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Mostrando postagens de março, 2011

Iluminismo

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O trajeto é o mesmo, rotina quase cegante para o belo. Mas quase não é totalmente, ainda bem, e ao sair do buraco da garagem, do lúgubre escuro do subsolo rumo à claridade, ela própria, com todo o seu esplendor natural, me jogou seu flash de encantamento: nossa, o céu de Brasília é realmente de embasbacar! A foto não é do mesmo dia, mas exemplifica A cidade pode estar mais feia, maltratada, mais lotada, mais violenta, entretanto o céu de Brasília ainda não pertence apenas aos voos rasantes do helicóptero da Polícia Militar e nunca vai ser arranhado por algum edifício de mau gosto pós-contemporâneo. Graças à Unesco, estamos tombados. O Plano Piloto deitado eternamente em berço esplêndido de verde, espaço, luz, horizonte. (I hope so...) Essa tonalidade verde-Brasília é qualidade de vida Morar dentro do Plano Piloto é um bálsamo. Quem vive aqui sabe. Basta uma caminhada besta para se deparar com florestas, gorjeios de sabiás. Isabel, habitante da Octogonal de passagem pela Asa Norte

Jesus e outros amigos

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E, quando os apóstolos lhe mostraram a magnífica estrutura do Templo (de Jerusalém), disse Jesus: "Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada."(Mateus, 23:37-39 e 24:1-2) Guardada as devidas proporções, tenho a impressão de que Bernardo está chocado com a destruição do templo dele. Sua toca, seu refúgio. O apartamento 306 da 303 sul é destruição, pó, cenário bombardeado pelo rigor das marretas, pela fúria rápida da destruição. Em um dia, metade da minha casa tinha parado não chão. Desmoronar é fácil mesmo. Empalidece.  Nossa sala era assim... Mas meu marido é canceriano, apegado às tradições, ao lar. Além disso, é um número cinco do Eneagrama, o que faz dele uma pessoa que gosta de manter tudo sob controle. E uma obra, à primeira vista, parece qualquer coisa, menos controlada. Tudo o que podemos apreciar é o movimento caótico de tijolos partidos, cerâmicas quebradas e pedaços de madeira.  Agora está assim

Viva a pacificação!!!

Uma amiga querida me pediu que debatesse nesse espaço o uso das tais "coleiras" para crianças. Essas que agora começam a aportar no Brasil em forma de mochilas que podem ser presas na meninada, com um cordinha que, por sua vez, fica presa no braço do adulto responsável. Ultimamente, não ando comprando briga, uma versão lightLu, tão pouco afeita aos conflitos... Mas, vamos lá, porque o assunto é interessante. Sinceramente, não vejo o porquê de qualquer polêmica em torno do tema. O que é que tem? Não existe cachorro sendo tratado como criança? Então, a recíproca também pode dar pé, why not? Brincadeiras à parte, realmente não vejo tanto mal assim em ter sob controle a sua criança peralta. Aquela que vive deixando você de cabelo em pé a cada saída no meio da multidão. A "coleira" é um instrumento prático e aliviador de estresse para  pais já neuróticos  com tantos afazeres concomitantes. Claro que o equilíbrio no uso é importante. Cê não vai sair com seu filho &quo

Menos barroca, mais contemporânea

Alguém aí tem um desempenador de gente? Dá para emprestar? Devolvo quando puder... E se minhas costas destruídas permitirem. Pois é, mudei para o meu acampamento. Estou me sentindo quase como uma candanga, vivendo sob condições adversas para erguer um sonho a partir do zero. Nossa, agora esse texto está digno de um Pulitzer, vamos combinar... Aliás, não dá para combinar nada por enquanto. Trecho interditado para reformas. Garota, interrompida. Desculpe o meu transtorno, mas é isso aí. Tô lá, rodeada de caixas por todos os lados. Uma ilha em forma de apartamento de 40 anos, original, como se Brasília tivesse sido inaugurada ontem. Como se fosse uma pioneira chegando de mala e cuia em busca de uma vida melhor para a família. Mudar para esse apê foi o verdadeiro túnel do tempo. Recordei a infância, quando morava numa casa-cortiço da 715 sul, mas sonhava com prédio de seis andares ("E você passa de noite e sempre vê apartamentos acesos"). Renatinho Russo, que também morou nesse

O primeiro beijo dela

Recebo da minha amiga o relato entusiasmado e assustado sobre o primeiro beijo da filha. Filha que eu conheci criancinha, meiguinha, tímida de olhos imensos, capazes de sorver o mundo, assim como os da mãe. A menina, quem diria, já não é mais uma boneca de colo. "Ela só quer, só pensa em namorar..." Emoção conflituosa essa... Sentir no peito que o filho está no seu caminho sem volta rumo à liberdade de escolha. Minha amiga está encantada e aterrorizada e com razão. Preocupada e deslumbrada com todo o direito. E se o menino for um panaca e ferir os sentimentos da filha? E se ela transar e engravidar? E se agora ela resolve que a vida é beijar na boca de vários caras diferentes toda a semana? E se? E se? E se?... Tentei acalmá-la vendo lado o positivo da situação (logo eu, uma versão dark da Pollyana). Minha amada amiga de infância está vendo a infância da filha ir embora e precisava de consolo. Veja que coisa legal: ela tem uma garota que vai repartir essas intimidades com

Ora bolas!

