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Mostrando postagens de fevereiro, 2023

Sob as amendoeiras

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                                                                                                                                                                                  “deus esteja nessa casa, em formato e coração”                                                                                                                                                                           (Vital Farias) Já na despedida, ela me disse: “Você tem uma beleza não cotidiana. É uma pessoa boa e foi muito amada por seus pais”. Retruquei num vômito: Fui? Será? Lá vinha o gatilho da menina desprotegida parafusado no inconsciente. Tenho certeza, ela reafirmou. Você não seria essa pessoa que procura as outras se não tivesse recebido amor. De repente pensei que teria de reescrever a “narrativa de abandono”, assim como mudei o N de nada para N de navio; assim como parei de repetir “não conheci meu pai”, para “ meu pai morreu quando eu era um bebê de 11 meses”. Ah, os discursos que nos constituem…

Efemérides

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Janeiro alongou demasiado para fevereiro passar num átimo. Verão a pino, emoções desencontradas. Os astros não dão trégua neste mapa-natal infernal. Há espera na esperança. Angústias e saudades intrincadas no corpo latejam, lava em compasso. Coração ao contrário: arrítimico famélico anêmico. Onde está a hemoglobina, Colombina? Porque as cicatrizes se alvoroçaram diante do inevitável. Efêmera é a medida da vida. A vida é árvore, a vida é rio. As linhas retas podem atalhar, mas nunca chegam ao topo com a mesma indescritível beleza. 

Nos campos da serra

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Em repouso os instrumentos são, quiçá, mais belos, repletos de expectativas, prenúncios de prelúdios. Quais mãos virão resgatá-los da latência?  Jovens, anciãs, trêmulas, seguras… Quem lhes despertarão do descanso mudo com o toque preciso, lascivo, penetrante a provocar gemidos  agudos, contidos  nos bojos submissos, passivos? Carícias ensaiadas. Nutria agonia pelos pés desnudos. Não por vergonha ou pudor: sutis são os pilares instáveis  que a sustentam. Gastura, desgosto, desprazer em caminhar descalça. Temperatura e textura do chão  estranhas à sereia trôpega. Protegia os pés feito gueixa, condicionada à castração.  Pé ante pé trilhou o sendeiro  da liberdade. Desfez-se das gazes invisíveis (germes também são microscópicos). Tocou o solo com a ponta dos dedos, sentiu a tensão de corpos estranhos no seu.   Sola-solar, planta nos pés. Enraizou-se ao centro da terra.  Cores locais querência arroio piá capazzz báh tchê  30 com 25 13 com 60 judiaria mondongo plátano lancheria guria erva c

Rabugices de inferno astral

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"João, o tempo andou mexendo com a gente, sim!" (Belchior) Janeiro, já Euro?  Nada, REALidade. Era de Aquário, já era? Não, dura (já) o ano inteiro. Sem praia (do) sossego. Interminável, como agosto mas, chuvoso. Janeiro: saco cheio.  Faz tempo que não posto minhas listinhas com ‘nomes de sucesso’. Deu saudade. E agora, com o tal Chatgpt , talvez só me reste mesmo compartilhar listas... Caí em mim da minha obsolescência, gente. Poemas, crônicas e letras de música criados a toque de teclado pela inteligência artificial? Chocada! Daí um amigão me envia outro golpe: Arte cibernética, militância pró-museus on-line, sem necessidade de obras físicas? Caracoles, para quê vou servir então, se não para contemplar a beleza do mundo ao vivo e em cores? Todo este nariz de cera para dizer que encontrei um motorista de Uber chamado Mafaldo. Após o marceneiro Terezo, outro masculino esdrúxulo. Pensar que em Portugal eu vi um livro na vitrine chamado Rômula. Cruzes!!! Ah, dias atrás descobri

Avessos

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“Parapira, pote que partiu” (Clarice Veras) Ufa, janeiro se foi! Mas não sem deixar seu rastro de destruição. Um asteroide colidiu com Brasília neste primeiro interminável mês do ano que, no derradeiro último dia, completou a devastação: o anúncio da morte de um colega luminoso da UnB, por suicídio. Sim, é preciso escrever a palavra com todas as letras. Fora, tabus! As pessoas se matam, infelizmente. Aquelas mais brilhantes, mais criativas, mais divertidas também. Talvez até por isso mesmo, por queimarem a energia interna rápido demais. A essência vira carvão, escuridão. Nada é capaz de reacender o fogo para prosseguir. Chegar à velhice é correr algumas maratonas ininterruptas. Percurso meio desolado perceber-se um pouco fora de tom, de ritmo, de propósito. Escrevo a ermo e a esmo porque é uma maneira de vomitar meu abalo. Não há justificativa óbvia para desistir de tudo. A gente recebe a notícia e se trinca. Alma se contorce do avesso. As aderências internas que produzem aqueles desco