Desvirginada

Me amarro nos processos de estrear em algo nunca feito antes. É como propõe uma dessas palestras edificantes da internet: "tente, em 30 dias, fazer algo diferente, algo inédito". Para mim isso não é problema, pois eu sempre me permito desbravar uma seara desconhecida. Tudo o que eu menos gosto nessa vida está incluído na palavra rotina.

Não que eu queira viver emoções ilimitadas o tempo todo, não é isso. Não sou uma viciada em adrenalina. Mas tenho o bichinho da aventura passeando nas veias. Fuçar, eis algo muito meu. E numa dessas incursões ao ainda não experimentado, participei de um curso mulherzinha de automaquiagem. Afinal, nunca é tarde para aprender que corretivo não é só palmada na bunda dos guris, né?

Pois não é que funciona... (os dois tipos de corretivo, diga-se de passagem). Adorei descobrir que existe correção para as marcas de olheira e, mais especificamente, para as marcas dos óculos nas laterais do meu nariz. Sempre me debati com essas tatuagens nasais involuntárias e, apesar de já ter ouvido falar N vezes de corretivo, nunca havia experimentado nenhum. Segredinho de mulherzinha bacana esse, viu? O tal corretivo ainda esconde manchas escuras do cantinho da boca, uma panaceia. Adotei!

Instigante eu ser vaidosa e esse lance de maquiagem nunca ter me atraído. Mas é mesmo fácil se transformar em alguém mais luminoso com pequenos complementos de lápis e rímel. A verdade é que sempre me considerei muito desastrada, sem habilidade para a coordenação motora fina que fazer uma maquiagem descolada exige. Mas eis que a instrutora do curso, a dona do salão, me sai com essa: "Estou vendo que você tem muito jeito para passar o delineador. Você tem a mão bem firme". Ôpa, nada como uma quebra de paradigma!!!

Pois então, nesse meu lenga-lenga de não ser habilidosa para me maquiar, fui ficando até chegar aos 40 ignorante de quase tudo sobre essa arma nem-tão-secreta-assim da beleza feminina. Era fácil me manter na zona de conforto por ter uma pele naturalmente boa, sem manchas ou cicatrizes. Imagina se o meu vício em chocolate me tivesse legado inúmeras marcas de espinha? Qual o quê. A sorte sempre esteve ao meu lado nesse ponto. Escapei! E quando eu precisava de  algo assim, vamp, eu recorria à bat tia Leila, que teve uma carreira de modelo na juventude e é versada nesse quesito mulherzinha.

Mas dar um up grade sempre é boa pedida e por que não o curso? Mais um presente do maridão by Grupoun. Xi, sei não, acho que o Bernardo já está me trocando por duas de 20 e anda com a consciência pesada ou é mesmo só óbvio: vontade de ver a mulher dele feliz, essas coisas.

Admito que cheguei ao salão no fim da Asa Norte um tanto ressabiada. Sem jeito, como se cometesse um crime, entendem? É que meu lado Camille Paglia é muito apurado... A futilidade do mundo das revistas de mulheres, a opressão da vaidade na sociedade de consumo, a exploração do corpo feminino na Publicidade e demais teorias chatinhas das feministas que acabaram colocando a espécie nesse limbo masculinizante esquizô.

Porém, venci o desconforto e me entreguei de mente aberta aos toques do curso, muito interessante e longo, acreditem! Maquiar bem é também uma arte e, como tal, leva tempo para se iniciar. E gente, perdi a virgindade das partes molhadas superiores... Não, não comecem a levantar suposições estranhas por aí. A instrutora passou lápis na parte superior dos meus olhos. Ali, no inverso de onde costumeiramente rolamos o lápis.

Como meus olhos são muito pequenos, sempre achei que o lápis preto ao redor deles reduzia ainda mais o perímetro olhal. Mas o lápis na parte superior dá um tchan impressionante. Quando ela pegou o meu olho e tum, encostou o lápis lá em cima, quase enfartei. "Calma, lá, garota! Relaxa!" (Ai, esses processos de defloração... Quando acabam, hein???) Depois, eu consegui sozinha no outro olho e amei o resultado. Adotei também!

A instrutora, Vilma, muito simpática, deu dezenas de dicas úteis, como a do delineador: "Um básico da Avon já serve. O importante é ser curto, que você possa apoiar a mão na bochecha para encontrar a firmeza necessária para riscar uma linha fina e constante". E também sobre o blush: "Trace uma linha da orelha rumo ao nariz e depois espalhe. Nunca em direção à boca. E nunca ao contrário, pois vai parecer que você tem duas bolas vermelhas nas bochechas".

Ela também disse que a linha da Catharine Hill é muito boa e pode ser encontrada num quiosque da marca no Shopping Pátio Brasil. O corretivo do Contém 1 grama também dá para o gasto e por aí vai. Saí do curso às seis da tarde com uma maquiagem bem bonita feita por mim mesma, um triunfo! (Quem atesta a qualidade da minha self production é a amiga Isabel, que me encontrou em seguida e disse que eu estava linda). OK, ela é camarada do coração, mas BelBel também é uma dessas mulheres iniciadas na arte da sedução, que me confessou ser uma viciada em maquiagem na adolescência: "Pintava a mim e a todas as minhas amigas".

O que achou o marido? Bem, ele estava no meio do Lago Paranoá contemplando o pôr-do-sol com dois machos num barco à vela... Nem tudo é perfeito, não é verdade?:) Mas para mostrar que sou uma mulher sem ressentimentos, prometo fazer uma produção avant premier quando der...