Farofa com Cortázar
O marido, sem nenhuma pretensão de se tornar escritor, lera os grandes clássicos, muitos deles no original. Mas Isa tinha preguiça dessa erudição. Apetecia-lhe a imersão nas narrativas que lhe dessem ganas, sem obrigação de reverenciar os cânones mundiais. Relia, inclusive e com certa culpa pela falta de tempo costumeira, as obras amadas anos atrás. Isa era capaz de ler em inglês e espanhol, entretanto, sua alma onírica se sentia mais confortável em português. As traduções podiam às vezes derrapar, contudo Isa acreditava que a língua materna é exatamente o que o seu nome afirma: útero, aconchego, identidade. Percebera-se, no entanto, num dilema: estava sem novos livros de cabeceira. Havia saído de experiências densas com Milan Kundera e Patti Smith. Adoraria se embrenhar em histórias assombradas ou num rodopiante romance policial. Algo com cara de férias, enfim. Recorreu às estantes para se certificar de que não existiria nelas algum tesouro esquecido. Encontrou Laços de Família, ...