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Mostrando postagens de dezembro, 2013

Sapiências

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Dicas de um guri de seis anos para um Ano-Novo espetacular: extinguir os monstros que vivem debaixo da cama, dentro dos armários e no fim dos corredores sombrios;  comer, comer, comer balinhas, chocolates, pirulitos, sorvetes, cachorros-quentes, pães de queijo e macarronadas e continuar com as costelas aparecendo;  ganhar brinquedos desejados em todas as datas comemorativas, mas também sem data marcada, só por ser muito amado;  ter avós, tios-avós ou outro bom velhinho que não é o Papai Noel, mas lhe faça todas as vontades; ver uma piscina e cair dentro dela, mesmo que não esteja de roupa de banho;  rir, rir, rir de qualquer pataquada; receber cafunés e beijinhos desavisados; descobrir o paraíso no fundo do quintal dos parentes; aparar as unhas num passe de mágica (sem tesouras e sem mães estressadas);  ouvir diariamente canções de ninar;  aprender a ler livros cada vez mais grossos; fazer amigos em qualquer turma, quadra ou cidade; conhecer os primos de perto e de

Pirlimpimpim

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Puxou o blecaute para cima e um céu olho de gato surgiu na janela. Parecia que o vidro ganhara lente Ray Ban amarela sem pedir licença. E por acaso a natureza precisa de autorização para ser o que é? Existe, logo surpreende! Cotidiana, banal e fundamental.  A mãe, sonolenta de mais uma madrugada às claras, entrou no chuveiro e lavou os cabelos. Na lembrança, as páginas finais do romance que lhe fizera companhia no último mês: “As Memórias Perdidas de Jane Austen”. Pensou que, assim como a imortal escritora inglesa, também sonhava encontrar um Sr. Ashford, ainda que inventado. Menos para venerá-la do que para lhe desencantar a publicação do primeiro livro.  Como é fim de ano, sonhar alto não custa. Vibrar nas ondas das intensas intenções. Imaginou-se sozinha e plena de frente para o mar. Sempre gostara de solidão ou aprendera na marra com as ausências da mãe, a falta de irmãos de brincadeiras infantis ou por ter a certeza de que ser só é o estado natural dos peixes que

Elevação Espiritual

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Coisinhas que dão um up na elevação espiritual: Ouvir La Traviata enquanto espera todos os semáforos vermelhos abrirem (até torcendo para que eles fiquem fechados), enquanto toma uma vitamina de abacate;  Receber um elogio sobre o seu estilo da dermatologista mais chique da Via Láctea;  Lembrar daquela imitação de zumbi que seu primo-irmão fez exclusivamente para você e sorrir feito boba;  Descobrir poemas que você ainda não havia lido;  Estar ao ar livre quando a chuva se encontra com o sol e deixa todo o universo em suspenso;  Escutar seu filho pedir “fica comigo mais um pouquinho” quando o coloca pra dormir;  Raspar os momentos finais da suspirante mousse de chocolate feita pelo marido assistindo a um bom filme na TV;  Aprender a cantar novas melodias de Natal para embalar os filhotes;  Saber que a ECT foi bacana e entregou os cartões de papel que você enviou sem extraviar nenhum;  Acertar no presente;  Sair para a caminhada dominical e cruzar com uma velhinha

Miudezas

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De viés, pela persiana, persigo as sombras que passam. Diviso suas roupas e pensamentos enquanto me enlevo ao som da Sereníssima de Vivaldi. O espírito sobrevoa o corpo, arrisco constatar. Não crio expectativa a respeito das avalanches que virão. Previu amiga que o ano que vem será regido por Júpiter e tudo, portanto, tenderá ao exagero, grandioso como o planetão. Aqui, só penso em conferir o planetário em funcionamento novamente, após 16 anos de buraco negro. Ontem, meu filho desalinhou meus cabelos como se regesse uma sinfonia. Gosto muito desses gestos mínimos de doçura dos homens, sempre tão espartanos nas demonstrações de apreço. Geralmente sou eu quem busco o toque deles, mas a vida tem dessas preciosidades. Urge, portanto, não deixá-las ir embora sem um registro. Nessa sexta, estou interessada nos detalhes. A mancha de batom ferrugem no copo plástico branco. O rabisco de nuvem do desenho de Rômulo. O peixe de origami nadando no vazio. O burburinho de conversas indis

Não se faça de rogado!

