Rave Quântica
Plácida maneira de iniciar o sábado. Me acompanhe por favor, tire toda a roupa, fique só de calcinha e vista essa bata. Aqui está a chave do armário.
Ressonância magnética, aqui me tens de regresso. Desse vez, uma escaneada da cervical. Já fez esse exame antes? Sim, virei habituê. Cotovelo, joelhos. Sem falar naquela de acompanhante do filho, quando ele quase quebrou a cabeça no parquinho da escola.
Agora, estava preparada. Sabia que não podia balbuciar meus mantras, pois os vigilantes do lado de lá do vidro captam tudo. Quer um cobertor? Pode ser.
Entrei no tubão. Que a rave comece! Puta que o pariu, me esqueci que estou no climatério, tô assando aqui debaixo dessa coberta. Vou suar em bicas em três, dois, um e não posso me mexer.
Procure ficar bem quietinha, ao engolir a saliva, faça bem devagar e não movimente a boca. Tá, entendi, mas fazer sauna não estava no meu chart. Tentei abstrair, respirei fundo e mentalizei os sons do universo, missão complexa com tantos bate-estacas explodindo ao redor.
Embarquei na onda sem ecstasy. O DJ subiu o tom com um puncadão fuck, fuck, fuck, fuck, fuck, fuck, fuck. Peraí, não havia reparado a clareza da mensagem na última RM. Estou louca nas drogas para neuropatia ou apenas sinais dos tempos nefastos de Bolsonaroland?
Fuck, fuck, fuck, fuck… Trepada ad nauseam pouco a pouco deixa de ser pornô e vira uma de horror, pois Pennywise invade a minha mente, vindo dos confins dos esgotos mais apodrecidos, com sua boca imensa e serrilhada de Jaws a cada fuck mais close to me.
Engulo uma saliva às pressas, caraca, vão me dar bronca. Não deram, ufa. Mudam o beat. E a buzina do Chacrinha arrebenta do lado direito. Trombetas me ensurdeçam!
Abro os olhos e vejo a branquidão daquele céu dos trancers. Está tudo bem aí? Quase não consigo responder que estava sobrevivendo, apesar do torpor e do calor.
Estamos quase terminando é a voz do além que me chega no túnel de luz, porém sombrio. Recomeça a EDM com scratchs e sets mixados. Duran, duran, duran, duran, duran, duran é o loop daora e eu relembro as performances da banda inglesa que a galerinha das technoparties nem dare to dance. Don't save a prayer for me now, save it til the morning after, no, don't say a prayer for me now, save it til the morning after.
Se é que vai haver outro amanhã após tanta MDMA sem barato, só saco. Pronto, acabou, pode levantar com calma. Justo agora, quando estava me sentindo uma legítima clubber? Plur pra você também e até a próxima, Light Jockey!
KKKK... Morri de rir, Lulu!
ResponderExcluirAndréa Bolzon
Adorei, Lu, lisergia pura! Deu uns tunts tunts aqui para alegrar o fimde. Bjs.
ResponderExcluirEmmanuel Ramirez
Sensacional!
ResponderExcluirMateus Cellano
KKKKK!
ResponderExcluirClaudia Vasconcelos
Gostei! Nunca tinha pensado nos sons da ressonância. KKK!
ResponderExcluirRegina
Adorei o texto, Lu! kkkkk! Espero um dia te escrever um texto pós experiência RM e pós raves também... Creio que a RM não vai me deixar com ressaca moral como algumas raves deixam, mas tanto uma como a outra são experiências que todos têm que passar na vida pra estarem cientes de como está o corpo, a mente e o coração também!
ResponderExcluirIzabela Maria
Se eu te contar que durmo durante a ressonância, você acredita?
ResponderExcluirDavi Antunes
Hahahaha, me diverti muito lendo esse texto , sei exatamente o que vc passou, depois do meu acidente fiquei expert, só que vc deu uma bobeira, como asssim cobertor?!!!! A gente sua pra caramba!
ResponderExcluirCynthia Chayb
Quem já passou inúmeras vezes como eu sabe bem sobre o que você descreve. É uma viagem, me diverti.
ResponderExcluirÂngela Sollberger
Ri, mas com respeito. KKKK!
ResponderExcluirAnna Luíza Lima
Aplausos!
ResponderExcluirRenata Assumpção
Ai, que demais! A gente fica até agoniada de reviver esses momentos. Nada pior do que se sentir presa num caixão!!!
ResponderExcluirMuito bom, Lu
Ana Cecília Tavares