Imitação barata de Alice

Num dia sombrio de inverno paulistano, Dani dormiu no Brasil e acordou no planeta Cloing. Ao abrir os olhos, Dani não viu a confortável imagem de seu quarto bagunçado: cuecas de um lado, meias do outro. Sua mãe não bateu na porta com a pontualidade habitual: “hora de acordarrrrr! Você vai ser atrasarrrrrrrr!

Devo estar sonhando. Só em sonho a gente dá de cara com uma placa: Bem-vindo a Cloing – Aqui cultivamos a criatividade e a pluralidade de ideias. Mas Dani não dormia e, assustado, constatou que tinha ido parar em outra dimensão.

Começou a caminhar meio ressabiado, olhando para a direita e para a esquerda, pé ante pé, quando uma sombra imensa se aproximou. Dani olhou para cima e imediatamente entrou em choque diante da imagem: um enorme peixe voava sobre a sua cabeça. Nem uma baleia poderia ser tão descomunal.

Mas que loucura era aquela? O peixe abriu a boca cheia de dentes enquanto Dani paralisado de medo tremia. “Ou eu acordo agora ou morro devorado”. Mas nem deu tempo de nada, pois um hálito de mar chegou ao nariz do garoto e uma voz retumbante cumprimentou o visitante:

- Bom dia, jovem! Percebo que és novo por aqui. Não trema, muito prazer, sou Gronsk. E falava nadando no ar de passagem para outro lugar.

Dani ficou encantado. Um planeta onde posso viver alucinado... E lá se foi caminhando. Minutos depois, um homem com uma distinta cartola cruzou a estrada. A cartola era maior que todo o seu corpo. De fato, ele andava dentro da cartola, como se fosse o chapéu, uma redoma.

- Bom dia, jovem, bom dia!

Dani já estava ficando acostumado a perder a fala. O homem tinha um jardim plantado na cartola que era redoma, que era chapéu, que era armadura.

- Você não se apresenta, meu jovem? Meu nome é Bronsk.
- Puxa, mas todos aqui têm estes nomes parecidos? Pronto, era a primeira frase que formulava naquele novo planeta. Uma frase banal e até rude, o que lhe fez corar e se arrepender.

- É, nós somos todos parentes por aqui, do ramo dos oings, da árvore genealógica dos nsks.
- Ah, legal. Meu nome é Daniel, mas lá no meu planeta todos me chamam de Dani.
- Muito prazer e tchau Dani. É hora de regar a minha cabeça...

O que mais me espera neste lugar irado?

- 'Tudo o que você tiver vontade", respondeu mansamente a menina de vestido vermelho, que trazia o sol na mão como se fosse um pirulito.

Dani tentou enxergar o rosto da garota, mas a claridade solar cegava tudo.

- Ai, me desculpe. Que modos os meus... Não sabia que você era novo aqui em Cloing... Prazer, meu nome é Lusk.

- Prazer Lusk, me chamo Dani.
- Quer conhecer uns amigos meus?

Se mandaram correndo pelo vale. Dani lamentando não ter uns óculos escuros para aplacar tanta luz. Devagarzinho, começou a ouvir um som muito sonolento. Seus passos se tornaram pesados, moles, desconexos... Cada vez mais lentos, diminuindo, diminuindo... Até pararem, os dois, na frente de um elefante. A música letárgica soava da própria tromba do gigante.

Dani se deixou embalar pela melodia e nem percebeu que Lusk e seu sol pirulito já haviam desaparecido. "Puxa, não quero mais sair daqui..."

Peixes faziam piruetas no ar, macacos coloridos brincavam de roda e no centro do jardim o mamute trombava canções de acolher. Dani,então, espreguiçou-se, abriu os olhos e adormeceu.