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Mostrando postagens de julho, 2018

Santuário

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No caminho para escola dos meninos lá está ele, o imponente Santuário. Gosto de ser vizinha dele. Os templos me fascinam. Acho que fui impregnada deste silêncio e mistério desde muito nova. Por causa da madrinha, cresci entre as naves da Catedral de Brasília e da paróquia de São Judas Tadeu (aqui e no Rio de Janeiro). Hoje, levando o menino que agora tem 11 anos para uma atividade extracurricular, lembrei que fazia um tempinho que não visitava Dom Bosco. Às sete e meia as portas da igreja já estavam escancaradas. - Oba, na volta vou entrar um bocadinho. - Estranho as igrejas ficarem abertas tão cedo... - Não, filho, é isso mesmo. Nos EUA é que era estranho todas as igrejas fechadas, reclusas. As igrejas são lugar de aconchego, de reflexão. E precisam acolher os que querem apenas fazer uma oração cedinho antes de ir para a escola, para o trabalho.  - Mas essa igreja é tão grande, você ficar ali sozinho lá dentro é esquisito. Por que precisa ser tão grand

Eleven

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- Vai dormir logo, meu filho, que amanhã você já acorda no seu aniversário! - O problema é que depois de amanhã já não vai ser meu aniversário! Sim, ele é ansioso, está sempre uns dez pulos na frente com respostas rápidas, zunindo sem titubear a cada argumento que temos. Ele gosta de pimenta e outros condimentos exóticos, como os da comida etíope pela qual se apaixonou.  Ele nunca é convencional, como se tivesse lido um manual do avesso. Aliás, manuais são adoráveis para ele. Ele quis entrar dentro da 5ª Sinfonia de Beethoven aos quatro anos. Seus olhos brilham de curiosidade por todas as coisas. Ele nasceu no Dia do Motociclista e se parece com um daqueles malucões de jaqueta, livres de amarras e de boas maneiras (juro que tentamos ensiná-las todos os dias!). Preciso me conformar e serenar o coração de mãe para os desafios que me esperam. Ele abraça de costas para a pessoa que está sendo abraçada. Ele já tomou choque em cerca elétrica.

Amarga

“A ignorância procria ignorância”. (Prem Baba) Que asco essa Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, não? A extensão oficializada do crime organizado que dá as cartas na cidade ex-maravilhosa que sempre votou mal cacete!!! Ali está/ão o/os assassinos de Marielle, me parece evidente.  De onde surgem excrescências como Crivella, Pezão, César Maia, Antony Garotinho?? É um rol de paspalhos considerável... Um atrás do outro cavando mais fundo a desgraça da capital fluminense.  Eu sei que no país todo pululam políticos saídos direto do esgoto, o que nos faz ter uma visão distorcida da nossa sociedade: os brasileiros são inerentemente execráveis? Realmente é um fenômeno maior do que a minha limitação intelectual é capaz de entender: por quê não há um mínimo de decência pública no Brasil? Somos mesmo um país de devassos? De imorais? De escrotos?  Seríamos, de fato, éticos que, chegando ao poder, nos corromperíamos até não sobrar nada além da podridão? Ou o nosso te

Frost bite

Caminhar na alvorada nos reserva imagens de delicadeza: o sol banha a ouro as empenas e fachadas dos prédios residenciais, as copas das árvores... Joia gratuita que, aos poucos, toma conta de todo o cenário de cima para baixo. É bacana acompanhar o jorro de luz avançando à medida que se avança também no percurso. Muitos pássaros diferentes estão animadíssimos assim que raia o dia. Os pombos-lixeiros não se fazem de rogados em bandos arrulhados. Párias, assim como os grupos de moradores de rua envoltos nos cobertores que, em tempos ainda mais preconceituosos, eram chamados de “sapeca-negrinho”.  Na manhã que se inicia tem missa para o que cedo madrugam. E os cachorros obrigam seus donos a sair para um primeiro passeio. O ar é gélido e seco. Muitos caminhantes se cruzam, alguns dizem: bom-dia! Um senhor que passa por mim reclama do frio. Concordo com ele, mas na verdade discordo. Adoro sentir as bochechas gelando. Algo que talvez tenha aprendido com os invernos rigorosos d

Expandindo o Diafragma

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Agora que venho me expressando, além das letras, por imagens, reunindo as duas, gostando da brincadeira que está evoluindo nos dois sentidos, me atento para o quanto a fotografia é intuitiva. O mestre Cartier-Bresson fala de “momento decisivo ou instante decisivo”. Para quem fotografa na rua, faz todo sentido: “Há uma fração de segundo criativa quando você está fazendo uma foto. Seu olho deve enxergar uma composição ou uma expressão que a própria vida oferece a você, e você deve saber através da intuição, quando clicar. Esse é o momento em que o fotógrafo é criativo”. Cada vez que reconheço algo como fotografável; que percebo o valor estético daquele átimo de cena, estou tomando uma decisão também em frações de segundo. Um passo à frente e você já perdeu a luz, o ângulo, um rosto, a asa do pássaro, aquele galho movido pelo vento. Para se eternizar o instante decisivo você também precisa correr o risco de ser instantânea. Não há tempo hábil para recalcular, ou refl

Seria um telequete daqueles

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CONFUSÃO DE PESO Vim comprar ração pra minha cadel(x). As vagas no estacionamento da loja são bem estreitinhas. Quando saía do carro, uma moça veio em minha direção. Ela olhou pro espaço entre meu veículo e o dela e fez uma cara de poucos amigos. No ato, já voltei pro interior do carro. Mas a simples ideia de que eu ia retirá-lo pra que ela pudesse caber no diminuta brecha fez com que a moça desse um guincho de horror. Ah, eu consigo entrar, não precisa mexer em nada. A mulher começou a se espremer toda e a dar mais guinchos. Apareceram logo uns gatos pingados (humanos, apesar de ser um pet shop) meio sem compreender o que acontecia por ali. Como imaginei, a mocinha acabou ficando mesmo entalada. No momento em que escrevo estas mal traçadas no café da loja de artigos para animais, o pessoal de apoio ao cliente está tomando as devidas providências para o resgate. É complicado pra mim, não posso negar. Mas acho que teria sido bem pior se eu tivesse insinuado que ela estava a

Lepdópteras

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Sei que você não vai acreditar, primo. Você é um cético. Te conheço. Você tem certeza que herdei o traço das irmãs Militão para imaginar além da conta. Para exagerar o concreto com a fertilidade uterina e de pensamento que carregamos nos genes.  Mas aconteceu. Acordei às 4h45 depois de um profundo sonho com a Tatiana (ex ou ainda atual namorida do meu sobrinho Rodrigo). O que ela fazia me apresentando sua nova casa aos moldes de Gaudi, foge ao meu entendimento. Tenho tido passeios oníricos muito estranhos com pessoas distantes da minha rotina nos últimos dias. Coincidiram com a leitura do livro de Haruki Murakami.  Um livro chamado Sono que fala sobre uma mulher que não dorme. Surreal é o conto do autor japonês, ilustrado magistralmente por uma alemã. Coincidência também seria o fato de ter recebido um convite para uma festa de aniversário na Alemanha na semana passada? De uma amiga germânica que há muito não dava sinais de que ainda me conhecia?  Só sei que te