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Mostrando postagens de setembro, 2017

"To educate and inspire all students..."

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Quem me acompanha no FB e também no blog sabe que não sou admiradora devotada do American Way of Life, muito pelo contrário. Acredito que os americanos poderiam levar uma vida muito mais plena e alegre diante da grandeza natural e estrutural do país no qual nasceram. São inegáveis as belezas da Natureza, bem como das criações humanas desse território bem cuidado, organizado e seguro chamado Estados Unidos da América. Todavia, os americanos são duros, pouco flexíveis com os outros e consigo mesmos. Vivem numa teia neurótica de vilões que a sua indústria cultural reforça a cada novo filme de Hollywood: é medo de terroristas; de psicopatas, de pedófilos; de franco-atiradores; de insanos com uma arma na mão (de fato, o único medo que realmente deveriam ter, uma vez que estimulam e liberam o uso de armamento por quase quem quer que seja).  Negros e brancos seguem se aturando numa convivência paralela forçada. Caminham lado a lado, porém não se esbarram, não se tocam, nã

Macunaímas e Jecas-Tatus

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Revoltante saber que a população de Mariana/MG discrimina e marginaliza as vítimas do desastre da barragem da Samarco. Chamam os antigos moradores de Bento Rodrigues de vagabundos porque recebem um cartão, espécie de auxílio-alimentação, uma esmola, enfim, por ter tido suas vidas rurais ceifadas violentamente.  Mineiros contra mineiros. As crianças de Bento começaram a ser perseguidas nas escolas. Estigmatizadas com a pecha de “pé de lama”. A prefeitura teve de transferir todas elas para um espaço específico em face das perseguições. Depois a brasileirada gosta de bater no peito e dizer que é gente boa, que é cordial, que é hospitaleira.  A ignorância do brasileiro é tão desmesurada! Como fazer entender que essas vítimas já teriam sido indenizadas em milhões se o Brasil fosse digno? O povo de Mariana está com inveja de um auxílio-alimentação? Mediocridade nauseante!  Nunca fui ufanista. Nunca achei que o melhor do Brasil é o brasileiro e outros orgulhos sem razão d

Swan Lake

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Posso ir embora para o Brasil mais feliz! Apresentação magnífica de O Lago dos Cisnes, com variantes interessantes do balé que já havia visto com o American Ballet Theatre. O NY City Ballet teatralizou alguns pontos e fez um final, na minha opinião, mais poético. Nada de salto para a morte. Odette simplesmente voa junto com seu bando, eternamente cisne... Vocês sabiam que Tchaikovsky criou a história com final feliz e que a primeira apresentação de Swan Lake foi um fracasso total? Só depois da morte dele é que a história foi modificada para o final trágico que é o clássico dos clássicos até os dias de hoje. A orquestra fez um show à parte! Estava radiante, perfeita! Dava pra ouvir cada instrumento com muita limpidez e harmonia... A composição de Tchaikovsky merece esse carinho, né? Debulhei algumas lágrimas... Chorar de beleza é uma alegria!

Protossentimento

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Viajava com mamãe pela rodovia quando avistamos uma cidadezinha que bem era a mistura de Inhumas, São Jorge e Alexânia. Dona Maria vai até um vendedor ambulante de pamonhas, mas chamo ela de lado e digo: - Não, mamãe, vamos ver se a gente acha uma pamonha de verdade!  Abro o Foursquare e explico pra ela como funciona. O primeiro restaurante da lista se chama "Goiabeira Linda". A página se abre e surgem dezenas de fotos da tia Belina e da prima Tiana saboreando, com gosto, muitas pamonhas fumegantes. Aí a gente já está a pé procurando o tal do Goiabeira Linda, que mamãe afirma saber onde é. Caminhamos um pouco, mas mamãe se perde. Então paramos à sombra de uma árvore rente a um muro. Começo a ativar o Google Maps quando mamãe reclama: - Tô apertada, preciso mijar! - Ai, mamãe, que mania de falar mijar, coisa feia! Como é que a gente vai pra Europa de mochileiras se a senhora não aprender a fazer xixi em qualquer lugar? Por que não fez lá

Urbanas

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1 - Para variar, esqueci o mapa Então você pensa: a cor é igual, o trajeto é igual... Daí pega a linha D uptown ao invés da B. Assiste impotente à sua estação de descida ficar pra trás na velocidade da luz e a composição seguir veloz e expressa deixando a ilha de Manhattan e seu encontro com as amigas cada vez mais distante. Você se desespera: agora só para em Coney Island, fim da linha, puta que o pariu! Mas antes que a sua mousse de abacate vá para o brejo nesse calor insano, o trem para na 125st. Ufa, ainda estamos na ilha! Resta voltar pela B até a 81st... Jecar na Big Apple é preciso! 2 - Small talk on the sidewalk - Is it a lion?, perguntou a voz de barítono gospel às minhas costas. - A lion and a bull?, insistiu. Demorei, mas saquei que era comigo que o cara falava. Diminuí o passo e olhei pra trás. - Yeah, they are my sons... O cara fez uma expressão "não entendi nada", então prossegui: - In the zodiac one is lion and the other i

