Saturno
O tempo singra e sangra perene, implacável. Torniquetes lhe fazem cócegas. Injeções de botox lhe paralisam em pequenas doses, mas as rachaduras do rosto e da alma seguem o caminho inexorável de suas próprias trajetórias. Pulmão, pintura em tela de Malu Engel Chuva após longa estiagem lente de aumento da limpidez sobre uma obra danificada. As tempestades, estilete na mão de uma restauradora habilidosa da tela-vida resgata a natureza combalida. O que estava escurecido e manchado pela fuligem das queimadas, camadas de poeira dura, deserto craquelado é lavado com o poderoso solvente das lágrimas celestes. Opaco dá lugar ao brilho das cores orgânicas. A obra de arte planetária recupera a vivacidade respira. A humanidade rebrota Renascença. Seres obscuros, nas gretas, grotas, de costas a esconder a dignidade perdida na vida de rua, de viadutos impuros casulos de papelão andrajos do caos solidão de marquise concreta iniquidade na cidade indiferente. Desenh...