Vicissitudes
Pellanda, escritor curitibano que acabo de conhecer, diz que passarinho é matéria indefectível de crônicas geralmente bonitinhas. E as baratas, seriam inspiração para o esgar inimaginável? Deve ter entrado pelas janelas escancaradas no terceiro andar. O calor até então desconhecido para os habitantes da cidade, também lhe acometeu da pior maneira. Quedou-se, serena ou esgotada, sobre a esquadria branca. Quem primeiro notou a presença dela foi a gata, que começou a saltitar, indócil. A felina escalou os objetos do chão rumo ao teto crente que alcançaria o bote fatal. Acompanhei o intento e dei de olhos com ela. À certa distância, minha miopia divisou apenas um ponto escuro em destaque na alva moldura. Ó, uma cigarra desgarrada da sua árvore-natal! Aproximei-me desarmada e se tratava de uma barata. Sem poética, sem canto, muda, repulsiva, horrenda. O asco de sua presença tomou a casa inteira de assalto. Fugi dali em pavoroso grito. Alguns minutos de histeria coletiva deram lugar à reação...