Micos Turísticos

Meu primo Júnior cansou de ler sobre as minhas viagens cor-de-rosa e sugeriu um post sobre os micos turísticos. Mas sabe que a gente nem passou por tantos assim, dado o número de lugares visitados? Interessante... Ou temos sorte ou sabemos planejar a programação como ninguém. Ou uma mistura das duas coisas, provavelmente.

Porque isso é algo que a gente sempre faz: programar com antecedência, checando guias turísticos como o Quatro Rodas e sites de viagem, além das cotações de hotéis, restaurantes e lugares por parte de quem já esteve lá. Dicas dos amigos também são materiais valiosos, sempre bem aproveitados.

Mas é claro que ninguém é infalível e algumas furadas rolaram... A primeira delas, remete à minha infância. Nem sombra do Bernardo à vista. Mamãe e a filharada em Caldas Novas. O dinheiro era muito curto, escasso. Estávamos hospedados nuns quartinhos de fundo de uma casa, se não me falha a memória.

O calor era de matar. E o primeiro trauma de viagem registrado: furtaram dois conjuntos de short e blusa que mamãe havia comprado com tanto zelo e aperto. Até hoje me lembro de um deles: amarelo com preto. Fiquei muito desapontada.

Um pouco mais tarde, com sete anos, conheci o mar. Momento indescritível. Paixão selada desde então. A viagem ao litoral capixaba foi feita numa kombi emprestada por um amigo da minha mãe. A galera do firinfinfim quase toda lá dentro... Até a Marilena com o marido + Rodrigo, com 1 aninho. Uma mistura de “A Grande Família” com “A Pequena Miss Sunshine” (eu, no caso).

Na altura da cidade mineira de João Molevade, a kombi pifou. Era o início de uma subida, bem no final de uma curva perigosa. Conseguimos parar no acostamento e ficamos ali por horas a fio. Sei lá quantas. Só o que recordo e descer ladeira abaixo rumo a um casebre rural para pedir ajuda, água... Para mim, era tudo festa. Mas imagino que os adultos tenham “amado” a experiência.

Carro quebrado também na primeira viagem com o nosso fusca. Bernardo e eu a caminho do feriado de Carnaval em São João Del Rey/MG, onde encontraríamos amigos dele do mestrado em Física da Unicamp. Corria tudo às mil maravilhas até que, depois de pouco mais de 3 horas de viagem, o motor do fusquinha bege não aguentou o tranco e fundiu. Já imaginou que bacana seu carro pifar no sábado de Carnaval?

Conseguimos alcançar, a 5 Km por hora, a cidadezinha de João Pinheiro/MG e lá, inacreditavelmente, um mecânico que não estava bêbado ou de ressaca da noite no baile de máscaras, tirou todo o motor do carro para fora e passou o resto do dia consertando o carango.

Tivemos de dormir na cidade, mas acabou sendo divertido, pois o hotel era bonitinho e não deixava de ser inusitado ver o motor do nosso primeiro carro no chão. Ainda chegamos em tempo na São João Del Rey, para passar o Carnaval King Kong da década: compartilhar uma casa lotada de físicos Sheldons, Rajis e Leonards e eu ali, atacando de Peggy e ainda por cima tentando me adaptar às lentes de contato. Que falta de senso! Ai meus 20 insanos anos...

Só para vocês terem uma ideia, um dos amigos do Bernardo estava tão bêbado que não consegui voltar para a casa certa e dormiu na garagem de casa incerta, matando os pacatos moradores do interior de susto. E o mais emocionante: quando acordou, vomitou por toda parte. Bacana, né?

E como tem gente que não aprende a lição, passaram-se uns três anos eu me meti em outra roubada: carnaval em Caldas Novas com parte dos mesmos amigos físicos do Bernardo, inclusive o que chamou o Hugo em casa alheia, que viria a ser o dono das acomodações em Caldas Quentes Pelantes.

Não preciso dizer que foi patético! Os caras montaram uma gigantesca pirâmide de latinhas de cerveja na entrada da residência. Cerveja essa que consumiram loucamente. Tão loucamente que um deles bateu o carro com o Bernardo dentro. Não houve feridos, mas houve briga. Por pouco não fiquei viúva sem ter nem casado no papel.

Subindo de status quo, botamos nosso agora gol verde metálico na longa jornada para Buenos Aires. Mais uma vez para visitar outro físico amigo do Bernardo. Esse, menos pirado, ainda bem. Mas, nessa altura do campeonato, já começo a associar: físico = cilada certa.

