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Babel Mística

Numa tarde de prosa com mi hermana, ela descobriu que o anel da mamãe que estou usando na mão esquerda tem um símbolo da maçonaria gravado no aro interior. Intrigante... De quem mamãe teria comprado um anelzinho de ouro gravado com um compasso dentro de um círculo? Mistérios de dona Maria que nunca iremos desvendar... Mamãe era um enigma. Mas essa historinha me fez recordar uma matéria que escrevi há onze anos. Era um freela para a revista chamada "From Brasília to you". O projeto era bilíngue e pretendia ser uma publicação para os turistas brasileiros e estrangeiros que visitam a cidade. Acho que não deu certo, mas tenho o primeiro número, pois ali está o meu texto (pelo qual nunca fui paga, aliás) que posto para vocês com algumas atualizações. Afinal, fim de ano é sempre tempo de refletir sobre a espiritualidade e rever nossos conceitos e preconceitos, certo? Babel Mística Desde a sua concepção, ainda na prancheta do urbanista Lúcio Costa, a cruz, no centro da nova capit

(Descom) passado

Naquela noite, Suzana estava mais  W3  do que nunca toda eixosa cheia de L2 Suzana,  vai ser superquadra assim  lá na minha cama (Nicolas Behr) Brasília, 26 de dezembro. Num dèjá vú, me pego pedalando pela W4 e W5 da minha adolescência. Os carros minguados não oferecem perigo. Seres viventes sou eu, um cachorro sarnento, pedestres esparsos. Na bicicleta estou. Liberdade para mim é flanar sobre duas rodas. Coração batendo mais forte, arfando com o esforço que gira a roda da vida do pedal.  Escolho a trilha (sonora) do dia e me lanço em passeio solo. Catar conchinhas numa praia deserta também tem o mesmo efeito libertador. Porém, na impossibilidade do mar, pedalar é preciso.  Tenho saudade dessa minha cidade anterior. Aquela que abrigava as frases feitas: “O melhor hospital de Brasília é a ponte área”. “Brasília fica um deserto no fim de semana: todo mundo vai embora da capital na quinta-feira”. Bem, deputados, senadores e ministros do Judiciário continuam indo embora para o fim

Pratos limpos

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"A vida é muito cantável " (Guimarães Rosa) Papai Noel, acho que terminei o ano melhor do que comecei. Tudo bem, o Remeron deu uma forcinha: me fez dormir, me fez sonhar. Me ajudou a atravessar o luto com dignidade. Apesar de uma certa consciência pesada, é claro. Fora para os hipocondríacos, tomar pilulinhas nunca é muito divertido. Mas é a única que eu ingiro, Papai Noel, por uma boa causa. Tô perdoada? Remédio sozinho não faz verão, e eu sei que tem dedo meu lambendo esse bolo. Eu me esforcei, lutei, não me entreguei. Consegui navegar mais um ano em meio a tempestade. Deu enjoo algumas vezes, vomitei. Porém sabia que a terra firme estava logo ali. Fui disciplinada como sempre. Sem desistir, organizada. Não perdi as aulas de yoga, me aventurei em novos desafios: ciclying in door, circuito funcional, body combat. Fiz coisas que nunca fiz antes. Não me permiti empacar, embrutecer, envelhecer nos pensamentos. Até em curso sobre a reforma do Código Civil eu me meti, Papa

Emoção sem limites

  “Vou-me embora cantando Com meu coração chorando E vou deixar todo mundo Valorizando a batucada” (“Adeus Batucada”, na voz da Pequena Notável) Tenho uma colega de trabalho que costuma dizer, em tom de ironia para eventos chatos: “foi uma emoção sem limites”. Na mesma linha, Mafalda exclama: “hoje entrei no mundo pela porta traseira” (do ônibus). Mas nada disso, na verdade, tem a ver com o que eu quero dizer. Só lembrei da expressão da minha colega de auditório porque, na história que conto a seguir, a emoção foi de, fato, sem limites. O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) realizou, em maio de 2009, uma homenagem deliciosa ao centenário de Carmen Miranda. Em quatro shows de altíssima qualidade, a pequena notável foi merecidamente celebrada por quatro duplas de cantores não tão conhecidos do grande público, salvo Eduardo Dusek, que andava meio sumido, fazendo uma graninha em trabalhos de gosto duvidoso, como apresentar a premiação do prêmio Sesc de fotografia, artes plásticas e

