Guardiãs de sonhos

Quando a gente entra em um ambiente habitado por livros, a sensação é de paz. Altos, baixos, largos, estreitos...Aquela irregularidade espalhada pelas estantes, uma confusão de cores, logotipos, fontes, papéis – mas que não significa desorganização e, sim, riqueza.

A biblioteca é uma caça aos tesouros clássicos, modernos, eruditos, populares, subversivos, comerciais, científicos, técnicos... Sem preconceitos, sem censura.

É preciso se contaminar por esse espírito simultaneamente anárquico e sistemático ao frequentar uma biblioteca. Curiosidade mesclada à concentração é fundamental.

Todas as bibliotecas deveriam ser aconchegantes e amigáveis como a nossa poltrona preferida. E urgente seria que elas – as bibliotecas – oferecessem esses móveis de sentar, refletir, buscar, fazer e encontrar respostas. Porque a importância desse espaço solenemente lúdico está nesses contrastes, nesses paradoxos.

Uma biblioteca é feita por homens imperfeitos que deixam seus legados. Muitas vezes obras-primas, patrimônios mentais das civilizações que se sucedem. A biblioteca é esse grande arquivo-vivo de ideias, filosofias e teorias. É a herança da humanidade em mutação constante.

Amós Oz, escritor israelense, afirmou que, quando criança, queria ser um livro. Quando descobri a leitura, veio logo a gana de escrever e dizia e continuo dizendo: gostaria de parir um livro. Um livro que fosse parar nas prateleiras das bibliotecas de cada biboca do meu país. Não nas estantes dos livros esquecidos, não-lidos, não-folheados, mas naquela onde todos são acolhidos, onde as crianças e adultos podem chegar, olhar, procurar e encontrar o que procuram, respirando o cheiro de papel morno que invade a alma e nos acalenta.

Nunca mais ouviríamos das pessoas sentenças doloridas como a proferida pela diarista Edna Ezequiel, moradora de uma favela carioca: “moço, quem mora no morro não tem sonho”. Porque as bibliotecas seriam as fiéis guardiãs dos nossos processos oníricos, de nossas projeções e expectativas num mundo mais poético, completo.

Os livros seriam nossos irmãos, nossa família e nos levariam pela mão na construção de uma sociedade letrada na sabedoria e não no alfabeto.

É por isso que deposito – ainda que na era da comunicação virtual – minha esperança na biblioteca como espaço de cidadania, de convivência, de transformação. Um recanto que encanta e canta: os males, para ser espantados e jamais repetidos. E os prazeres, para se propagarem no tempo hoje e sempre.

Bibliotecas públicas aceitam doações de livros usados (matéria do Estadão de 13/05/11)

Edison Veiga e Flávia Tavares - O Estado de S.Paulo
 
Maior e mais tradicional biblioteca pública de São Paulo, a Mário de Andrade investiu R$ 123 mil em 2010 na aquisição de novos títulos - no total dos acervos das bibliotecas, a Prefeitura investiu quase R$ 2 milhões. Mas nem tudo o que entra em seus catálogos precisa ser comprado.

Quem quer se desfazer de livros pode procurar as bibliotecas públicas para doar. As obras precisam estar em bom estado - e livres de fungos ou infestação de insetos, que poderiam contaminar toda a biblioteca. Em geral, as instituições recebem o material pessoalmente e fazem uma triagem.
Com a Mário de Andrade, entretanto, o processo é um pouco diferente. Isso "em razão de ser uma das mais procuradas", como informa a administração.
Ali, antes é preciso elaborar a listagem das obras (com título, autor, ano de publicação, edição e editora) e encaminhá-la para bmadesenvcolecoes@prefeitura.sp.gov.br. A mensagem deve ser identificada: nome, sobrenome, cidade e telefone para contato. Em dez dias, a relação é analisada e respondida pela biblioteca. Só então o material aprovado deve ser encaminhado.
Coleção. Assim que o editor e artista gráfico Massao Ohno morreu, no ano passado, sua viúva e amigos passaram a se mexer para que sua biblioteca - cerca de 600 títulos de poesia contemporânea - fosse incorporada pela Mário de Andrade. "Não queria que se transformasse em dinheiro, achava que precisava se tornar público na biblioteca que ele tanto gostava", conta a viúva, Marjorie Sonnenschein.
Outro caso de doação ilustre, um pouco mais antiga, é o da vasta biblioteca de 20 mil volumes do poeta e tradutor Haroldo de Campos, morto em 2003. "A família dele recebeu ofertas para vender para instituições estrangeiras. Mas optou para que permanecesse no Brasil", conta o poeta Frederico Barbosa. Ele se tornou "guardião" do acervo desde 2004, quando a coleção foi doada ao Estado e passou a ficar na Casa das Rosas, na Avenida Paulista.


Comentários

  1. Amo bibliotecas, livrarias e não sei o que é um livro antes de cheirá-lo de olhos fechados... é, também tenho esse hábito "presidencial", não é dona Dilma? Deixe-me entregue a uma confortável poltrona num ambiente cercado de livros e estarei feliz. Me pegará devaneando, olhando para cima, passeando meus olhos por aqueles títulos, cores e formas, como se eu pudesse decifrá-los apenas com o olhar. Meu olhar estará loooooonge, talvez nem eu saiba onde. Quando flagro uma pessoa lendo na rua (cena raríssima)admiro-a no ato e me pego totalmente indiscreta tentando de todos os modos ver o título da obra... passo vexame...rs. Peço licença (poética)rs à pessoa e meto os olhos curiosos mesmo.

    Beijos

    Patty

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