Ó céus, o Natal! É novembro e eu sobrevivo. Não quero montar árvore, não quero comprar presente, tô amuada. Logo eu, uma entusiasta das festas de fim de ano. A prima de São Paulo alerta: “essa energia atual é pesada”. Pió que é. Sinto a atração irresistível do buraco-negro querendo sugar toda a luz. “Tudo demorando em ser tão ruim”, desde que o samba é samba, desde que o país é país. O Brasil é uma história azeda desde que eu nasci. A gente releva, a gente disfarça, a gente sublima, a gente finge que não vê, a gente assiste à série finlandesa cheia de neve, a gente viaja, a gente mora fora, a gente tem filho e espera que o futuro seja melhor, a gente entorpece, mas volta a chorar quando a personagem da reportagem ainda mora numa tapera, a verdadeira casa “na Rua dos Bobos, número zero”: sem esgoto, sem e-le-tri-ci-da-de, porém almejando “uma aguinha gelada” para tomar. Há 40 anos vejo reportagens do Fantástico com os mesmos miseráveis do sertão n...