atravessar a ponte do Brooklyn a pé. Quem mandou, debinemtãodebi assim? Ou eu sou mais debi do que eu pensava ou a Didi Wagner não é das piores loiras da TV.

Inveja é foda, mas não mata!

Trilha para véspera do retorno à NY:

http://www.youtube.com/watch?v=_x2wQUlYik8