Entretanto a viagem de ida foi fantástica, tudo certo. Paramos em Floripa para rever minha amiga Balbina, Torres, Porto Alegre... Uma bela viagem de férias de 30 dias. Na volta, Bernardo, arregaçando a 120 km por hora nas estradas desérticas dos pampas uruguaios, foi surpreendido pela sirene do carro de polícia.

A indefectível dupla de bad cop-good cop desceu do carro. Era um filme de Quentin Tarantino rolando abaixo do Trópico de Capricórnio. Os bigodudos começaram uma encenação pelo que si, pelo que no, pelo que si, pelo que no... E aí o Bernardo sacou que os caras estavam a fim de receber um suborninho básico. Mas o problema era o seguinte: a gente só levava a quantidade de pesos exata para pagar o pedágio... A gente havia subido de vida, mas nem tanto assim, entendem?

Meu marido estava com vergonha de comprar os caras por tão pouco, mas eles não. Levaram nosso dinheirinho merrequinha e a gente teve de voltar a Montevidéu, atrasar em várias horas a viagem, só para sacar o reles montante para pagar o pedágio. As veias abertas da América Latina não são brincadeira, mermão!!

Mais prósperos, com nosso Honda civic verde escuro (pura coincidência, não nutrimos nenhum amor especial pela cor verde), saímos para férias na paradisíaca Itacaré/BA. Era o verão de 2003. Não sabíamos que um pesadelo estava à nossa espera: a dona da pousada onde fizemos a reserva.

A mulher era totalmente esquizô. Sinceramente, acho que a figura devia gravar os hóspedes com câmeras escondidas, sei lá para que fins escusos. A pousada era mesmo um charme, deliciosa, mas a dona adotava uma postura completamente hostil e patrulhadora com os hóspedes. Inclusive a de fechar as portas do lugar a partir das 10 da noite. E a gente não podia levar a chave... Sem contar que ela exigiu o pagamento integral das diárias no check-in. Algo surreal!

Resultado: fugimos, apavorados, depois de uns três dias, para Trancoso/BA. Ainda vou precisar retornar à Itacaré para superar esse trauma. O difícil foi encontrar algum lugar disponível em pleno alto verão de janeiro... Detalhe: tivemos de checar as opções do orelhão (reconhece? É da sua época?), enfrentando aquela fila, pois celular não pegava naquelas paradas em 2003.

Mas aportamos numa pousadinha bem graciosa, perto do quadrilátero famoso da cidade. O lugar era comandado por um argentino cujo elogio maior era chamar as coisas de “‘pintorescas”. E quando viu a câmera poderosa que carregávamos, pediu que tirássemos umas fotos do lugar para o site da pousada que ele estava criando.

Pois é, parece tempos tão longínquos... Ninguém nem sonhava com facebook. No retorno para Brasília, “super bem orientados” por um policial rodoviário (as tais veias abertas da América Latina, my friends), pegamos uma rodovia que ele garantiu que estava toda asfaltada. Logo percebemos que havia buracos salteados de asfalto aqui e acolá. Estávamos nos confins do Vale do Jequitinhonha... Bela paisagem, mas pobreza humilhante.

E então, uma enorme poça de lama cobria tudo. Atravessar ou não. Checamos com um pedaço de pau e parecia tranquilo, raso. Entretanto, não contávamos com a astúcia do buraco. Que ficou fundo e largo bem no meio, para enganar todo mundo. Resultado: o Honda civic embicou naquela fossa abissal e lá permanecemos, com o carro de bunda para cima, no ermo, perdidos, mato para todo lado, nem sinal de civilização que fosse maia, asteca ou ameríndia...

A noite já estava chegando quando uma ambulância apareceu. O motorista, acostumado com o trajeto entre currutelas-do-fim-do-mundo, levava no carro arsenal completo para desatolar carros. Com uma corda das boas, içou nosso verdinho do buracão e seguimos viagem, com lama nos poros.

E ainda tem mais, mas esse post já virou uma tese!

Não perca outros e melhores micos turísticos, em breve, aqui no blog!

E você? Tem algum para compartilhar por aqui? Beijos!

Comentários

  1. Oi Luciana, tudo bem?

    Olha, já que Caldas Novas está valendo como turismo decidi que o Goiás inteiro vale. Afinal, minha historinha tem a ver com a nossa infância...

