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Mostrando postagens de julho, 2012

Dual flex

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  “Nossa, você tem um leão tatuado nas costas!” Nas costas e no coração. Um leão e um touro. Meus filhos. Duas forças da natureza. Dois amores eternos. A selva e a fazenda. A savana e o cerrado. O sol e a lua. A relva e a pastagem. Duas faces da mesma moeda da maternidade. O claro é mais escuro. O escuro é mais decifrável.   O mistério de criar duas almas que se reconhecem e se estranham, que se completam e se rechaçam. Quem tem dois filhos vive imerso nos dilemas. No caso de uma dupla masculina, penso que fica ainda mais desafiador para a mãe. Universo constituído pelo terreno do oposto.           Diz o sábio Haroldo, amigo inseparável do Calvin: “as meninas são feita de açúcar, mel e estrelas do céu. Os meninos, de lesmas do morro e rabo de cachorro”. Descrição mais exata não poderia haver. Não é à toa que Bill Waterson é um gênio e suas personagens estão entre as mais inteligentes e queridas do mundo. Indo além do sentido literal da metáfora, meninos são

Pontiagudo

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Em algum lugar entre Minas e São Paulo Pode ferir, pode matar. Incomodar, cutucar... Instigar, maltratar, empurrar, ameaçar, incomodar. Penetrar... Não poderia ter nome mais acertado o Parque Nacional do Itatiaia. Em matéria de natureza, melhor não contrariar nossos ancestrais tupis: pedra pontiaguda, pontuda: Itatiaia. Sua beleza nos provoca sensações extremas. Ora medo, ora deslumbramento. Penetrante experiência.  No sopé do Parque Conheci Itatiaia antes de ser mãe. Voltei tantos anos depois e bendigo: viva quem inventou essa história de parque nacional!!! Tudo do mesmo jeito, intocado, avantajado e deslumbrante.  Rio Campo Belo O Itatiaia é nosso, graças a Deus, ao Visconde de Mauá - antigo dono daquelas terras que não foram maculadas pela sanha “progressista” do Homem - e ao botânico Alberto Loefgren, que tanto insistiu que conseguiu do Getúlio Vargas um decreto para resguardar, para sempre, o maciço de Itatiaia da maciça e ininterrupta especulação imo

Minhas férias

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De volta ao mundo real. Ou seria lá detrás dos montes, encravada no vale da Mantiqueira, onde se esconde a realidade? Porque a felicidade, com certeza, está lá. Naquelas verdes pastagens que não tomam conhecimento das vorazes cidades que engolem sonhos e pausas. Oração Tempo em Virgínia, São Sebastião do Rio Verde, Pouso Alto, Passa Quatro, Itanhandu, Passa Vinte e demais paragens das Terras Altas de Minas não quer dizer muita coisa. Nonada. Só o existir entre uma capelinha de melão e outra, entre uma prosa e outra. O cemitério cheio de flores de plástico lembrando que a morte é quem nem a vida: cotidiana. Capelinha de melão Morte e vida Virgínia! A gente pensa que esses cenários já deixaram de existir. Somos mesmo muito autocentrados. O relativismo cultural não chega nem ao fim da rua. Mas com toda a alegria boba do planeta a gente descobre que estava errado. Que o interior ainda sobrevive. Até dentro da gente. Que tem caipira que nem sabe o que é capital: Br

Mutante X

“O ofício de escrever é solitário, e não é todo escritor que consegue transmitir, falando, as mesmas coisas que consegue pôr no papel”, afirmou André Barcinski, crítico da Folha de São Paulo, num balanço que escreveu sobre a Flip de Paraty. Não foi difícil me identificar com a constatação. Não porque me considere uma escritora no sentido pleno, mas porque realmente percebo que pareço ser duas pessoas. A de carne e osso, vacilante, em franco contraponto com a que escreve: desenvolta, pró-ativa.  Engraçado que eu costumava ser completamente extrovertida e autoconfiante ao vivo e em cores. A escolhida para representar a classe e os papéis principais no teatro da escola. A reivindicadora contundente por excelência. Mas a partir do momento que fui me definindo como um ser que se expressa pela palavra escrita, meu lado líder sindical embotou.  Sinto-me pulsante, vibrante, forte e decidida em cada frase que coloco no papel. Mas pessoalmente já não me garanto. Acho que não sou mais u

Cometa

Malas prontas! A casa vazia de móveis ecoou meu grito eufórico. Naquela madrugada, partiríamos em busca do sol, mar e da falta do que fazer. Quatro amigos e um uno mille. Os pais, figuras preocupadas por vocação, não gostaram nadinha da ideia. Mas, nós, é claro, a adoramos. Estudamos todas as rotas, fizemos todos os cálculos e tiramos todo o dinheiro de nossos cofrinhos. É perigoso viajar num carro tão frágil! Ah, mas se o uno falasse... Aguentou barras e barros sempre de boa, roncando baixinho. Cara, essa viagem vai ser demais! Eh oui! A mania afetada do Cacau de responder tudo em francês... Porém dos amigos de infância a gente suporta todas as afetações, ponto final. Cláudio, Andréa, Marco Antônio e Luciana: o quarteto que era um trio, afinal o Marco não valia nada. A brincadeira pegou por causa das sonecas vespertinas do garoto que acabavam furando todos os programas. No começo ele ensaiava uma zanga, mas depois se acostumou com a sacanagem e tirou de letra, na tranqui

Páginas de um livro bom

Era outubro e a gente aproveitava para se ver entre uma chuva e outra. Brasília e seu céu enorme... A impressão é que ele acumula mais água, pronta para desabar nesta amplidão sem marquises. Tenho uma surpresa pra você! Jura? Qual? Tô passando aí para te pegar agora. Acabávamos de passar no vestibular e tudo significava delícia. A vida andava sorrindo naqueles dias. Paramos em frente a uma concessionária de automóveis. O carro era do pai dele (como são todos os carros destes meninos de 18 anos). Sim? Não adivinhou? Não me diga que você vai comprar um carro? Acertou! Embevecidos, namoramos os modelos e cores em exibição. A gente não podia errar. A escolha havia de ser única. Afinal, um rito de passagem daquela importância!!! Nada de marcar as horas de chuva em chuva. Os encontros seriam sempre a qualquer hora e em todos os cantos. Greve de ônibus? Nem pensar! Foi o primeiro carro que escolhi em minha vida. Ele estava escondidinho no fim da fila, olhando para mim. Paquerei

Muito além da Esplanada

Escrevi essa matéria há 12 anos, de encomenda para uma revista cultural de São José dos Campos. A editora era uma apaixonada por Brasília e queria que as pessoas fossem "além" da bat imagem esteriotipada da TV.  Leiam e reflitam: a cidade ( e seus habitantes) mudaram ou não nessa década? Muito além da Esplanada Há alguns metros dos ministérios e do Congresso Nacional, Brasília prova que está longe de ser apenas a imagem de cartão-postal explorada pela mídia Já na Rodoviária do Plano Piloto, localizada próxima à Esplanada dos Ministérios, é possível derrubar alguns dos mitos que cercam a capital do Brasil. “Em Brasília não existem pessoas nas ruas. A cidade é um deserto”. O vai e vem de gente subindo e descendo na plataforma rodoviária não deixa nada a dever ao movimento diário de passageiros de qualquer grande centro urbano. Uns correm, outros compram jornais, alguns vendem bilhetes da loteria federal. Crianças, adultos, jovens e velhos. Habitantes desta cidade tão