Matemática do afeto

Puxa, já está chegando... Sábado estamos aí de novo, para mais um Natal. Entretanto o Natal é sempre tão diferente. Desculpem os que não gostam da data, mas eu acho mesmo que essa época sempre nos surpreende com novos votos, nova energia, novos reencontros e muita poesia. Eu adoro Natal! Família grande é muito bom nessas horas. Qualquer almoço já vira festa. E as crianças sempre fartas. Sobrinhos de várias faixas etárias nunca faltaram. E Natal, vamos combinar, tem de ter gurizada. Porque são eles que nos mostram que sonhar colorido é muito mais divertido. Mamãe era uma sorridente contumaz. Não tinha tempo ruim na vida dela. E a vida dela não foi fácil. Isso também me surpreendia: a cada ano que passava, mamãe parecia mais jovem. Não dava a menor pelota para a velhice. Era a mesma moleca travessa, fazendo suas diabruras natalinas: presentinho para todo mundo, pernil bem temperado, enfeites novos para cada árvore, que muitas vezes foram de verdade. Saíamos para cortar um pinheiro de

Niemeyer e as baratas

Vou logo avisando: tô do contra hoje. Azeda. Boçal. “Brasilienses reverenciam os 104 anos de Oscar Niemeyer”. Bem, eu sou brasiliense e não fiz reverência nenhuma. Esse Niemeyer já deu, né? Está vivendo demais, se intrometendo demais... Fingiu ser comunista e se refastelou na economia de mercado mais vil: o tráfico de influência. Brasília nunca mais vai se ver livre de Niemeyer e de sua descendência arquitetônica. OK, eu adoro o Palácio do Itamaraty e do Alvorada. A Catedral é febril, uma obra divinamente monumental, e o aga do Congresso Nacional, com seu circulo partido ao meio, é emocionante. Mas chega, certo? Foi lá, em 1950, modernismo na veia. Agora não tá com nada. Já escrevi que Brasília é bacana exatamente porque é uma só. Não devia ser imitada a torto e direito em repetecos do arquiteto nas obras espalhadas pelo Brasil e também no mundo. Niemeyer vive das glórias eternas da capital, refazendo seu samba de uma nota só. Tudo muito concreto, árido, ostensivo, opressor. A arqu

Bad Trip

Desculpem, leitores, por blogar um texto tão amargo nesse clima natalino, mas continuo acreditando que a Tati Bernardi e eu somos almas gêmeas. Ou bivitelinas separadas ao nascer. Só que ela foi parar numa família menos desfuncional!!:) Acontece que me gusta esse texto deprê escrito na lucidez do desespero de anos atrás. De certo modo, ele continua bastante atual. Pior pra mim. A Tati (minha Raquel ou será minha Ruth?) vai muito bem, obrigada. Continua na crista da onda, nas páginas das melhores revistas. Ontem mesmo li um texto dela na Alfa. "Quem ri por último, rivotril". Estranha coincidência... Na mesma semana em que meu filho quase se matou involuntariamente com uma megadose desse remedinho infame. Divirta-se se for capaz!! UHARRRUHAUHARRR... (PS.: isso aí é uma onomatopéia que tenta transmitir aos leitores o sorriso sinistro do Bela Lugosi ou do House, para os menos cinéfilos) Domingo à noite. Pego o livro da Tati Bernardi que está sobre o móvel de cabeceira e inicio

Patrulheiros do (nosso) universo

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Filhos... Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos Como sabê-lo? Se não os temos Que de consulta Quanto silêncio Como os queremos! Banho de mar Diz que é um porrete... Cônjuge voa Transpõe o espaço Engole água Fica salgada Se iodifica Depois, que boa Que morenaço Que a esposa fica! Resultado: filho. E então começa A aporrinhação: Cocô está branco Cocô está preto Bebe amoníaco Comeu botão. Filhos?  Filhos Melhor não tê-los Noites de insônia Cãs prematuras Prantos convulsos Meu Deus, salvai-o! Filhos são o demo Melhor não tê-los... Mas se não os temos Como sabê-los? Como saber Que macieza Nos seus cabelos Que cheiro morno Na sua carne Que gosto doce Na sua boca! Chupam gilete Bebem shampoo Ateiam fogo No quarteirão Porém, que coisa Que coisa louca Que coisa linda Que os filhos são! (Vinícius de Moraes) Em determinado momento do piquenique no parque, cantarolo. A parte da música que eu sabia acaba. Paro. Rômulo olha para m

Que os deuses tecnológicos nos preservem as amizades!

