A última companheira
A manhã é confusa, mas ela nem toma conhecimento. Despertador, cara amassada de sono, atrasada para variar. Sair de casa antes das sete é apelação. Principalmente quando se toma o derradeiro café com pão e se lança na rua pela última vez. Mas ela continua impassível. No mesmo lugar de sempre. Creio que à minha espera. Sessenta quilômetros por hora na grande avenida. Os primeiros raios furam as nuvens brilhantes como se nada tivesse para acontecer. As manhãs de Brasília são tão poéticas! O pôr-do-sol é retumbante, porém nem sei se vou ver outro fim de tarde neste fim de mundo. A rádio anuncia o desespero. Pessoas tomam as ruas, caminham para lá e para cá como formigas que perderam sua trilha. Há arrombamentos, saques, suicídios. Nada que não seja previsível em mais uma espera pela dizimação da espécie humana. Custo a crer que seja verdade. Agora é para valer. Será? Vou ouvindo e pensando e quase atravesso o sinal vermelho. Mas quem se importa nesta altura dos acontecimentos? Ninguém. E...