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É urgente parar de criar tantas regras pessoais, caso contrário chega um momento em que você está soterrado por elas. Inatingível, você sucumbirá na solidão. Profético e sombrio? Não, real. É preciso ser cada dia mais leve, peso pena para os que estão ao nosso redor. A velhice, por si só, é intransigente. Ela não tem dó das nossas articulações, das nossas vistas, dos nossos ouvidos. Por que, de modo deliberado, não ter compaixão pelos que estão à nossa volta ao encarcerarmo-nos de senões, interdições morais, frescuras e impasses? Outro dia, clicando pessoas a esmo na tentativa de capturar o natural das gentes nas suas labutas, ouvi: Jamais!! Não tire foto minha! Eu só tiro foto maquiada e arrumada! No primeiro momento, com a câmera em punho, acreditei que se tratasse de um ataque de charme básico. Afinal, todos nós queremos sair bem em todas os cliques do universo. No entanto, era fato. Ela realmente não se deixou fotografar e ficou muito irritada. O que faz uma

O bonde da história

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Uma reportagem sobre Tolstoi na TV a levou de volta à estante onde repousava o exemplar de “Guerra e Paz”, esquecido há mais de dez anos. Ao lado dos dois grossos volumes da obra-prima do escritor russo, “Ana Karenina” também dormia o sono dos épicos romances. Contudo, com um diferencial: já havia sido relido. Quem dera o tempo contasse biologicamente dobrado para a gente se deliciar em dobro com todos os livros amados. Na ponta dos pés e ávida, ela puxou para si a obra monumental e começou a folheá-la. Buscou um sinal real de que havia lido aquele calhamaço inteiro, pois a proeza lhe parecia, agora, fruto de alguma imaginação delirante. Procurou pelas passagens sublinhadas em vão. Talvez, à época em que se debruçou sobre a densa narrativa, ainda fosse tímida para deixar marcada para sempre a alma nas linhas dos livros. Que pena! Não estava disposta a reler aquelas mil páginas. Os invernos no Brasil não são tão rigorosos e os filhos lhe roubaram a paz, de

O que Mandela nos diz sobre a tacanhice mental

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Para Juliana, Maria Carolina e Priscila Pois então morreu Mandela. Meu Invictus, Meu Captain, My Captain. Sabe aquelas pessoas que a gente gosta de graça e da graça? Pronto, era ele, esse neguinho! Familiar como um tio, surreal como um sonho. Partiu aos 95 anos como a minha madrinha. Negro como minha madrinha, insondável como ela.  Mandela não foi herói ou gigante como as manchetes de jornais estampam. Era um cara cheio de problemas pessoais, família esfacelada, rancores. Menos deus, mais humano e, por isso, divino!  Gandhi e Martin Luther King, que com Mandiba formam a tríade (Pai, Filho e Espírito Santo) da Humanidade moderna também foram pessoas que transbordaram para além de suas vidas íntimas imperfeitas e alcançaram a impecabilidade global, cósmica. Eles excederam a si mesmos e é isso que nos encanta e intriga: por que alguns conseguem e outros não?  Mas, falando de racismo, a questão sempre me incomodou muito pela minha falta de compreensão sobre a s

Gloriosa Xepa

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Dezembro é de fato avassalador. Você faz um esforço danado para não se contaminar pelo atropelo da vida, mas quando se dá conta, foi tragada pelo tufão e começa a girar, girar, girar... As horas somem, os dias passam e já é madrugada, os eventos se acumulam e você quer aterrissar, não em OZ, mas na sua cama mesmo, no escurinho.  Dezembro também abre a temporada de lágrimas desobedientes. O coração amolece como gelatina sem geladeira. Tudo começa a fazer um sentido profundo sei lá por quais cargas d’água! Por que fomos doutrinados pela mitologia cristã e penitente? Pode ser... As mais idiotas festinhas de fim de ano da escola, da TV, até do meu trabalho revolvem meus rios...  E foi assim, nessa de manteiga derretida, que no sábado de manhãzinha me deparei com aquela mulher. Parava o carro e seguia para o Ceasa. Ao lado dela, na grama, estava seu filho. E ao lado dos dois, dois sacos enormes repletos dos refugos de legumes e frutas, legítima xepa.  A que horas aq