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Mostrando postagens de fevereiro, 2022

Persistência

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Obra de Tatiana Clauzet Um homem cospe no chão em Brasília e a guerra estoura na Ucrânia. Efeito da anacrônica borboleta macho Quando o planeta será fêmea? Yang não é amor-perfeito, todavia mais flexível, afeito à via do meio. Preferia a cidade vazia, debaixo de pés solitários, silente ao escrutínio das minhas incursões. Agora reaprendo a compartilhá-la com quem cospe no chão, faz xixi de frente ao muro, caminha com máscaras no queixo, deambula como pombos sem ninho. Os homens são intrinsecamente sós. Guerreiam contra seus demônios nos embates da masculinidade. Às mulheres nos cabem a persistência (alfabetizar os alfas) na cartilha gregária da existência.

Variações sobre o mesmo tema

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jabuti não sobe em árvore jabuticaba dá no pé  já botei flor no cabelo pra ganhar um cafuné Vizinha, adeus! Amanhã você deixar de fazer parte da nossa vida. Você está doente, velhinha. A morte assistida para as árvores não é ilegal. Obrigada pela vista exuberante que tivemos por todos esses anos. Nos entendemos tão bem desde 2006! Sei que às vezes eu reclamava que o apartamento podia ser mais claro. Agora vai ser uma ausência esquisita, um oco... Vou precisar de cortinas? Já vejo o prédio do outro lado da rua, na outra quadra. Estranho. Como diz Caetano, quem sabe a gente se encontre num outro nível de vínculo? Tempo, tempo, tempo, tempo... lusco-fusco crepúsculo: verão outonal  no Distrito Federal

Vulcânico

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A música de Villa-Lobos é cachoeira, passarada, é céu azul em sol nascente, é noite de lua nova e  estrelas, é floresta e cerrado, é princípio sem fim de um enorme desejo de encontrar no canto a nossa redenção. Fabiano Canosa Passei dez dias no eixo Rio e São Paulo. Foi a segunda vez que curti esta experiência: sair de Sampa rumo à Cidade Maravilhosa. É interessante enxergar as diferenças gritantes entre as duas maiores metrópoles brasileiras, pois elas ultrapassam, é óbvio, as paisagens urbanas diversas de cada uma. Acho que a praia dá mesmo uma leveza ao Rio impossível de se encontrar em São Paulo. São Paulo não é turística como o Rio, claro, mas confesso que me sinto menos otária andando nas ruas paulistanas. Na cidade maravilhosa, todo mundo parece a fim de ser mais esperto do que você. E o mais engraçado: não é. Essa não parece ser uma impressão só minha. Reclamava com uma amiga sobre a questão na parada de ônibus, no Cosme Velho, quando uma turma de mulheres turistas entrou na co

Mold

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O sol está pálido como a lua.  Dia que não sabe se é noite. Os pássaros se confundem,  não fazem arruaça. Os cães querem logo voltar para casa.  Venta frio e crepitam as articulações. Fáscias esgarçam como teias  enquanto o coração  (sem uso) exala mofo.

Voçorocas

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Sempre queremos o melhor entre dois mundos possíveis, quiçá, impossíveis. A natureza humana é egocêntrica, como se tivéssemos o direito de exigir além dos 100% que nos cabe. Esperamos mais e mais dos outros, dos relacionamentos, da Terra. Sugamos, sugamos, sugamos com uma fome infinita de tudo que nos faça apenas cócegas e cafunés. Não queremos a pandemia, mas a rua vazia de carros, sim. Não queremos o isolamento, mas o trabalho remoto, sim. Não queremos nos contaminar, mas adoramos “esquecer” das máscaras, a nova burca. Não aguentamos os filhos em aulas-remoto, mas não queremos valorizar a Educação feita de professores de carne e ossos. Não pretendemos acabar com água no planeta, mas não abrimos mão de nossos banhos de 40 minutos. Não suportamos ser importunados por pedintes em nossos momentos de lazer, mas nada fazemos para diminuir o privilégio branco, a desigualdade social abissal que nos esbofeteia todos os dias. Estufamos o peito para falar de nossas florestas, mas permitimos que