O Velhinho e a Aeromoça
Eis o último texto da saga "Portugal". Espero que tenham gostado das minhas peripécias lusas e que eu faça outra viagem que renda tantas ideias como essa me proporcionou. Curtam o feriado e inté!
O Velhinho e a Aeromoça
Que massada é viajar de avião! Da tecnologia espero apenas que um dia a gente possa se teletransportar. É pedir muito?
A comissária de bordo portuguesa passa com cara de parede e voz de gravação a recolher os fones de ouvido. Em poucos minutos estaremos em Brasília. Coisa estranha essa de estar em outro hemisfério em tão pouco tempo.
-Fones de ouvido, por favor...
O senhor septuagenário vê naquele grande saco plástico aberto ao seu lado a oportunidade de se livrar de todos os dejetos produzidos durante a travessia do Atlântico.
- Lixo não, senhor. Eu disse fones de ouvido. O lixo o senhor pode deixar no compartimento à frente da sua poltrona. O senhor tem fones de ouvido?, refaz a pergunta automática a autômata aeromoça. Se eu tivesse um trabalho desses a 36 mil pés de altura, também sucumbiria ao tédio.
- Fones? Ah sim, tenho. Mas eu vou levar para casa, pode?
- Não, mas eu vou fingir que não ouvi nada.
E ela tira o véu da indiferença, cai o pano. A comissária sorri, quase tem vontade de gargalhar, pressinto. Sei disso porque eu gargalhei. Ufa, ela provou que era humana afinal. Num meio de transporte estéril, gélido, apertado e desconfortável como aquele airbus, não é pouca coisa.
Uma cena dessas pode transformar a viagem de longa duração em pena mais suave. O colete salva-vidas sob o assento já não é mais necessário. A aeromoça e o velhinho de boné, que tamborilava no braço da poltrona, renasceram em mim a vontade de viajar.
Só para ter a oportunidade de experimentar momentos espontâneos assim (ainda que confinada em um avião).
O Velhinho e a Aeromoça
Que massada é viajar de avião! Da tecnologia espero apenas que um dia a gente possa se teletransportar. É pedir muito?
A comissária de bordo portuguesa passa com cara de parede e voz de gravação a recolher os fones de ouvido. Em poucos minutos estaremos em Brasília. Coisa estranha essa de estar em outro hemisfério em tão pouco tempo.
-Fones de ouvido, por favor...
O senhor septuagenário vê naquele grande saco plástico aberto ao seu lado a oportunidade de se livrar de todos os dejetos produzidos durante a travessia do Atlântico.
- Lixo não, senhor. Eu disse fones de ouvido. O lixo o senhor pode deixar no compartimento à frente da sua poltrona. O senhor tem fones de ouvido?, refaz a pergunta automática a autômata aeromoça. Se eu tivesse um trabalho desses a 36 mil pés de altura, também sucumbiria ao tédio.
- Fones? Ah sim, tenho. Mas eu vou levar para casa, pode?
- Não, mas eu vou fingir que não ouvi nada.
E ela tira o véu da indiferença, cai o pano. A comissária sorri, quase tem vontade de gargalhar, pressinto. Sei disso porque eu gargalhei. Ufa, ela provou que era humana afinal. Num meio de transporte estéril, gélido, apertado e desconfortável como aquele airbus, não é pouca coisa.
Uma cena dessas pode transformar a viagem de longa duração em pena mais suave. O colete salva-vidas sob o assento já não é mais necessário. A aeromoça e o velhinho de boné, que tamborilava no braço da poltrona, renasceram em mim a vontade de viajar.
Só para ter a oportunidade de experimentar momentos espontâneos assim (ainda que confinada em um avião).
Roseana Murray disse...
ResponderExcluirLulu, telefonei para a ed. FTD agora e ela vai dar uma olhada para ver o que está acontecendo com o livro Manual da Delicadeza. Eles dizem que não está esgotado, mas diante do teu comentário vão verificar de verdade.
Também gostaria que existisse teletransporte. Muito melhor que um airbus.Muito legal o teu blog. beijos, Roseana