Turbilhão
Acordei de um sono atribulado. É hoje. Desde ontem eu sentia a solidez da angústia. Mãe é culpa em movimento. Se a gente fica e não descansa, se sente uma monstra porque está perdendo a paciência com os meninos à toa. Se a gente vai, e tira umas férias, fica se sentindo vazia e vil por deixar os filhos aos cuidados de terceiros. Terceiros que vão mimá-los, que também os amam, mas isso não faz a menor diferença. Você está para sempre dividida entre a liberdade individual e o amor maternal. Ontem à noite invadi os sonhos dos meninos só para dar uma última cheiradinha naqueles pescocinhos macios. Fiquei um pouquinho na cama de cada um. No ouvido soprei: a mamãe ama vocês! Hoje já estou terminando de arrumar a mala e no salão de beleza cheguei quase atrasada: -Você está tão séria hoje, Lu!, constatou a manicure. -É a minha versão culpada 100%, brinquei. Viajar agora nunca é fácil. Nunca é só o lado bom e despreocupado. Sem falar que tem o avião, né? Vencer essa barreira, essa...