Ad Infinitum
O milagre acontecera e eu perdi o exato momento. Saindo do shopping (o que já é um evento raro para alguém como eu), caía do céu o maná cristalino. Do asfalto em brasa, subia vapores específicos de meses sem chuva. Odor de betume salpicado de alegria.
Brasiliense, calango, candango é antes de tudo um forte. Entra ano e sai ano e não se acostuma com a aridez, fazendo festa que nem criança quando descem das nuvens as pequenas lágrimas das angustiantes previsões: Chove antes do Sete de Setembro? Final da semana? Hoje?
Acordei no meio da noite e não era sonho. O chororô não havia parado. Pingava enquanto as articulações ressequidas da minha casa estalavam ao receber a dádiva da lubrificação. Cada pé de cadeira, cada tampo de mesa gritava suas artroses e artrites.
Pensei em quantas centenas de galhos estariam se espreguiçando naquele momento. Secretamente se amando velados pela noite solitária. Fui mais além e imaginei cada animal vertebrado ou invertebrado sacudindo suas existências no pleno regozijo do batismo em água benta de seus corpos densos, fluidos...
Ainda no exercício de visualização, vi o chão, o barro duro, abrir sua bocarra e receber a cálida torrente: AHAHAHA... O líquido da vida penetrando nas diversas camadas do solo como lâmina de seda.
Quando, enfim, chove nessa capital partida entre a delicadeza e a brutalidade, sinto-me perto de Deus. Deus que, para mim, é a própria Natureza. Arquitetura perfeita interligando as madeiras da minha casa, os galhos atrofiados, o meu braço manco, os olhos molhados e a terra que iria sujar de barro, na manhã cinza, os saltos do meu sapato.
O coração exulta. Aspiro, respiro, saio do coma. Podem desligar os aparelhos.
Foi realmente uma benção essa chuva, que me fez mais feliz ao acordar hoje...desde ontem à noite quando começou vibrei com os raios, o cheiro de terra molhada,céu baixo num tom rosa avermelhado, e que se prolongou durante toda madrugada,e até próximo à hora de me levantar, o que sempre acontece, antes do Sol nascer, e aí corri pra janela, coloquei o nariz pra fora e puxei muito fundo o ar...que maravilha!!!
ResponderExcluirBelo texto Lu!
Namastê!
Cynthia
Sou leitora assídua do seu blog, aliás adoro seus textos, comentários, merece uma coluna em algum jornal/revista bacana.
ResponderExcluirAbraços!
Anna Luiza
E esse cheiro delícia de pré-chuva, de terra molhada, de pós-chuva? Só quem vive aqui sabe como é bom...
ResponderExcluirMarisa.
Você, prima, é fantástica no seu blog! Eu me acho em algumas coisas nas suas escritas. O padre Fabio de Melo tem um livro que parece muito com o que vc descreve ,ele retrata toda a vida através da poesia... O livro é, não sei se você já ouviu falar: "É sagrado viver". Nossa, é lindo! Acabei de ler.
ResponderExcluirBeijos,
prima-xará.
Boa tarde,LU!
ResponderExcluirAs chuvas sempre são bem vindas. Tem algumas que a gente fica aborrecida, mas passarão muitas vezes deixando saudades e grandes mesmo, não é? E aí, tudo bem com vocês?
Mil beijos a todos,
Eni.