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Mostrando postagens de janeiro, 2024

Voos

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Toquei nas costas do anjo enquanto dormia Surpreendida pelo fato: eles têm costas macias,  recobertas por penugens, plumas. Costas-asas. Desvelei o segredo, velei o sono de céu,  véus translúcidos como a opala. Estremeceu, estremeci. Em breve o alado partirá. Com ele, meu coração longe do corpo. Uma botinha nos pés e mil ideias na cabeça. Lembranças de caminhos percorridos no outono em Manhattan e também no interior do estado de Nova Iorque: privilégio que me foi ofertado pelo pós-doutorado do cientista. Recordações das instigantes aulas no Westchester Community College. O respiro do dia na rotina da stay home mom. Parava o carro e seguia adiante pelo campus bem cuidado, quase impecável, localizado nas vizinhanças de um cemitério belíssimo, sereno. Aliás, tudo ali naquele condado era bom gosto e tranquilidade. A botinha estampada também transitou por lápides, anjos e escrituras. Prazer indelével sair de uma aula sobre “Budismo e Cristianismo: diferenças e semelhanças” e caminhar ent

Verde esperança (na humanidade)

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Janeiro, época tradicional da pamonha. Milhos verdinhos, molezinhos, safra tinindo, prontos para se transformar na melhor das iguarias goianas. (Não adianta: nenhuma pamonha de nenhum outro estado é tão autêntica e saborosa). Aliás, os goianos acabaram de proclamar o 3 de fevereiro como o Dia Estadual da Pamonha. Mandaram bem. Patrimônio gastronômico, oras. No trajeto de volta da saga nordestina pela rodovia JK, que trouxe para o planalto central tantos piauienses, baianos, maranhenses, nordestinos e nortistas irmanados no sonho da capital modernista, existem algumas pamonharias saudando os candangos de antes e os novos candangos entre a divisa Goiás/Distrito Federal. Município de Formosa (formosa é a paisagem por ali, um prenúncio do que mais adentro se tornará a Chapada dos Veadeiros). Tô fazendo um tremendo nariz de cera para contar que obriguei o motorista, no caso, meu marido, a parar numa dessas vendas da beira da estrada. “É tempo de pamonha. Vamos aproveitar para jantar, pois l

Mixórdia (mamãe falava michórnia e eu achava lindo)

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Do sul, onde faz divisa com o estado da Bahia, ao norte, que deságua no mar de Luís Correia, fizemos 1.100 km. Só de Piauí. Caraúbas Caxingó Piracuruca Campo Maior Piripiri Buriti dos Melos Canto dos Buritis Esperantina… Nomes que afagam. Haja vastidão neste país. O Piauí ele próprio uma nação de belezas ímpares e de cultura singular. Paredões paleolíticos, rupestres pinturas compartilham a ancestralidade com o novos modelos de agronegócio. Escassos agora são os jegues cor de asfalto. Todavia, segue abundante por aqui a intensidade de sabores, de afetos, de calor do sol e das pessoas. Aliás, tudo o que não falta nessas léguas longínquas é sol, sol, sol. Energia solar para clarear as insondáveis escuridões. O sertão, buraco amarelo. Bem pontuou a amiga Karla ao ver as fotos que tirei: "o Sol aí parece maior". À beira-mar, as varandas das redes bailam sob a regência eólica possante, incessante. Ipês, caneleiros, mutambas, angicos, sapucaranas se irmanam à caatinga. Carnaúbas ca