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Mostrando postagens de março, 2016

Memorabilia

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O objetivo era encontrar uma capa para o violão do caçula. A W3 Sul - que na minha infância reluzia com seus letreiros chamativos, abrigando as lojas mais importantes da cidade, hoje parece o centro deteriorado de uma capital centenária. #Sóquenão. Como apodreceu tão rápido? Em menos de 50 anos já entrou em decadência.  Na infância, cruzava diuturnamente a W3 Sul com mamãe no fusquinha azul diamante. Os nomes das lojas foram essenciais em meu processo de alfabetização, impelindo-me a aprender a ler com rapidez para acompanhar a velocidade do carro.  Nasci e cresci vivendo ao lado da W3 Sul. Ela faz parte da minha história por ene motivos que dariam outros tantos textos. Há alguns anos, voltei a ser vizinha da avenida e sempre dou um jeito de prestigiar o que resta de atividade comercial nela. Mescla de saudosismo e comodidade, pois posso deixar o carro e seguir a pé, um alívio para quem detesta dirigir.  Então fomos, o caçula e eu, pela W3 afora. Na 505 Sul,

Aprendizagem tudo ao mesmo tempo agora

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Conecte-se com o professor George Siemens e conheça sua teoria sobre compartilhamento de saberes na era digital  “Antes mundo era pequeno Porque Terra era grande Hoje mundo é muito grande Porque Terra é pequena...” (Gilberto Gil em Parabolicamará) Internet na velocidade 4G e conexões sem fronteiras alardeiam as campanhas publicitárias. Aldeia global, afirmam os pensadores. O fato é que nunca na história das civilizações as pessoas e os países estiveram tão interligados simultaneamente, ainda que distantes por milhares de quilômetros físicos e ideológicos.  A conectividade é nova ordem mundial. Ao menos para os habitantes das áreas urbanas do planeta. Entretanto, os estudos sistematizados sobre os impactos desse fenômeno social avassalador são bastante recentes. Os debates acadêmicos se intensificaram na última década. Muito tem se falado sobre a fluidez do conhecimento na Educação contemporânea e um dos nomes que despontam nessa área é o do canadense Geo

O golpe da blattodea

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Todas as certezas, todas as dignidades, todos os orgulhosos e toda a autoconfiança desaparecem de imediato quando ela se depara com a barata. Principalmente quando o encontro, inesperado e inóspito se dá no refúgio mais íntimo de sua casa, dentro da suíte do casal, passeando soberana sobre a bancada de mármore crema royal.  Terá a barata galgado a escova de dentes? Quantas tampas de seus cremes faciais? Os batons? Ela abriu a porta do banheiro exaurida de mais um dia de batalha em sua rotina atribulada com dois filhos sem pai, que saiu em viagem de negócios. Do lado de fora do seu reino, o país também fervilhava em acusações, delações, escutas, bravatas, buzinas e panelas.  Já passava das 11 da noite. Era hora de um banho morno para acalmar os ânimos e os músculos. Mas ao chegar à porta, a visão da barata! Imensa, mais antenada do que ela com o pulsar da vida, passeando calmamente sobre a bancada de mármore noisette iria cream.  Recuou em grito estridente. Pu

Causo de Quaresma

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Fique calma, não olhe agora, não ponha o pé no chão, mas ele está embaixo da cama!  Quaresma é tempo de recontar causos que minam das ruas translúcidas, habitat natural das assombrações centenárias das cidades mineiras. Era nossa primeira vez em Sabará. A noite caía quando avistamos, um pouco isolado na paisagem, o casarão. Solar dos Sepúlvedas era o nome do lugar que fora batizado a contento. Imponente morada caiada de contornos azuis.  Tem certeza de que estamos na pousada certa? Senti um desconforto ancestral de estar adentrando um caminho para o qual não haveria retorno. Ao pé da escada que terminava na imensa porta colonial, uma figura longínqua nos espreitava, ladeada por dois enormes cães dos Baskervilles.  Não vou descer do carro não, avisei. Todavia, meu marido não era de acreditar em Carontes. São apenas dois ruskys siberianos, falou, encerrando o assunto para correr ao porta-malas. Demorei a arredar o pé, hipnotizada pelos faiscantes olhos água-marin

Nos Prelos

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Uma biblioteca, por menor que seja, esconde redescobertas. Em meio ao plácido aglomerado de lombadas coloridas, fontes diversas e tamanhos desencontrados, os títulos se perdem e se acham a cada nova mirada.  Como manter as estantes organizadas sem ser bibliotecária? Tentei separar por gêneros: poesia, autores brasileiros, autores de língua espanhola, livros em inglês, HQs, literatura infanto-juvenil... Mas qualquer imposição se queda falsa, pois os livros são dinâmicos e pouco a pouco vão mudando de lugar como se tivessem vida própria.  Imagino aquelas bibliotecas gigantes dos verdadeiros bibliógrafos. Se tornariam barafundas impenetráveis se não há alguém capaz de conduzir o minimalista arranjo diário de afagar os egos das grandes obras que, com certeza, sempre se impõem aos mais recatados volumes.  Procurando sugestões de leitura para o filho primogênito, que já consumiu toda a tal literatura infanto-juvenil disponível nas prateleiras de casa, acionei olhos de