    Estava eu no meio de umas malucas, sei lá com quantos anos, éramos adolescentes, todas sob a guarda do super responsável Edu, indo para Silvânia ouvir umas músicas "muito apaixonadas", quando no breu total o Edu resolveu que tinha que passar a caminhonete numa balsa (pra dizer a verdade nem sei se era uma balsa...) Mas como eu sou muito mais sortuda que você e o Bernardo, não aconteceu nada grave. O mico foi só meu mesmo, desesperada, com medo do carro afundar, ainda mais que eu não sei nadar.

    A segunda coisa engraçada que me lembro de viagens, e essa está gravada, foi quando fomos a Porto Rico, minha única viagem internacional. Seis mulheres dentro de um Impala, rodando, rodando, rodando, na noite de San Juan e não chegando a lugar nenhum. Nós nos acabávamos de rir (dá para ver na gravação) cada vez que passávamos na frente da mesma loja e descobríamos que continuávamos super perdidas. Isso foi em 1999, ainda não existia GPS. De repende, resolvemos parar num supermercado 24 horas para pedir informações. Enquanto as meninas procuram alguém para perguntar eu olho para o céu e avisto bem pertinho da gente uma placa. E digo: Uai! Aquele ali não é o nosso hotel? Que mico hein?

    Mas nem o GPS me salva de um bom mico. Chegamos a Fortaleza, cansados da viagem e na minha primeira vez com o GPS. Tentei usar aqui em Brasília, mas é consenso aqui no trabalho que é impossível usar GPS em Brasília. Então, o GPS não estava com o mapa de Fortaleza 100% atualizado. De repente, avistei uma placa que dizia Aquiraz (o município para onde estávamos indo). Mandei o GPS às favas e tratei de seguir as placas. Mas não desliguei o bichinho. A voz da mulher do GPS já estava se esgoelando mandando a gente virar à direita e volta... Mas eu mandava ela calar a boca e seguia às placas. Duas horas depois chegamos ao hotel. Primeira coisa que eu perguntei na recepção: vocês não disseram que o hotel ficava a 20 minutos do centro de Fortaleza? Ficava. E o atendendente rindo me disse: a senhora por um acaso não veio pelo caminho de Eusébio, veio? Que mico! Quem mandou não obedecer à mocinha do GPS!

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  2. Ficou melhor que a encomenda, prima.
    Quero ver mais desses.

    Valdeir Jr

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  3. Ah mico de viagem eh oque eu mais tenho para contar. Vou comecar com o de Caldas Novas: Eu mandei passar algumas roupas que ficaram amarrotadas na mala achando que era cortesia do hotel, que inocencia a minha quando mamae foi fechar a conta com o dinheiro contado percebeu que nao tinha o suficiente para completar o total da conta, resultado ela saiu pedindo dinheiro para o pessoal da nossa excursao que mico! Uma senhora do nosso onibus emprestou o resto que faltava.

    Ah tem o mico do Pantanal, esse mico foi triste. Dois dias na estrada, vovo parava o carro para mamae bater fotos passaros, cobras, oncas, uma das fotos mais importante de placa de rodovia foi: Bem Vindo a Transpantaneira. Mamae era a fotografa oficial da viagem e tambem fotografa sem experiencia. No despero de tirar o filme da maquina ela abriu a tampinha sem ter rebobinado todo o negativo, luz entrou e estragou o negativo inteirinho.... Nossa aquele dia Mamae chorou por demais.

    E em Foz do Iguacu na volta de um dia super agitado doida para chegar no hotel e tomar um banho eu e minha irma entramos no quarto errado. Essa foi engracada.

    Micos fazem parte das viagens, sao eles que nos rendem historias para contar depois!!
    Gostei de reviver esses momentos!!

    Beijos, Evelyn

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  4. Luciana,

    muito legais as suas viagens.
    Só não gostei de você, vira-e-mexe, ficar reclamando dos físicos, esse pessoal gente-boa, de primeira...:)

    Um beijo,
    Paulo.

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  5. Incrível, mas o meu mico também tem a ver com Caldas Novas... Viajamos eu, me pai e a Bruna ainda pequena para lá. Na volta para Brasília o motorista exigiu a certidão de nascimento da Bruna na rodoviária e eu não tinha levado! Perdemos o ônibus por causa disso. Eu rodei a baiana (sem razão, mas, tinha que rodar, né?) e consegui no guichê lá da vara da infância mostrar que, já que somos a cara uma da outra, se tratava de mãe e filha... rs. Resultado: nos deixaram ir embora no próximo ônibus, mas só se tivesse lugar para sentarmos. E não é que o ônibus estava cheio, mas haviam exatos três lugares vazios? Que alívio e que sufoco!

    Beijos

    Patty

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