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Mostrando postagens de outubro, 2015

Frida, mas poderia ser Clarice

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Fui imune ao amor canino pela metade da vida (se levarmos em consideração que a vida começa aos 40). Talvez por ter crescido numa fazenda rodeada de animais de grande porte: vacas, touros, cavalos, mulas, onças pintadas das quais só vi pegadas; lobo-guarás aguardados, em vão, todas as noites...  Os cachorros, galinhas, gatos, patos, pintinhos e porcos eram triviais demais para mim. Eu queria os tatus furtivos; as cobras enigmáticas; as mariposas funestas e as corujas, ah, as corujas soberanas.  Quem sabe também os cães tenham sido associados à onipresença da irmã que sempre me rejeitou. Provavelmente projetei nos bichinhos a recusa daquela moça ciumenta e imatura que não soube se desapegar do posto de caçula.  Seja como for, passei décadas convivendo lado a lado com cadelas e cachorrinhos de vários tamanhos, raças e vira-latices sem lhes dar a menor pelota. Refratária aos seus olhinhos lânguidos e sorrisos, cheguei à maturidade. E na maturidade, vencendo meu nojinh

Gratidão

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Céu fecundo, gris  Que trouxe o vento que confundiu meus olhos  E refez outros nós nos fios das teias, dos cabelos, das trepadeiras.  Os galhos acenam sim, com vigor  Solícitos acolhem o chamado verde  E se entregam lascivos aos carinhos das lufadas frias da chuva  Que traz o vento que confunde meus pensamentos  Devotos, servis, reverentes, clementes ao poder da natureza plúmbea.  Enganadores uivos que insinuam tempestades  Ainda as espero ávida, grávida do cheiro de terra molhada até o útero do planeta.  Para que não reste dúvida de quem reina no meu coração:  as gotas pesadas, lágrimas, da nublada paisagem.

Infinitas versões de "O Reizinho Mandão"

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só que não... Tenho profunda impaciência com os pais de hoje em dia. Me sinto completamente na contramão de quem coloca o filho em um pedestal de superproteção e mega importância. Meus filhos são guris do Brasil, mais dois entre milhares. Sim, eles são fundamentais em minha vida, mas ainda não são imprescindíveis para o mundo e talvez nunca serão. Não os considero mais especiais do que outras crianças no planeta Terra e nem ajo para que eles assim se julguem.  Que coisa medonha rola hoje em dia com essa meninada sem limites, sem humildade, sem noção... Fruto da deseducação de pais como o que eu tive o desprazer de esbarrar no CCBB na sexta-feira passada, quando levava minha doce amiga de Curitiba para um passeio memória afetiva.  Percebi uma altercação dentro do brinquedo que meus filhos chamam de minhoca. Lá cheguei para averiguar a situação, uma vez que tenho consciência plena de que Rômulo nem sempre é bem compreendido em sua vulcânica maneira de ser. Achei que ele

A Escola do Futuro podia ser agora

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“ A inquietude não deve ser negada, mas remetida para novos horizontes e se tornar nosso próprio horizonte. ” (Edgar Morin)  Barreiras, fronteiras, compartimentos. O que esses conceitos têm a ver com o trabalho do sociólogo francês Edgar Morin? Absolutamente nada! O conceituado pensador, hoje na casa dos 80, é uma mente aberta que propõe a aplicação do holismo na disseminação do conhecimento. Não no sentido metafísico que a palavra é frequentemente associada, porém em sua concepção original.  Holismo vem do grego ‘holos”, que significa todo, inteiro, completo. É uma forma de pensar ou considerar a realidade segundo a qual nada pode ser explicado pela mera ordenação ou disposição das partes, mas, sim, pelas relações que mantém entre si e com o próprio todo, buscando evitar o reducionismo do pensamento cartesiano, que deixa de considerar as interações existentes entre os seres vivos, fragmentando os saberes.  Por isso Edgar Morin é reconhecido como um dos maiores i

Das fixações

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Filme de primeira é um apelo irresistível à revisão. É sempre instigante descobrir se a obra vai suportar segunda ou terceira conferências. Se a emoção permanece viva; se o argumento segue atemporal.  No último domingo, fui para a cama mais tarde revendo The Sixty Sense. Não dava para não rever! Quando foi lançado, mamãe e dindinha ainda estavam firmes e serelepes. Sentada no escuro do cinema com a minha irmã mais velha, os sentimentos eram diversos do que experimentei dessa vez.  Agora, minhas mães são dead people e eu me pego pensando que talvez fosse legal ser capaz de reencontrá-las nas madrugadas insones “all the time”. O que elas teriam a me dizer? Pediriam ajuda como sugere o filme? É reconfortante acreditar nessa teoria de que os mortos só querem o nosso bem e a solução de pendências.  Mas se elas aparecessem para puxar o meu pé e a minha orelha? Se tivessem a intenção de me castigar ou criticar? Bem sei que preciso de reprimendas. Qual seria minha reação