O mundo todo dentro de mim

Eu amo São Paulo. Para quem me lê desde sempre não há nenhuma novidade nessa afirmação. Mas, como diria o ludibriado John Malkovich no intenso e belo Ligações Perigosas: "it's beyond my control".

Toda vez que vou à Sampa eu descubro que, apesar de amar um mato, não viver sem banho de cachoeira e cheiro de terra batida, eu tenho alma urbanóide, cosmopolita. São Paulo me enfeitiça, me atiça. Me faz querer sempre mais, tipo um vício em coisas supimpas, sabe? E a cidade não deixa por menos: tá sempre disposta a me fornecer drogas lícitas alucinantes.

Fiz um viagem-relâmpago para a terra da garoa, que estava friazinha, com cara de Europa. Já é meio caminho andado para me sentir confortável, embalada pelos melhores sentimentos. Rever meus amigos Elisabeth e Thoróh e seu trio de peraltas nunca é demais. Um encontro de almas similares, de afagos sinceros, de pessoas "diferenciadas", para usar o "adjetivo" da moda no bairro de Higienópolis, aquele mesmo em que alguns obtusos acreditam ser o metrô um sinal de involução.

Poizé, estava ali novamente, perambulando por aquelas ruas tão acolhedoras. Não consigo enxergar São Paulo como um lugar ameaçador. Aliás, só na linha Norte e Sul do metrô, devo admitir. Está mesmo inviável pegar o trem subterrâneo nesse sentido. A cidade precisa, para ontem, aumentar sua malha ferroviária de tatu-minhoca. Mais uma vez fui cuspida para dentro e cuspida para fora do vagão, com o meu cachecol prendendo no botão do casaco alheio. Por um triz não fui enforcada por um metrô lotado.

No mais, São Paulo é puro deleite. Afinal, em que cidade a gente consegue gastar 58 reais numa padaria? É tanta guloseima imperdível que o café da manhã se transforma em brunch. Recomendo uma visita à Barcelona. Não, não precisa atravessar o Atlântico. Basta aportar na Praça Vilaboim, do ladinho da FAAP. A padaria Barcelona é o que há! Tem um pão alemão divino! E um brownie suculento e, e, e... Êta 58 reais bem gastos, viu?

Falando em FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), uma visita à tradicional e imponente faculdade de Artes e correlatos é parada para os que apreciam o bom gosto. O prédio, em si, já vale uma namorada. E as exposições organizadas/patrocinadas pela instituição desmonstram a incrível vitalidade da Paulicéia. Já vi muita coisa apaixonante por lá e não poderia perder, é claro, a mais nova atração: "Os anos Grace Kelly".

Já na entrada, um banner gigantesco nos laça definitivamente: Grace magnífica em foto preto-e-branco. A trajetória da menina míope (like me, veja que fofo), que teve vida de princesa antes e depois de se tornar uma de fato. Um must a exposição de fotos familiares, cartazes de cinema, fotografias, cartas de Hitch (Alfred Hitchcock para os íntimos como ela)... A sereníssima de Mônaco teve uma vida fulgurante! Rodeada de amigos básicos como Maria Callas, Rudolph Nureyeve, Onassis, Ava Gardner, Frank Sinatra...

Grace era uma graça sem igual. Nunca um nome casou tão perfeito com a bealdade nomeada. E os filminhos dos próprios filhos que ela fazia? Um doce de côco! E os vestidos majestosos da rainha do baile? Christian Dior, Balanceaga e muitos outros estilistas podem ser conferidos nas criações exclusivas para o corpinho alto (ela tinha 1.79m) e magérrimo da princesa.

Mais de uma dezena de modelos deslumbrantes rodopiando no salão... Sem contar a réplica (o original foi doado para o Museu da Filadélfia, terra natal da filha ilustre) do famoso vestido de noiva que dizem ter inspirado Kate Middleton a criar o dela. "Os anos Grace Kelly" nos transportam para esse universo fantasioso que, por incrível que pareça, foi real para aquelas pessoas. Um retorno nostálgico à inesquecível aura mítica e dourada da década de 50.