Como o mundo é pequeno e redondo e o símbolo do infinito é esse oito que vai e vem e vem e vai, que nem aquele brinquedo que não por acaso se chamava vai e vem e era uma eterna alegria. Enquanto a natureza demonstra sua face mais inescrupulosa lá no Japão, a gente aqui, nessa bola que flutua no céu e gira, gira, gira e vê e revê e descobre as voltas que a vida dá para ser sempre constante e perfeita, apesar dos tsunamis e tragédias. Estou parecendo uma maluca, mas é que o pensamento tá assim mesmo, embolado. São as eternas idas e vindas do SIA. Para quem não mora em Brasília – e eu já percebi que tem gente me lendo lá no Alaska e agora também na Rússia (provavelmente na Sibéria, onde não se encontram muitas distrações além daquela de chupar picolé de gelo 365 dias por ano) SIA significa Setor de Indústrias e Abastecimento, ou mais vulgarmente conhecido como “setor das lojas de material de construção”. “Cuidado com o que você deseja”, nos disse uma vez o diabinho simpático ou seria

Varre, varre, varre, tesourinha...

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Primos prontos para foliar Sobreviveram ao Carnaval? Eu sim, com a alma lavada de ter colocado a minha fantasia legítima by Recife e sair me pirulitando no Galinho de Brasília. Não dá mais para repisar o clichê de que todo mundo some da capital do país no feriadão do rei Momo. Brasília cresceu e a falta de carnaval já não é a mesma, ainda bem. Há bastante opção para cair na folia. Não tão famosas e efervescentes, mas já me dei por satisfeita em pular ao som do frevo ao vivo na lata do ouvido. Alguns anos antes mais surda, porém, mais feliz. A pé, em marcha, avante rumo à folia de daqui a pouco E quem não tem ladeira, se vira com tesourinha. Uma loulouloucura quando o trenzinho do Galinho passa embaixo do viaduto. A multidão se espreme, o trem se lança na subida com carga total, o túnel amplifica o som dos trompetes, saxofones e tubas. A ovação é geral. Fui resgatada por um galante passante que enlaçou minha cintura e disse com jeitinho: "Cuidado!" Carnaval é isso: traq

Olhar fatal

“E ai ela cisma de voltar...” Engraçada as associações que o baú da mente faz. Também, imagina o tanto de tralha que fica guardada no meu: bilhete em guardanapo, declaração de amor em agenda do colegial, primeiro beijo na boca, primeira vez que a menstruação vazou, manchou minha calça jeans aqui-não-passa-nem-pensamento e eu pedi o casaco da melhor amiga para amarrar na cintura e esconder o vexame... E aí, quando começo a escrever, a primeira coisa que me vem à cabeça é essa música do Francis Hime, tão velhinha, na voz do Chico. Nem gosto tanto dela, mas ela tá lá, no meu baú, porque o baú da Lulu é eclético. Pois é, eu cismei de fazer um retorno triunfal ao visceral mundo da academia de ginástica. Depois de uns 15 anos, decidi voltar à tirania da boa forma. Aquela que um dia eu tive, nos áureos tempos do balé e dos 18 aninhos... Bundinha pra cima, cinturinha 65 cm, zero quilômetro... Aí rolam as pedras, os filhos, as perdas, o acidente de bike e percebo que perdi “toda alegria de f

Hipnose

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Cinco minutos foi o que ela conseguiu para o encontro íntimo com o mar. As ondas quebravam sem piedade sobre o lombo da areia. Pensamentos navegaram alhures. Quase se esqueceu de si mesma. Momento de perfeição craquelado pelo apelo do pequeno: "Você falou que ia lá no parque..." Falou, verdade, mas se perdeu da promessa, atraída que estava pela cantinela rouca e úmida do oceano. Nos fugazes segundos em que estabeleceu a comunhão com a água salgada, mirando a arrebentação e o horizonte deserto, teve orgulho de não precisar de ninguém. Nem de caneta, email ou blog para existir. Ainda era quem era, afinal. Onírica por natureza. Assim fica fácil acreditar na existência de Deus Chacoalhada de seu transe, percorreu a trilha cimentada rumo à algazarra das crianças na piscina. Seria preciso um caderno rosa, uma escada de madeira e muitas palavras para guardar para sempre o gosto ardido do breve refúgio que desfrutara. Às mães, não cabem ignorar. Como não devanear num l

Visse?

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Há anos venho alimentando a vontade de conhecer Recife e Olinda. Cidades ligadas a tanta gente bacana: Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto, Chico Science, Lenine, Antônio Nóbrega, Cristovam Buarque, Francisco Brennand... No meu imaginário, essas cidades-irmãs sempre ocuparam um lugar de destaque. Só podiam ser muito especiais, celeiros febris do que de melhor a cultura brasileira pode produzir. Como toda grande expectativa traz o seu contrário, a frustração, não poderia ter sido diferente dessa vez. Recife assusta um pouco. É feia. Caótica. Apocalíptica. "Da lama ao caos, do caos à lama, o homem roubado nunca se engana". Sei, eu já sabia que não podia ser bonita a Veneza brasileira devassada por Chico Science (ô, como faz falta!). Mas, ao vivo, a gente fica ainda mais estarrecida. É ruína pra todo lado, parece que todo o Recife antigo e a tal ilha de Santo Antônio são apenas a sombra de algo que já foi pulsante. E mete medo ficar de bobeira por ali. Não me senti confo