Raios me partam!

Às vezes reflito sobre qual referência cultural pop meus filhos irão se apegar quando crescer. Nós, geração X, passamos a infância toda animados por, digamos, uns cinco ou seis heróis. Corrijam-me, se tiver enganada, mas o lance era Batman, Superhomem, Homem-Aranha, As Panteras, o Homem de Seis Milhões de Dólares, Sítio do Pica-Pau Amarelo e... Devo estar esquecendo algum (provavelmente porque não foi tão marcante para mim).

Agora, são dezenas, centenas. Todo dia explode alguma nova mania. Essa criançada nem tem tempo de assimilar as peripécias do supermegablaster do momento e, plim, surge um concorrente na velocidade da luz. É muita informação. É volatividade assustadora.

É tanto herói que a gente começa a confundir o superpoder de um com o do outro. Qual deles sobrará na memória afetiva dos pequenos? Ben 10? Backugan? Gormits? Power Rangers? Buzz Lightyear? Ou quando forem adultos ainda falarão dos mesmos eternos preferidos das gerações anteriores, todos coexistindo ao "mesmo tempo agora" (Os Titãs nunca foram tão proféticos).

Ontem eu fui conferir o filme Thor. Além de ficar pensando nos motivos que levaram a Luma de Oliveira a batizar seus dois filhos como Thor e Odin (capaz de ter sido escolha do Eike Batista, que curtia a lenda na infância e parece ser inteligente o bastante para conhecer essa lenda na infância. Ô maldade!), eu também me vi ali, revivendo essa mitologia que passou por mim e deixou suas marcas. Não que eu fosse fã, mas me lembro bem do desenho do menino loiro com aquele martelão na mão...

O longa é bem bacana! Kenneth Branagh temperou a direção com a verve shakespereana de sempre. Se não fosse assim, talvez o filme descambasse para a aventura repleta de efeitos especiais que a gente já está bocejando de ver por aí, mas não foi o caso. Rolou uma profundidade interessante de Hamlet e outras referências do Bardo. A plateia pode apreciar, entre um raio e outro, o clássico dos clássicos dilemas humanos: a necessidade de aprovação do pai e de que até que ponto um filho é capaz de ir ou não ir por causa disso.

Eu não vi 3D. Não curto esse lance de 3D por ser cegueta e não me sentir confortável com dois óculos na cara.;) Mas achei melhor assim. A gente presta mais atenção na história e menos nos efeitos. A trilha é 10!! O Thor é 1000! Que Deus nórdico é aquele, hein? Chris Hemsworth fuzila os corações femininos. O cara é bonito e faz bonito como deus do trovão. É a encarnação de Thor. 100% de aproveitamento.

Há também a graça da Natalie Portman sendo só graciosa e a imponência de Anthony Hopkins no papel de Odin. Creio que só um Sir como ele tem a força para (talvez Ian McKellen também desse conta do recado) emitir o brilho austero capaz de legitimar a profunda reverência que a personagem Odin evoca.

Estranho em tudo isso foi ver a Rene Russo, la femme fatal nos idos tempos de Máquina Mortífera e Thomas Crown, no papel da matriarca, como eu, encravada num universo totalmente masculino. Papel não, tava mais para figuração, coitada. Triste ver na tela a discriminação contra a mulher velha. E a Rene ainda nem está na terceira idade!

Não há personagens significativos para as atrizes depois dos 40. Em compensação, ainda há espaço de sobra para atores idosos mostrar vigor e talento até em filmes de ação. No mínimo, uma baita sacanagem!

E mais estranho ainda era estar no cinema com o meu marido em plena terça-feira à noite. Isso sim é uma martelada na rotina! Ao infinito e além!



Falando em ícones da vida da gente, olha aí uma pedida imperdível:

Woody Allen abre Cannes com o delicioso 'Meia noite em Paris' (jornal O Globo):



Foi com o delicioso "Meia noite em Paris" que Woody Allen abriu a 64ª edição do Festival de Cannes. Aplaudido pela crítica, que assistiu ao filme em uma sessão fechada para a imprensa na manhã desta quarta-feira, o longa traz Owen Wilson como Gil, um escritor e roteirista que é noivo da insuportável Inez, interpretada por Rachel McAdams.
Com bastante vinho na cabeça e um vazio no coração, Gil vaga pela noite de Paris até entrar num carro antigo que o transporta para uma outra época, povoada por personalidades da literatura, das artes plásticas e da música que ganharam notoriedade a partir dos anos 1920. Nomes como Picasso, Hemingway e Scott Fitzgerald cruzam o caminho de Gil, com direito a uma conversa "surrealista" com Salvador Dalí, interpretado por Adrien Brody, de "O pianista".
- Tentei trazer os ícones da minha adolescência e dos primeiros anos da minha vida adulta - contou Allen. que encontrou em Wilson um talento à altura de viver seu personagem-modelo. - Havia visto um filme com Owen e Rachem McAdams ("Penetras bons de bico", de 2005) e não seria bom ter os dois juntos de novo. Mas eu queria muito trabalhar com Rachel e Owen era perfeito.
Desde "Matchpoint", Woddy Allen não fazia um filme de visual tão requintado. A intimidade do cineasta com Darius Khondji, o diretor de fotografia do longa, resultou numa Paris idílica e de cores quentes.
"Meia noite em Paris", que estreia no Brasil no dia 17 de junho, abriu com leveza o festival, que na quinta-feira dá o pontapé inicial em sua mostra competitiva com o violento "We need to talk about Kevin", sobre um massacre de jovens em ambiente escolar.

Comentários

  1. É, Luciana, eu queria discordar da sua colocação. Queria dizer que era só você dando vazão ao seu impulso feminista.

    Mas, infelizmente, situações como a de Meryl Streep, que só depois dos 60 conheceu sucesso comercial (de crítica, sempre foi unânimidade, mas nunca fez grandes bilheterias) são uma exceção.

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  2. Caro anônimo,

    o blogspot ficou fora do ar quase o dia todo e eu nem pude responder ao seu comentário... Não sou feminista, apenas feminina.;)

    Mas a diva Streep já era famosa antes dos 60 anos... Muito antes. E ela é ainda uma das poucas que consegue papéis relevantes na terceira idade. Já pensou se fosse outra na pele do "Diabo Veste Prada"? O filme seria muito sem graça.

    Abraços,

    Lulupisces.

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