Maribel

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O clima no estado de NY pode variar alucinadamente de um dia para outro. Ontem, 30 e tantos graus. Hoje: 21 de máxima e chovendo. Passei em frente da Good Will Store e me deu vontade de checar a bugigangas. Fazia tempo que não entrava no gigantesco brechó que tem de tudo um muito. Maneira divertida de gastar tempo até buscar Tomás no Avid Summer Camp. Quando terminava de pagar meus garimpos, uma hispânica me perguntou as horas em espanhol. Eles sempre acham que eu sou hermana com esse fenótipo inca-maia-tupi-guarani... Respondi na língua nativa dela, mas ela seguiu me olhando com um ar de cachorro que caiu da carroça. Abria a porta do carro quando ela teve coragem de perguntar: - Você está indo para onde? (em espanhol, claro). Levei alguns segundos para reprogramar o cérebro a fim de não responder em inglês. - Você não fala espanhol, né?, sacou. - Sí, yo soy brasileña, hablo portugués. Pero puedo hablar español también. Ela me pediu uma caro

A primeira década do leão

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Hoje acordei com a mensagem do meu primo-irmão que dizia: "seu leãozinho cada dia mais ão e menos inho".  Verdade, a vida anda pra frente e ele completa uma década. Ao menos, como todo felino, ainda curte um colinho, uma coçadinha nas costas... Romulito pirulito, Sherlock Rômulos, Menino Maluquinho... Garoto de múltiplas facetas, todas elas desafiadoras e instigantes. Queria ser capaz de compreender toda a amplidão desse ser que saiu de mim com uma bocona aberta, rugindo poderoso. Dez anos de aprendizados incríveis, boa parte deles acompanhados por vocês por meio das perguntas e conclusões desconsertantes que já leram aqui no FB. Romulito é fogo, é paixão. Sabe fazer confusão como ninguém! KKKK! Mas também é pau pra toda obra, sempre pronto para aprender e colocar a mão na massa! Energia pura, solar, furacão. Tem muito de mim nas estrepolias, no amor pelos cavalos, no despachamento. Tem muito do pai na vocação para os problemas complex

Vida em estado de alerta

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Quando todos os trabalhadores braçais resolvem estar a pleno vapor em sua rua e você chega desavisadamente com a roupinha fitness da caminhada... Ser mulher, às vezes, é muito cansativo. Sem contar que você nunca está totalmente à vontade na bela trilha/ciclovia quase deserta e cercada por intensa vegetação nativa.  Hoje, meus filhos assistiram a uma reportagem sobre violência contra a mulher no Brasil que o telejornal Hora Um transmitiu. Eles entenderam o significado de feminicídio, conversamos sobre o assunto. Acho que é assim que as relações de gênero vão evoluir para um patamar civilizado. Mas não já, não daqui a pouco, quem sabe daqui a uma década? Sei não. Enquanto isso, as mulheres buscam a liberdade, mas a sombra da vulnerabilidade lhes turva o espírito, diariamente.

Borderline

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Aproximamo-nos da fronteira Canadá-EUA com uma certa tensão, afinal, como falei anteriormente, os americanos são noiados, repressores.  O agente na cabine foi, como os oficiais costumam ser, áspero e nada amigável. Fez várias perguntas, insistiu muito comigo e olha que tenho um visto menos chinfrim, J2. Queriam saber se eu tinha pedido outro tipo de visto, se estava trabalhando ou estudando, se tinha pedido visto no Canadá... Mandaram a gente encostar o carro e descer para responder mais perguntas no escritório da fronteira. Lá, só eu fui chamada para responder mais questões desconfiadas e hostis. Até o momento em que falei que voltaria em dezembro para o meu trabalho na Suprema Corte no Brasil. O funcionário me olhou pela primeira vez nos olhos e rosnou: - Do you work at Supreme Court? - Yes! Ele passou a me tratar como um ser humano naquele momento. Dois minutos depois, liberou a gente.

Maple heart

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Aproveitamos Ottawa até o último segundo. Vontade de ficar mais um bocadão... O Canadá corroborou a minha teoria de que é possível viver num país civilizado, porém mais leve.  Os americanos são tão patrulhadores e reprimidos, não me sinto em casa lá. Me senti aqui, onde falar um inglês com sotaque latinizado não te enquadra como um imigrante que "veio ferrar o meu país". Você se mescla no meio das várias culturas e da bilinguidade que molda a convivência, tornando-a mais flexível, mais simpática, mais descolada. O Canadá abarca muito bem o espírito do velho mundo com a alma contemporânea.  As cidades têm parquinhos com areia de verdade, abertos, não cercados como os americanos que, pra piorar, ainda estampam regras policialescas que intimidam a criança a não se divertir.  O país é essencialmente jovem. Os vendedores são simpáticos, not pushing como os americanos. Os imigrantes daqui me pareceram viver menos infelizes do que os imigrantes nos EUA.