O amor não dito

A gente sabe que o Dia das Mães é só uma data comercial. Assim como os outros dias celebrados por aí. Mas a gente também sabe que não é possível ficar indiferente aos apelos... Não dos produtos e das compras, mas do sentimento.

Acho meio bobo quem joga com esse argumento de que Natal se transformou em consumo, Páscoa em consumo, Dia das Mães em consumo... Parece discurso panfletário de secundarista. É claro que tem o seu valor (ser ingênuo e protestar com verdade no coração).

Gritar contra a opressão capitalista faz bem para a humanidade. Entretanto é preciso enxergar na totalidade. Essas datas ajudam a aquecer o comércio do mesmo tamanho que ajudam a aquecer os laços familiares.

É a desculpa ideal para ser piegas e escrever aquele cartãozinho de amor derretido para a sua mãe. Ou de fazer as pazes com o pai... De reencontrar todos em volta da mesa... Comer, rezar, amar e ser abraçado e abraçar. Deixar-se levar pela docilidade da vida.

No meio de contas velhas, carnês variados, documentos, retratos de 3x4 pessoais e dos filhos, e outras miçangas da minha mãe, dormiam vários cartões de Dia das Mães que eu lhe dei ao longo da nossa caminhada juntas. Eu ali, mexendo na intimidade dela, tentando recapturar a essência daquela mulher-lua...

Ela tinha guardado meus presentes, que coisa maternal! Reli um por um: com letrinhas de criança, de adolescente, de mulher. E neles sempre o mesmo sentimento: nada é melhor do que ter mãe para a gente poder escrever um cartão pra ela.

Com a proximidade do Dia das Mães sinto o peito dar uma pontada aguda. Não tenho mais que me esforçar para ser criativa e comprar algo que "nunca dei" para minha mãe. Que pena! Vou transferir a necessidade de amar como filha para a irmã mais velha, para a tia-quase-mãe. Sabendo que vou causar ciúmes nos filhos delas (quem é besta de aceitar sem briga dividir mãe, né?). Mas é a saída para continuar vivendo com todo esse amor que não cabe em si.

Com a proximidade do Dia das Mães me vejo com saudades dos meus filhos que já não são mais bebês. Ser mãe é sinônimo de nostalgia. Dou um pulo no berçário do STJ. Revejo as cuidadoras que me ajudaram a atravessar a aventura radical dos rebentos em seus primeiros 12 meses de vida. Elas perguntam por eles, eu curujo. "Quando volta para cá?", instigam.

Caramba, seria loucura pensar em engravidar pela terceira vez, mas não é que é uma loucura divertida? "Não, não! Nem pensar!" (Mentira, a gente pensa sim, mas racionaliza e administra). Aperto a bochecha deliciosa de uma bebezinha. E aperto meu coração para extrair o cheiro dos meus meninos quando viviam pendurados em mim.

Ontem ganhei do meu mais velho um cartão de Dia das Mães dos muito que ainda espero receber na nossa jornada, que almejo longa, frutífera e repleta de poesia. Vou guardar tudinho, esses garranchos únicos. Quando eu me for, ele vai remexer meus guardados e se deparar com o todo o meu amor não dito.


Comentários

  1. Muito bom, Lu.
    E feliz Dia das Mães pra você! Se bem que eu sou da turma que acha que todo dia é dia das mães, do namorado, dos amigos, mas se é para a gente celebrar mais ainda numa data simbólica, então saiba que admiro muito sua lida maternal! Não tem nada mais nobre, e que exija mais persistência, do que formar os cidadãos de amanhã com valores bacanas, de respeito aos outros.

    Besos

    Débora

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  2. Querida Luciana,
    Mães realmente fazem falta, e a gente não se acostuma com a perda, imagina vc que tinha praticamente duas, sei como esta data é comercial mas que dá uma saudade isso dá né!
    Um beijo grande,
    Joyce

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  3. Oi Luciana,

    pense no lado bom... Você teve mãe por quase quarenta anos para mandar cartões. E ela continua com você. Você somente não está vendo. E a minha que apesar de encarnada nunca esteve comigo?
    Importante é que agora nós podemos dar aos nossos filhos o melhor de nós. A Larissa está animadíssima com o dia das mães. Eu estou ganhando um presente de papel por dia! E vou guardar tudinho também. Acho que vou na Leroy comprar uma daquelas caixas bem bonitas e pedir para ela pintar no domingo. Assim a gente se diverte e eu ainda vou ter uma lugar especial para guardar os presentes da Larissa.

    Feliz Dia das Mães!

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  4. Querida Lu, parabéns mais uma vez, pela sensibilidade na escrita, você me comove, me encanta...sabe inveja boa? é o que sinto...qaundo eu crescer...ah! quero me expressar exatamente como você...beijo grande...paz profunda...Namastê!Feliz dia "nosso"!!!
    Cynthia

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  5. Querida Luzinha

    Que você tenha tido um superamoroso dia das mães! Bom, depois que os filhos crescem e a escola não faz mais festinha das mães ou aqueles cartõezinhos e presentinhos artesanais que as crianças com tanto carinho e orgulho nos entregam, a comemoração vai ficando menos calorosa, mas isso depende do jeito de seu filho ser e/ou da criação que recebeu...eu particularmente não ligo mesmo para datas, mas, enfim, cultura é cultura e está dentro da gente de alguma forma, né?

    Beijos

    Patty

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  6. Feliz dia das mães pra você, esse pra mim é um dia feliz e nostálgico, tive a mesma experiencia que você quando a minha se foi, me deparei com a minha evolução em todos os aspectos, também tenho a história da Mariana guardada como se fosse um lindo tesouro. Todos os anos ainda presenteio a minha doce mãe, compro um ramalhete das flores que ela gostava, coloco no vaso e ofereço pra ela, me faz muito bem.

    Bjs,

    Renata Queiroz

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  7. Feliz Dia das Mães Luciana. Que seu dia seja de muita paz e amor.

    Bjs,

    Cecília Pereira.

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