Escrevi esse texto no fim de 2008. E como me parece ainda mais atual com o advento do facebook, remasterizo aqui para nova leitura ou leitura nova. Desde já desejando bons amigos ao seu lado nesse ano que se fecha à espera de outro, ainda mais amoroso e fraterno. "Reconheçamos o básico: uma vida sem amigos é uma vida vazia”. A afirmação perfeita da escritora e dramaturga Martha Medeiros, lida na Revista Globo, lá no Rio de Janeiro, foi relembrada nesses dias em que o valor da amizade ficou evidente em dois episódios. No primeiro, uma amiga do primeiro grau – hoje chamado de ensino fundamental – me envia uma foto resgatada do Orkut onde lá estava euzinha nos meus 12 anos. Tão infantil, tão inocente. Era um evento cultural do Colégio Notre Dame, no qual reproduzimos uma dança típica dos alemães. Ao meu lado, sentado no chão do pátio da escola, estava Marco Antônio, meu primeiro amor. Não sei se naquela foto já estava apaixonada por ele, mas isso é outra história. O importante fo

Alfabetização tardia

Para minha amada amiga BelBel, companheira de descobertas na Caixa Cultural “O que as letras fazem quando estão contentes?” Tai um questionamento que nunca passou pela minha cabeça louca. Por isso a cultura inteligente e criativa é tão instigante. Ela, de modo algum, nos deixa enferrujar o pensamento. Reservar um tempinho para as exposições sem compromisso é vital. Ar que respiro. É assim que eu me deixo levar pelos passeios dominicais na Caixa Cultural: sem expectativas. Entretanto as três galerias não decepcionam: o aprendizado sempre vem. Domingo de manhã não tem programa mais legal que me aventurar naquele lugar vazio. Tenho a sensação onipotente de que aquilo tudo foi montado exclusivamente para mim, para o meu deleite de aprendiz da arte. Seja ela em forma de pintura, fotografia, cartazes, vídeos, letras... Ah, as letras... Tão surradas, digitadas e divulgadas. Quem é que presta atenção em tipografia, não é verdade? Publicitários, artistas gráficos, designers e olhe lá. As

Imprescindível

“Hasta dónde debemos practicar las verdades? Hasta donde sabemos? Sílvio Rodriguez Algumas obsessões assombram como fantasmas. Mas não apavoram, só retornam dioturnamente e a gente toma chá com elas, como fazia Quintana com seus amigos espectrais. Entre as minhas fixações preferidas está a minha amiga íntima música. Musa avassaladora. Espantoso saber que algumas pessoas não se importam de ficar sem ouvir canção alguma ao longo do dia. Incompreensível. Queria com muita força tocar um instrumento. Tentei o violão, mas os meus amados são o piano e o violoncelo. Não consegui nada além de decorar algumas cifras e angariar um paquera quando, aos 14 anos, voltava de ônibus após mais uma aula “caminhando e cantando e seguindo a canção”. Carregava o trambolhinho posando de cantora folk e o garoto bonito de olhos verdes, Alexandre, me perguntou se poderia acompanhar a donzela aqui até em casa. Hoje, oferta como essa seria, no mínimo, assustadora. Porém, naqueles anos 80, na Brasília na trans

Dos usos e frutos virtuais

Remasterizar está na moda. Tudo é tão fugaz hoje em dia que já vira clássico em dois anos e cai no esquecimento. Então, nada mais prático do que ressuscitar o velho com uma nova roupagem. As tais releituras tão em voga e às vezes tão enjoadinhas. Mas isso tudo é pra dizer que estou remasterizando alguns textos que haviam sido publicados no blog do Vicente, mas não aqui, no meu blog. Esse aí debaixo é um deles. Alguns vão ler e recordar, outros achariam que era inédito se eu não tivesse escrito esses paragráfos que agora faço surgir na tela com as minhas mãozinhas saltitantes no teclado (eu digito com todos os dedos, uma elegância pouco comum aos que nasceram na era do computador). Para alguma coisa serviu as aulas de datilografia do século passado... Mas, sem mais delongas, vamos a ele, o astro-rei da vida em sociedade: Geringonça moderna chamada computador. No meu curriculum vitae estava lançado o desafio: entender esta máquina. Não faz muito tempo. Uns 15 anos, no máximo. Hoje, ele

Na calçada da fama

Você sabia que Brasília também tem calçadão onde as "celebridades" podem ser vistas como simples mortais? Só que, por aqui, as nossas estrelas são os políticos e ministros do Executivo e Judiciário. Nada comparável à beleza das globais ou ao talento musical e poético do Chico, do Caetano e de outros bambas que circulam pela orla carioca, mas qual candango já não teve de responder à pergunta: “você vê o presidente todos os dias?” Pois é, quando descobrem que a gente vive na capital da República, acreditam que somos íntimos do poder e que tudo na cidade se resume à Esplanada dos Ministérios. Que todos os dias tomamos café com a Dilma e almoçamos com o José Sarney (blergh!). Culpa da mídia, que faz questão de mostrar Brasília como uma freak, localidade cheia de vazios monumentais e de políticos inescrupulosos. Mas somos, sim, uma cidade de carne e osso. Acredite! E, no calçadão da Asa Sul, podemos nos sentir leves para usufruir um lugar quase normal, onde a arquitetura não se

