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Mostrando postagens de outubro, 2009

Divagações em sol maior

A música de Villa-Lobos é cachoeira, passarada, é céu azul em sol nascente, é noite de lua nova e  estrelas, é floresta e cerrado, é princípio sem fim de um enorme desejo de encontrar no canto a nossa redenção. Fabiano Canosa Passei dez dias no eixo Rio e São Paulo. Foi a segunda vez que curti esta experiência: sair de Sampa rumo à cidade maravilhosa. É interessante enxergar as diferenças gritantes entre as duas maiores metrópoles brasileiras, pois elas ultrapassam, é óbvio, as paisagens urbanas diversas de cada uma. Acho que a praia dá mesmo uma leveza ao Rio que é impossível encontrar em São Paulo. Em compensação, não encontramos em São Paulo tanta gente disposta a passar a perna na gente quanto no Rio. Xi, agora ferrou! Os cariocas vão me linchar em praça pública. E olha que eu nem uso minissaia e não existe filminho de transa minha circulando na internet (eu acho), ou seja, ainda posso ser considerada uma moça de “boa família”. Mas a malemolência do Rio realmente frustra. Mos

Fernanda de Beauvoir

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Eis que passa por mim, com sua simples altivez, a estupenda Fernanda Montenegro. Quase engasgo com o meu sanduíche de peito de peru, mussarela de búfala e saladinha. Quase vou lá tietar. Mas um flash de sensatez me deixou sentada onde estava, num café do boçal shopping Fashion Mall (com este nome já diz tudo). Esperava justamente ela, mas não ali nos corredores, como uma vovó elegante olhando as vitrines. Daqui a meia hora estaria de frente para a maior artista viva do país em “ Viver sem tempos mortos ”. Foi deveras interessante perceber o quanto Fernanda é mesmo uma deusa do Olimpo das artes. Este encontro inesperado no corredor do shopping deu a prova definitiva de que não é preciso quase nada para alguém talentoso operar o milagre de se transformar em outra pessoa. O santo baixa em mínimas sutilezas. No tablado ela estava com a mesma camisa branca de gola que vestia ao passear pelo shopping. O que ela fez foi sentar numa cadeira, tirar os óculos de armação negra e prender o cabe

Uma mulher sob a influenza

Santa providência, Batman! Será que, enfim, estou perdendo o medo de voar? A menina-gata-garota-carioca-suingue-sanguebom sentada à janela me ofereceu um serenata de amor que, com bravura, recusei (já estava com meu estoque de chocolates na bolsa, uma caixa virgem de alpinos. Afinal, toda chocóolatra que tenha a dignidade de receber tal título precisa de um arsenal de emergência nas alturas). A gentileza da companheira de voo era a prova irrefutável de que eu iria mesmo fazer uma conexão no Rio de Janeiro, aeroporto internacional Antônio Carlos Jobim. Ser simpático é da natureza dos cariocas. A esbelteza clean e descompromissada também. Daí que olhei para ela e percebi que um pôr-do-sol lindo estava me convidando do outro lado daquela janelinha pombal. Havia um céu de cinema lá fora, ao meu lado, viajando comigo e eu ali preferindo o corredor vazio. Arrisquei ficar de bobeira, me apaixonando por aquele cenário. Acabei me esquecendo de que estava a milhares de quilômetros do chão. C

Menina obediente

ô mundo tão desigual...tudo é tão desigual de um lado esse carnaval, de outro a fome total Torquato Neto e Gilberto Gil Folhear revistas femininas é divertido. Às vezes você encontra textos interessantes e concursos culturais desafiadores. Uma vez ganhei uma semana free em um dos SPAs mais caros do Brasil ao participar de um deles com um texto que pretendia saber: “o que é boa forma pra você?”. Nestes dias, tive que passar um tarde inteira no salão de beleza. Gente, como essas modelos e celebridades aguentam tamanha provação? Não há cérebro que não derreta com o barulho dos secadores, o cheiro de ácido fórmico e a futilidade reinante. Uma das moças que trabalhavam no lugar traduziu muito bem o lema de sua vida: “você está tão séria hoje, dona Lígia. Não pensa muito não, não vale a pena. Eu não fico pensando”. Eu olhei pra ela pensei: “é isso aí”, enquanto minha cabeleira volumosa mudava de cor e de formato. Pois é, sou mulher e não posso renegar a minha condição de ser da espécie