Mas eu estava em São Paulo por outros motivos. Era preciso comprar os apetrechos luminosos para o novo-velho apê. Lá fomos nós de novo para a rua da Consolação. Só que, dessa vez, com direito a uma passadinha no cemitério de mesmo nome.

Apesar de ter morado em Sampa e já haver cruzado a porta da necrópole diversas vezes, nunca tinha me metido por lá. Um barato! Cada estátua de anjo mais linda que a outra! Moças esvoaçantes, etéreas velando as tumbas... É preciso não deixar o ente amado sozinho na eternidade, não é mesmo? Lugar imponente, reflexivo. A história de São Paulo pode ser lida nos nomes das famílias nobres que construíram a pujança da cidade. Senti falta da minha Canon...

Compramos tudo. Nossa casa vai ganhar uma iluminação com a nossa cara: "quente", como bem avaliou a vendedora Renata, um primor de atendimento que só São Paulo costuma oferecer. O meu xodó fica, desde já, para o escolhido para a copa: ar retrô e peça beirando a exclusividade. Nunca pensei que pudesse me apaixonar por um pendente. Embirutastes? Pode ser, mas fica a dica para quem quer encontrar todo tipo de luz, das rústicas às mais vistosas: Shopping dos Lustres.

Para terminar, um passeio matinal na Praça Buenos Aires... Seus casais descoladinhos e filhos idem, emcapotados pelo frio paulistano... Parar na banca e ali se perder em meio a tanta diversidade de revistas e afins. Caminhar, cruzar a Av. Angélica. Ver gente paulistana em sua elegância de rua. Ser anônima, ser plural, ser sozinha, indivíduo. São Paulo é o mundo todo dentro de mim.

Comentários

  1. Oi Luciana,

    Eu tambem adoro Sao Paulo! Comecei a gostar de Sao Paulo na mesma epoca que o Ingles comecou a me interessar. Tinha 15 anos. Depois mais velha me menti para quase todos os cantos de Sao Paulo para fazer entrevistas e selecoes nas agencias. Nunca tive medo de Sao Paulo, mesmo andando nas avenidas largas e distante do centro, tarde da noite eu me sentia bem, viva e parte do mundo. Adoro Sao Paulo!!! Obrigada pelo texto!

    Beijos,

    Evelyn

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  2. Ah, garota, tb senti falta da sua canon... puxa, queria ver os tais vestidos, te acompanhar pelas histórias do cemitério (...), enfim matar um pouquinho da saudade de São Paulo através dos seus olhos. Só não ia poder saciar a falta que a cidade faz na boca e na barriga... quando vc falou da praça Buenos Aires lembrei de uma pizzaria que tem lá que eu adoro: a Vicapota. Ô dóóóó...
    Beijinhos e obrigada
    Isa

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  3. Show o texto de hoje, Lu. Gosto de todos, vc sabe, mas sempre aproveito para comentar os que me tocam em especial.
    As impressões que eu tenho sobre SP, cidade que tb acho incrível, são bem parecidas com as que vc mencionou.

    Super beijo, amiga!

    Hylda.

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  4. Quase ia dizendo que um dia ainda irei a São Paulo, mas, esqueci que já fui, "a lôca"!!! rs. Foi tão rápido, mas foi bom... fiquei por ali no bairro da Aclimação, visitei o lindo parque de mesmo nome, num belo dia de sol. Fui a um café chic, olhei vitrines e passei de carro por suas largas avenidas . Quero voltaaaaar!

    Beijos,

    Patty

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  5. Amada Pattygirl,

    Olha só a coincidência: eu morei no bairro da Aclimação quando vivi em Sampa. Adorava passear no "lindo" parque que você conheceu. Meu apê de 1 quarto ficava na rua José Getúlio, em um prédio que tinha um quadro de azulejos da Carmem Miranda.

    Tempos legais aqueles... Meu primeiro ano de casamento, um amor e uma cabana... Nem telefone a gente tinha. E compras de supermercado a gente fazia de ônibus... E só pegava programa gratuito e levava a pipoca pronta, acredita?:)

    Beijão,

    Luzinha.

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