Teoria da irmandade

Interessante como as mulheres gostam de mostrar suas dores sem pudores. Estava eu de frente para o inacreditável mar de Maceió, de bem com a vida, sozinha, a desfrutar uma salada na Cabana Lopana. No som, o DJ rolava versões bossa-pop de George Michael, The Carpenters, Pink Floyd, Bonnie Tyler, Bob Marley, U2, Madonna e até A-ha, na voz de Michelle Simonal. O cara bota para tocar “Wish you were here”... Putz! Aí matou a pau. Covardia com o espécime feminino que também estava sentada alone à mesa ao lado. Entretanto, ao contrário de mim, parecia sofrer com vários holofotes voltados para ela. Mulher nova e charmosa bebendo cerveja sozinha num dia de sol pode saber: tem algo errado. É evidente que este pensamento machista atravessou a minha cabeça e a dos demais felizardos que curtiam aquela cabana. O mesmo devem ter pensado de mim – reparem na falta de modéstia pelos autoelogios – quando ali me postei encarando o mar. Mas logo adotei uma postura mais confiante: eu me garanto. Estou r

Minha Teresina

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toda rua tem seu curso tem seu leito de água clara por onde passa a memória lembrando histórias de um tempo que não acaba Torquato Neto piauiense fantástico  Olha aí o Piauí, há quanto tempo não vinha por aqui... Do alto do avião, controlando o pânico de voar com espiadas pela janelinha, eu via a terra do pai do meu marido, do avô de meus filhos. Território plano, árido, com milhares de casinhas dispostas no tabuleiro de xadrez da vida sofredora do Nordeste. Um cheque-mate diário nas adversidades. As indefectíveis florzinhas que nascem na rachadura do concreto Chega a ser um milagre todo mundo falar português nesse vasto país tão plural. Os regionalismos são intensos e diversos. É como se a gente visitasse terra estrangeira, mas com o bem estar de se sentir em casa, falando a mesma língua. Calçadão da Av. Frei Serafim Cuzcuz de arroz, bacupari, carneiro, bacuri, doce de mangaba, apito para chamar passarinho, ventilador que joga água, olhe pra isso, oxente, mas rapaz!!!! Bolo

Medalha milagrosa

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O massacre diário de obrigações e chateações às vezes no faz esquecer da beleza de pequenos episódios pueris. Todavia eles estão lá, sempre acontecem. Nada é só azar, Deus me livre! Estou parecendo um livro de autoajuda, concordo. Tudo porque hoje, a caminho de uma atividade burocrática do trabalho, fui abençoada por um destes minúsculos prazeres cotidianos que, de tão delicados e singelos, podem passar despercebidos. Por isso resolvi escrever. Para que eu mesma, uma pessimista por natureza, puxe as próprias orelhas para enxergar o bom da lida diária. Correndo pelos corredores, atrasada para uma sessão extraordinária de julgamentos, sai do elevador colocando a mão no bolso do casaco para guardar a balinha que me salvaria do tédio e do sono, companheiros que sempre me visitam quando estou sentada lá, naquele sepulcro isolado térmica e acusticamente do mundo, fruto das pirações de Oscar Niemeyer. Esse prédio é um sarcófago. Se a gente pensar na soma da idade dos ministros, então, f

Se o meu elevador falasse...

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O casal 20 mora ao meu lado. Para ser mais sincera, mora abaixo, aos meus pés. Ou mais precisamente: no segundo andar. Ela tem um Volvo, ele um Audi. Nossos encontros casuais se dão geralmente na garagem, quando juntos pegamos o elevador. O charme de ambos é impressionante e a sensação de eterna felicidade que eles passam também. Nunca pensei que casais 20 pudessem realmente existir e talvez por isso gostasse tanto da série de TV com Robert Wagner e Stephanie Powers. Eles eram puro glamour e romance. The Harts, o mordomo Max e o cachorrinho Freeway em suas aventuras cheias de grana, bom gosto (para a década de 80, esclareço) e adrenalina. Eu sei, eu sei, estou denunciando novamente a minha faixa etária, mas a vida é assim, sempre traiçoeira. Meus vizinhos não têm cachorrinho frufru. Na minha opinião, mais pontos para eles. Também não rola este lance de mordomo porque seria um pouco demais em um apê classe média. Mas, tirando estes “míseros” detalhes, a vida do casal parece